Mudança no BNDES

 

O Estado de São Paulo, n. 44542, 30/09/2015. Opinião, p. A3

 

Discretamente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conseguiu levantar no mercado cerca de R$ 1,5 bilhão com a venda pulverizada, por meio de sua subsidiária BNDESPar, de cerca de 100 milhões de ações da gigante de alimentos JBS. A operação, realizada entre março e setembro, parece parte do programa do banco de venda de ações que detém em empresas privadas por meio da BNDESPar para manter suas linhas de financiamento a projetos privados de desenvolvimento.

É uma mudança notável na sua forma de atuação. Ao longo do governo do PT, o BNDES recebeu centenas de bilhões de reais do Tesouro Nacional, que se somaram aos recursos de que já dispõe normalmente. Por isso, não precisou se preocupar em buscar meios para sustentar seu programa de investimentos, inclusive em empreendimentos que se revelaram nocivos aos interesses dos contribuintes.

A grave crise econômica em que a administração petista mergulhou o País quebrou a capacidade financeira do governo e tornou inviável o generoso programa de repasses de dinheiro para a instituição, forçando-a a reduzir drasticamente seus projetos de financiamento e investimento e a buscar novas fontes de recursos. Uma delas, como parece ter descoberto tardiamente sua direção, é colocar à venda parte de sua carteira de investimentos em 23 setores da economia e mais de 280 empresas (diretamente ou por meio de fundos de investimentos).

É possível que, no curto prazo, a instituição consiga levantar de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, segundo avaliações de operadores do mercado. Só neste semestre, as vendas de ações de empresas privadas em poder da BNDESPar podem render de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões, de acordo com reportagem do Estado. Bem cotadas, as ações da JBS – cuja história está intimamente ligada às políticas adotadas pelo BNDES por imposição dos governos do PT – já mostraram o potencial dessas operações. Outros papéis em poder da BNDESPar que podem atrair investidores são os de empresas de papel e celulose, como Fibria e Suzano.

A participação da BNDESPar no capital dessas empresas é elevada. No caso da JBS, era de 23,19% em julho (a Caixa Econômica Federal detém mais 10% do capital social da empresa) e na Suzano, de 6,85%. Na Fibria, que resultou da fusão entre a Aracruz e a Votorantim Celulose e Papel (VCP), alcança 29,08%.

Mas o banco tem também forte participação no capital da Petrobrás, cujas ações sofreram pesada desvalorização em consequência dos problemas enfrentados pela petrolífera depois de descoberto o esquema bilionário de desvio de seus recursos para partidos e políticos aliados do governo.

Entre seus objetivos, a BNDESPar tem o de apoiar empresas que demonstrem eficiência econômica, tecnológica e de gestão, que deem retorno adequado à aplicação e contribuam para melhorar o desempenho de seu setor e da economia. Também é seu objetivo apoiar empreendimentos que incorporem novas tecnologias e contribuam para o aperfeiçoamento do mercado de capitais e para a democratização do capital das empresas.

A escolha, pela direção do banco nomeada pelo governo do PT, de determinadas empresas nas quais concentrou suas aplicações mostrou erros e, em alguns casos, resultou em perdas para a instituição. Um dos erros mais notórios foi o apoio do banco à fusão, em 2011, de duas empresas do setor de laticínios para constituir o que sua direção chamava de “campeã nacional”, a LBR. Um ano após receber R$ 704 milhões do BNDES para sua constituição, a empresa registrou prejuízo, continuou a ter resultados negativos e entrou com pedido de recuperação judicial.

Há, decerto, ações de boa qualidade na carteira da subsidiária do BNDES. Se vendê-las, o banco não apenas reduzirá sua presença no setor produtivo, como obterá recursos para apoiar empreendimentos privados. Mas esse apoio não pode mais estar sujeito a escolhas políticas.