Correio braziliense, n. 19127, 08/10/2015. Economia, p. 8

Joquim Levy com um pé fora do governo
Crescem, na Esplanada e no Congresso, as apostas sobre a saída do ministro da Fazenda. Dilma quer dar tempo para que o subordinado aprove pelo menos parte do ajuste fiscal que está no Congresso

 Rosana Hessel

São cada vez maiores as apostas sobre a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do governo. Tanto no entorno da presidente Dilma Rousseff, que está mais próxima do impeachment, quanto no Congresso, a demissão do chefe da equipe econômica é vista como questão de tempo. Há quem garanta que ele dê adeus à Esplanada até o fim do ano.

A substituição de Levy só não ocorreu ainda porque Dilma acredita que o subordinado lhe será útil neste momento de grande fragilidade para aprovar pelo menos uma parte do ajuste fiscal antes da virada do ano. Se isso acontecer, no entender da presidente, poderá haver um suspiro de confiança na economia, com reflexos positivos na crise política.

Dilma também não quer que Levy saia do governo com a pecha de derrotado. Ele precisa aprovar alguma coisa do pacote que idealizou para mostrar que não morreu na praia. O ministro anunciou medidas que somam R$ 65 bilhões para cobrir o rombo de R$ 30,5 bilhões previsto no Orçamento de 2016 e fazer superavit primário de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

O Planalto está ciente de que metade desse pacote, representada pela CPMF, com a qual se pretende arrecadar R$ 32 bilhões por ano, só terá condições de passar no Congresso no ano que vem. Mas, para isso, é necessário se criar um ambiente mais favorável na economia. O problema é que, com a derrota de Dilma no Tribunal de Contas da União (TCU), abriu-se uma avenida para o Congresso tripudiar o governo.

A volta da CPMF, que terá alíquota de 0,2%, está prevista por meio de Proposta de Emenda Constitucional (PEC). São necessários, no mínimo, de três a quatro meses de tramitação na Câmara e no Senado. Mesmo que Dilma tivesse se fortalecido com a atual reforma ministerial, que ampliou o poder do PMDB no governo, não haveria tempo hábil.

Para a presidente da Comissão Mista do Orçamento, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), será muito difícil aprovar a CPMF. “Não há aceitação para esse imposto. Tem muita gente na base aliada que, publicamente, até apoia o tributo, mas já está começando a pedir um Plano B”, disse ela, ontem, após encontro com Levy.

Meirelles
Desde que assumiu a cadeira mais cobiçada da Esplanada, Levy virou alvo de integrantes do governo por ser não ser alinhado às ideias do PT, partido de Dilma que defende o desarranjo fiscal. Ele chegou fortalecido, apontando como o homem que daria jeito nas contas públicas e resgataria a confiança em relação ao governo. Aos poucos, porém, foi perdendo força, ao colecionar uma série de derrotas.

Ciente da perda de espaço no governo, o próprio Levy chegou a colocar o cargo à disposição de Dilma. Mas, temendo um agravamento da crise econômica, a presidente acabou por convencê-lo a ficar. Nesse momento, mesmo que timidamente, a petista fez defesa pública do seu ministro.

Mas nem esses gestos da presidente foram suficientes para evitar o rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P). A agência de classificação de risco alegou não ver um compromisso real do governo com o ajuste fiscal, sobretudo depois de o ministro da Fazenda e seu colega do Planejamento, Nelson Barbosa, terem enviado ao Congresso o projeto de orçamento deficitário para 2016.

Enfraquecido, Levy já tem até um potencial sucessor. Durante a reforma ministerial, anunciada por Dilma na semana passada, o ex-presidente Lula tentou, mas não conseguiu, emplacar Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, para o comando da Fazenda. Levy foi salvo pela antipatia que a presidente nutre em relação a Meirelles.

Prazo
Auxiliares de Dilma dizem que não há prazo para a permanência de Levy na Fazenda e ressaltam que ele não jogou a toalha, nem jogará facilmente. Mas quem acompanha o dia a dia do Planalto vê o ministro com um pé fora do governo. Na opinião do economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, em meio à grave crise, não faze o menor sentido substituir Levy.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acredita que, mesmo se Dilma cair, Levy continuará no cargo. No entender dele, ao permanecer no cargo, apesar de todo o tiroteio contra ele, o ministro dá mostras de dever cívico. “Levy percebe a urgência do momento e, mesmo com uma eventual saída da presidente, ele não deve largar o processo do ajuste que tanto defende”, destacou. Procurado, Levy preferiu não comentar o assunto. Ele viajou ontem para Lima, no Peru, para participar de encontro do Fundo Monetário Internacional.