Para conter dólar, BC ofereceu ao mercado R$ 80 bi em menos de um mês

 

CÉLIA FROUFE, VICTOR MARTINS

O Estado de São Paulo, n. 44543, 01/10/2015. Economia, p. B1

 

Desde que voltou a atuar no mercado no início do mês passado por causa da vaivém do dólar e da curta caminhada para atingir a marca de R$ 4,00, o Banco Central já ofereceu cerca de R$ 80 bilhões de recursos novos aos agentes financeiros.

O BC entrou no mercado 12 vezes, desde 8 de setembro, véspera do dia em que o Brasil perdeu o selo de bom pagador da agência Standard & Poor's. Dos US$ 19,5 bilhões que liberou, efetivamente foram fechados negócios no valor de US$ 9,961 bilhões - o resultado de duas operações (US$ 3 bilhões) ainda não foi divulgado.

 

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Essas intervenções foram feitas por meio de contratos de swap cambial, que são operações equivalentes à venda de dólar no mercado futuro, e de leilões de linha, que são contratos de venda de dólar com o compromisso de recompra no futuro. Teoricamente, o primeiro provê proteção a quem negocia em moeda estrangeira e o segundo funciona como uma espécie de "empréstimo" ao oferecer recursos em espécie para honrar negócios, que depois são devolvidos à instituição. Apenas em swaps, a conta está em US$ 4,131 bilhões.

Dois fatores basicamente fazem com que BC e mercado não fechem negócios pelo valor total oferecido. Um é quando não há tanta demanda assim dos investidores por papéis e outro é quando a instituição considera que os preços exigidos pelos investidores estão fora da realidade de mercado.

Ainda que possa haver um caso ou outro isolado, não há como dizer que os investidores pegam dólar emprestado do BC, neste momento, para tirarem suas aplicações do Brasil. Isso porque o fluxo cambial do País em setembro, até o dia 25, está negativo em apenas US$ 172 milhões.

Com a disparada do dólar, o Banco Central tem levado a pior nesses contratos de swap cambial. As perdas com essas operações somaram R$ 44,9 bilhões em setembro até o dia 25. Nesse mesmo período, o dólar teve uma valorização de 9,25%. O resultado negativo é bem maior do que o de agosto, divulgado oficialmente ontem, de R$ 17,2 bilhões.

No ano, as perdas com essas operações já somam R$ 74,3 bilhões para o BC até agosto. Com os dados preliminares de setembro, o prejuízo salta para R$ 119 bilhões. Nessa conta não estão apenas os recursos novos injetados no mês passado, mas também está incluído todo o estoque da instituição, de R$ 380 bilhões.