Correio braziliense, n. 19129, 10/10/2015. Política, p. 2

E a conta que não existia movimentou R$ 32 mi

10/10/2015 - Fonte:  Correio Braziliense - Edição Digital 
 

Eduardo Cunha negou ser proprietário de contas e empresas no exterior, e disse não comentar vazamentos seletivos (Breno Fortes/CB/D.A Press - 24/9/15)

Eduardo Cunha negou ser proprietário de contas e empresas no exterior, e disse não comentar vazamentos seletivos

 

Investigadores do Ministério Público da Confederação (MPC), na Suíça, localizaram pelo menos R$ 32 milhões em depósitos nas quatro contas ligadas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), naquele país europeu. Os valores foram creditados entre 2007 e abril de 2014, um mês depois de a Polícia Federal deflagrara a Operação Lava-Jato, que identificou desvios de dinheiro e superfaturamentos na Petrobras estimados em R$ 19 bilhões. Há ainda mais recursos que entraram nas contas do parlamentar, mas que ainda precisam ser rastreados por investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR), que recebeu documentos do exterior esta semana. 

Em 2011, o deputado recebeu 1,3 milhão de francos suíços (R$ 5 milhões) do lobista do PMDB João Augusto Rezende Henriques, suspeito de pagar propinas no esquema de desvios da Petrobras. O dinheiro caiu na conta da offshore Orion, que pertence ao presidente da Câmara, segundo documentos enviados ao Brasil pela procuradoria suíça. Henriques disse à Polícia Federal que Felipe Diniz, filho do falecido deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), ordenou que fizesse o pagamento a Cunha. Os valores foram creditados três meses depois que a Petrobras pagou US$ 34,5 milhões pela compra dos direitos de exploração de um campo de petróleo em Benin, na costa oeste da África. A Procuradoria-Geral da República (PGR) suspeita que Cunha recebeu parte da propina para se concretizar a negociação da petroleira brasileira no poço petrolífero dos africanos. 

Das contas da Petrobras Oil and Gas BV, o dinheiro seguiu para as contas de empresas de Idalécio de Oliveira, de Henriques e de Cunha, que repassou valores à sua esposa, Cláudia Cruz. Em abril e maio do ano passado, com a revelação da existência da Operação Lava-Jato, Cunha fechou duas das quatro contas. Em 17 de abril deste ano, o banco Julius Baer congelou exatos 2.468.864 de francos suíços (R$ 9,6 milhões). Antes disso, a mulher de Cunha já havia gasto pelo menos US$ 1 milhão em despesas pessoais, como aulas de tênis e de inglês no exterior. 

Eduardo Cunha nega ser o proprietário de qualquer conta no exterior. Por meio de sua assessoria, ele declarou ao Correio que não comentaria sobre as novas informações. Limitou-se a informar que não responde a "vazamentos seletivos". 

Mapa da grana 
Um DVD e um mapa com análises preliminares sobre as movimentações financeiras ligadas a Cunha na Suíça chegaram oficialmente à PGR na quarta-feira por meio de malote diplomático, depois de passar pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça. Com base nos papeis, os procuradores começaram a rastrear a movimentação financeira do deputado e de Henriques. O trabalho completo deve levar cerca de 15 dias. 

De acordo com os documentos, Cunha mantinha três contas na Suíça em nome das offshores Orion SP, Triumph SP e Netherton Investiments Ltda., esta última sediada em Cingapura. Uma quarta conta estava em nome de Cláudia Cruz, que tinha cartão de crédito internacional em conjunto com uma das filhas do casal. 

O deputado pagou, em 2008 e 2010, US$ 514 mil para o escritório Posadas e Vecino, do Uruguai, especialista em montar empresas no exterior. São firmas em que é difícil descobrir o verdadeiro dono e podem estar sediadas em paraísos fiscais, como Cayman e Panamá, por exemplo. Mas, ao abrir as contas na Suíça, o chamado "beneficiário econômico" delas era "Eduardo Cosentino da Cunha". Os documentos incluíam o passaporte diplomático do deputado em pelo menos duas contas. Em uma delas, o endereço do beneficiário era na Barra da Tijuca, onde Cunha mora. 

Delação premiada 
O ministro do STF Teori Zavascki homologou a delação premiada do lobista Fernando "Baiano" Soares, apontado por Júlio Camargo como "sócio oculto" de Eduardo Cunha para receber parte de uma propina total de US$ 40 milhões. Ele prestou 17 depoimentos e fechou o acordo de colaboração após ser condenado a 16 anos de cadeia pelo juiz Sérgio Moro. A partir do dia 18, Baiano deixará uma prisão em Curitiba, cidade onde está detido desde novembro passado, e cumprirá pena domiliciar no Rio de Janeiro.