Valor econômico, v. 16, n. 3926, 20/01/2016. Finanças, p. C1

FMI prevê que PIB do Brasil terá queda de 3,5% neste ano

Juliano Basile

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou, ontem, a primeira edição de 2016 do relatório Panorama Econômico Mundial (WEO, da sigla em inglês) com perspectivas drásticas para o Brasil. A instituição prevê queda de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, e crescimento igual a zero, em 2017, advertindo, dessa maneira, que o país só deverá voltar a crescer a partir de 2018.

Contrariamente ao argumento que o governo vem utilizando nos últimos anos de que o país está enfrentado dificuldades vindas de crises internacionais para crescer, o FMI citou a recessão do Brasil como uma das causas principais para o rebaixamento das revisões de crescimento global para baixo.

Ao todo, as projeções de crescimento global sofreram uma revisão para baixo de 0,2% tanto em 2016 quanto em 2017, com relação ao relatório anterior, em outubro passado. O Fundo prevê que a economia mundial deve crescer 3,4% neste ano. Para 2017, o crescimento será de 3,6% Essas revisões foram feitas após a instituição constatar que a recuperação das economias emergentes – grupo de países que o Brasil faz parte – será mais fraca do que as estimativas feitas em outubro, na edição anterior do relatório. Naquela ocasião, o FMI previu que os emergentes cresceriam 4,5% neste ano. Agora, a projeção foi para 4,3%.

O Brasil está com a pior projeção entre os emergentes e sofreu também a revisão para baixo mais acentuada. A previsão anterior do Fundo para o PIB brasileiro, que foi feita em outubro, indicava queda de 1%. No relatório de ontem, esse número foi corrigido e levado a menos 3,5%. “Há grande divergência entre os emergentes, como o Brasil que enfrenta problemas políticos e outros em melhor situação”, afirmou o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld.

Na composição geral dos países, o Brasil foi apontado como a principal nação que está puxando as revisões para baixo. Segundo o FMI, a recessão “causada pela incerteza política em meio às sequelas ininterruptas da investigação na Petrobras está demonstrando ser mais profunda e prolongada do que era esperado”.

A instituição ressaltou ainda que a situação no Oriente Médio também contribuiu para a revisão para baixo das projeções da economia mundial por causa da queda dos preços do petróleo. Por fim, o FMI enfatizou que o crescimento dos Estados Unidos poderá manter o ritmo atual ao invés de ganhar novo impulso.

A retomada da atividade econômica mundial será mais gradual do que o previsto no relatório anterior da instituição, de outubro de 2015, especialmente para as economias emergentes e para os países em desenvolvimento, informou o FMI. A previsão é a de que as economias avançadas continuem se recuperando de forma moderada e desigual. Já o panorama para as economias emergentes e em desenvolvimento é diverso e enfrenta desafios, como a desaceleração do crescimento da economia chinesa, a queda dos preços das matérias-primas e as tensões em que se encontram submetidas algumas das principais economias de mercado emergentes.

Segundo a instituição, as perspectivas mundiais estão sendo afetadas por três transições críticas. São elas: a desaceleração da atividade econômica na China, cujo rebalanceamento “está criando efeitos de contágio a outras economias”; a queda dos preços de energia e de outras matérias-primas; e o endurecimento paulatino da política monetária nos Estados Unidos, com o início do processo de elevação das taxas de juros naquele país no contexto de recuperação econômica e num momento de distensão das políticas monetárias em outras importantes economias avançadas.

O relatório alerta que mesmo as projeções de recuperação parcial de alguns países emergentes podem ser “frustradas por novos choques econômicos ou políticos”.