Valor econômico, v. 16, n. 3926, 20/01/2016. Política, p. A5

Relatório cita falha humana em desastre

Thiago Resende | De Brasília

Relatório elaborado pela Aeronáutica concluiu que falhas humanas, podem ter colaborado para a queda do avião em que estava o ex-governador de Pernambuco e, à época, candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) e mais seis vítimas, em agosto de 2014.

Além das más condições meteorológicas, foram citadas a "desorientação espacial" que pode ter sido causada pela falta de treinamento adequado dos pilotos e a realização de um trajeto fora dos padrões recomendados para pouso.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) aponta ainda outros possíveis motivos do acidente, mas a comissão que analisou o caso não soube afirmar se teriam sido realmente determinantes para a queda. Isso vale para o cansaço dos comandantes, falhas no planejamento de voo e sobrecarga do piloto em virtude da dificuldade do copiloto em assessorá-lo.

"Não é a finalidade nossa identificar culpas ou responsabilidade de pessoas ou instituições. A gente também não mensura o grau de contribuição de cada fator", ressaltou o chefe do Cenipa, Brigadeiro Dilton José Schuck.

No dia 13 de agosto de 2014, a aeronave PR-AFA decolou do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino a Santos (SP), local do acidente. Além de Campos, estavam no avião Pedro Almeida Valadares Neto, ex-deputado federal e assessor da campanha; Carlos Augusto Leal Filho, assessor de imprensa; o fotógrafo Alexandre Severo; o cinegrafista Marcelo Lyra; além dos comandantes Marcos Martins e Geraldo Cunha.

O resultado das investigações foi apresentado primeiro aos familiares, que contestam as conclusões e pretendem divulgar um relatório paralelo hoje.

Todas as manutenções do avião do acidente, segundo o Cenipa, foram feitas e a aeronave voou pouco desde sua fabricação. "Houve a participação do fator humano nesse acidente", declarou tenente-coronel Raul de Souza, investigador encarregado pelo caso, que negou entretanto uma causa "100% humana" à queda.

Das 8h da manhã do dia 13 de agosto de 2014 até 10h, horário do acidente, as condições meteorológicas tiveram alterações significativas. houve uma queda de cinco mil metros na visibilidade e ventos mais fortes. Esse quadro "estava próximo dos mínimos de segurança para [...] a aproximação [da pista de pouso]", frisou Souza.

Além disso, a comissão que estudou o acidente destacou que a aeronave fez um trajeto diferente do recomendado para o pouso. "Fez uma curva para a esquerda sem motivo aparente. Estava completamente fora do perfil de segurança", avaliou. Vídeos mostraram que o avião estava acima da velocidade recomendada pelo fabricante quando estava em altitude baixa. "Estava descendo em uma situação bem agressiva", completou o investigador responsável.

A tripulação era considerada experiente e já tinha voado com o modelo do acidente, mas não tinha o treinamento adequado. A habilitação deles era para outros exemplares e, portanto, deveriam passar por um curso mais específico para o tipo do avião em que estava Campos.

As investigações buscaram o histórico dos profissionais. Dias antes do acidente, o piloto Marcos Martins comentou a outros comandantes que a "operacionalidade do copiloto [Geraldo Cunha] não era adequada". Cunha já havia sofrido acidente aéreo em 2012 e a voz dele indicava sonolência no dia do acidente, de acordo com o relatório.

Os dois extrapolaram as recomendações de jornada entre 1º e 5 de agosto de 2014, mas isso foi regularizado sete dias antes da queda em Santos (SP). "Fadiga não foi um fator contribuinte nesse acidente", insistiu Schuck.