Valor econômico, v. 16, n. 3928, 22/01/2016. Política, p. A6

Dilma reativa Conselhão para tentar retomar agenda positiva

Andrea Jubé | De Brasília

 

Disposta a restabelecer o diálogo com a sociedade e buscar saídas para a crise, a presidente Dilma Rousseff convidou banqueiros, empresários, executivos e lideranças sindicais para integrar o novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão. Roberto Setubal (Itaú/Unibanco), Jorge Paulo Lemann (AB InBev), Eraí Maggi (Grupo Bom Futuro) e Josué Gomes da Silva (Coteminas), filho do ex-vice-presidente José Alencar, estão no time dos novos conselheiros.

A reunião, agendada para o dia 28, será aberta com as manifestações de quatro empresários. Depois falam dois representantes dos trabalhadores e dois da sociedade civil. O pronunciamento da presidente Dilma encerra o ato, precedido pelos ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, e da Casa Civil, Jaques Wagner.

Também são novatos no colegiado os presidentes do grupo América Móvil (Claro, Net e Embratel), José Félix, do Grupo Amil, Edson de Godoy Bueno, da Natura, Pedro Passos, da TAM, Claudia Sender, da Associação dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, da Embraer, Frederico Curado e da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan.

Há pelo menos um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionava Dilma para reativar o colegiado, que foi criado em sua gestão, em 2003, para aproximar o governo da sociedade e aprimorar o debate sobre as políticas públicas. Há mais de um ano, o órgão não se reunia.

Em recente reunião no Palácio da Alvorada, no início do mês, com Dilma e o titular da Casa Civil, Lula sugeriu que a reunião fosse antecipada, já que era a única agenda positiva da presidente confirmada para este início de ano. Mas Dilma ponderou que a maioria dos conselheiros estava viajando, muitos para o exterior.

O mandato dos atuais conselheiros expirou no ano passado e o então titular da Casa Civil, Aloizio Mercadante, começara a esboçar a renovação do colegiado. Mas havia divergências no governo sobre o número de integrantes. O Planalto recebera reclamações de empresários de que não tinham voz no colegiado, por causa do número elevado de titulares: 90 conselheiros.

Há duas semanas, o ministro Jaques Wagner começou a fazer telefonemas para formalizar os convites para composição do Conselhão em nome de Dilma. Nos contatos, ele tem afirmado que a trajetória de crise demanda união de forças e visão estratégica para ajudar o país a superar a recessão e retomar o crescimento.

Será um momento de afirmação de Nelson Barbosa, que fará uma exposição das novas diretrizes econômicas. Dilma e Wagner, contudo, já declararam que o governo não vai tirar "coelho da cartola". A recriação da CPMF, a ampliação das linhas de crédito, e o esforço para realizar reformas estruturais, como a da Previdência Social, são medidas já anunciadas que Dilma confirmará ao colegiado.

Metade do Conselhão será composta de novatos, e o restante dos integrantes será reconduzido a novos mandatos. Nesse grupo estão: Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Abílio Diniz (BRF), Luiza Trajano (Magazine Luiza), Benjamin Steinbruch (CSN), Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau), Murilo Ferreira (Vale).

Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa que leva seu nome, e o agropecuarista José Carlos Bumlai, ambos presos na Operação Lava-Jato, faziam parte do Conselhão, e serão substituídos. Como representante do agronegócio, entra Eraí Maggi, produtor de soja, e da construção civil, Wilson Ferreira Júnior, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

O ator Wagner Moura, o escritor Fernando Morais e o neurocientista Miguel Nicolelis representam a sociedade civil. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, será reconduzido para novo mandato.