O globo, n. 30094, 29/12/2015. Economia, p. 16

Entrada de dólares no país faz moeda recuar 2,35%, a R$ 3,861

ANA PAULA RIBEIRO

Ganhadoras de leilões de energia têm até dia 30 para pagar outorgas.

-SÃO PAULO- A entrada de recursos no país e a expectativa de um novo ciclo de alta de juros levaram a uma queda expressiva do dólar ontem, em um dia marcado pelo baixo volume de negócios. A moeda americana encerrou o pregão cotada a R$ 3,861, um recuo de 2,35%. Já na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o índice de referência, Ibovespa, fechou em queda de 0,57%, aos 43.764 pontos.

AP/18-5-2015Ociosidade. Plataformas de petróleo paradas no Texas: queda dos preços desestimula exploração

A desvalorização do dólar, segundo operadores, foi influenciada por entradas pontuais de recursos no país. Há também grande expectativa em relação ao volume que pode ser trazido pelas empresas que venceram os leilões de concessão de energia no mês passado — elas têm até amanhã para o pagamento das outorgas. Como o volume de negócios está baixo, qualquer movimentação de entrada ou saída de dólares acaba levando a variações mais expressivas na cotação da moeda.

— A liquidez está baixa, mas o dólar está acompanhando o cenário externo e tem fluxo de entrada de recursos para o Brasil. Essa expectativa de aumento da Selic acaba ajudando —afirmou Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.

O maior aporte a ser feito, de R$ 13,8 bilhões, é o da China Three Gorges. Além disso, segundo o boletim Focus, do Banco Central, analistas e economistas já esperam que a Selic chegue a 15,25% ao fim do ano que vem, contra os atuais 14,25% ao ano. Juros mais altos ajudam a atrair investidores estrangeiros, que captam recursos no exterior a custo baixo e investem localmente. DIA DE PERDAS NAS BOLSAS Mas, apesar da queda expressiva da moeda americana, analistas reforçam que os investidores estão de olho na condução da política fiscal. Ontem o governo anunciou o pior déficit para o governo central em novembro dos últimos 18 anos. Além disso, é esperada a sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, prevendo a volta de um tributo similar à CPMF, considerado necessário para o reequilíbrio das contas.

— Ainda há um pouco de desconfiança em relação à nova equipe econômica e sobre como vai ficar o equilíbrio das contas públicas. Vamos ter muito foco nessa questão — disse Luis Gustavo Pereira, analista-chefe da Guide Investimentos.

Ainda nesse contexto, a solução do governo para as “pedaladas fiscais” também deve continuar pesando sobre os negócios nos mercados financeiros.

No exterior, a divisa ficou perto da estabilidade. O Dollar Index, calculado pela Bloomberg e que leva em conta o comportamento do dólar frente a uma cesta de dez moedas, estava com leve alta de 0,10% no momento do encerramento dos negócios no Brasil.

Nas Bolsas, o dia foi de perdas, especialmente para as empresas ligadas ao setor de commodities. Em meio a mais indicadores que lançaram dúvidas sobre o crescimento da China, o preço das matérias-primas teve forte queda. Entre os papéis mais afetados na Bovespa estão os da Petrobras, com a queda forte do petróleo no exterior. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal caíram 3,31%, a R$ 6,70, e as ordinárias (ON, com voto) recuaram 3,04%, a R$ 8,61.

Os papéis da mineradora Vale também registraram perdas expressivas. Os PN tiveram desvalorização de 4,08%, e os ON, de 4,38%.

O setor bancário, que tem o maior peso na composição do Ibovespa, fechou sem tendência clara. As ações PN do Itaú Unibanco recuaram 0,37%. As do Bradesco e do Banco do Brasil subiram, respectivamente, 0,97% e 0,87%.

No domingo, o Escritório Nacional de Estatísticas da China informou que os lucros da indústria caíram 1,4% em novembro, para 672,1 bilhões de yuans (US$ 103,8 bilhões). Foi a sexta queda consecutiva. Nos primeiros 11 meses do ano, o lucro das estatais desabou 9,5%.

Na Europa, o DAX, de Frankfurt, encerrou em queda de 0,69%. O CAC 40, da Bolsa de Paris, registrou desvalorização de 0,42%. Já a Bolsa de Londres não operou ontem devido a um feriado local. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones recuou 0,14% e o S&P 500 caiu 0,22%. Já a Bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 0,15%.

— Tivemos fortes altas na semana passada, então o mercado estava pronto para um recuo — disse à agência Bloomberg Matt Maley, estrategista de ações da corretora Miller Tabak, em Nova York. — Obviamente, a China não ajudou.

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Balança comercial fica positiva em US$ 18 bi

ELIANE OLIVEIRA

Câmbio é principal responsável pelo resultado este mês.

-BRASÍLIA- Às vésperas do fim do fechamento do ano, a balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 18,684 bilhões até a semana passada, valor que corresponde a uma virada de mais de US$ 23 bilhões, levando em conta que, no mesmo período de 2014, havia um déficit de US$ 4,414 bilhões. Nas quatro primeiras semanas de dezembro, o comércio exterior apresentava saldo positivo de US$ 5,243 bilhões, resultado de US$ 14,514 bilhões em exportações e de US$ 9,272 bilhões em importações.

Os números foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Impulsionada principalmente pelo dólar valorizado ante o real e pelo embarque de uma plataforma de petróleo ao exterior, a média diária exportada em dezembro, de US$ 806,4 milhões, subiu 1,4% em relação ao mesmo mês de 2014. Cresceram os embarques de manufaturados (16,5%), com destaque para a plataforma, tubos flexíveis de aço, automóveis, aviões e etanol.

Por outro lado, houve queda nas vendas de produtos básicos (9,9%) e de semimanufaturados (2,4%), como reflexo das baixas cotações das commodities. As maiores reduções ocorreram com minério de ferro, petróleo em bruto, café em grão, farelo de soja, carnes bovina e de frango, ferro fundido e alumínio em bruto.

A queda da média diária importada, de US$ 515,1 milhões, foi ainda maior, de 34,1%. Caíram principalmente as compras externas de combustíveis e lubrificantes, eletroeletrônicos, automóveis, autopeças, siderúrgicos e equipamentos mecânicos. Nesse caso, pesaram o câmbio e o desaquecimento da demanda interna.

— Com certeza, a plataforma de petróleo, cujo valor ainda não consegui descobrir, pesou no resultado. Mas não se pode negar que o câmbio também ajudou — disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

O fator mais preocupante para a balança comercial brasileira, segundo Castro, é a redução das importações, que indica que não há atividade industrial. Segundo ele, as empresas não estão comprando insumos e investindo em bens de capital, por exemplo.

— Para 2016, não vemos um cenário diferente — afirmou Castro, que prevê um superávit comercial de US$ 29,228 bilhões em 2016, quase o dobro da estimativa da AEB para 2015, de US$ 15,705 bilhões.