O globo, n. 30088, 23/12/2015. País, p. 4

Wagner diz que decisão do STF é um ‘renascimento’ para Dilma

SIMONE IGLESIAS

WASHINGTON LUIZ

LETÍCIA FERNANDES

Para ministro, tendência do processo contra presidente é não avançar.

-BRASÍLIA- O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou ontem de manhã que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de dar ao Senado a palavra final sobre o impeachment e revogar a comissão criada pela Câmara é o “renascimento do governo Dilma”. Para Wagner, a presidente sai de “um governo perseguido para um governo que ganha certa liberdade para atuar”.

— O STF, como poder mediador, deu a dimensão necessária à magnitude do impeachment. No presidencialismo, o impeachment de um presidente é quase uma pena de morte para o cidadão comum, ainda mais se ocorre sem um rito que não respeita isso (...) A virada do Supremo é quase que um renascimento do governo da Dilma. Ela sai do governo perseguido para o governo que ganha um grau de liberdade para poder atuar — afirmou, em conversa com jornalistas, no Palácio do Planalto.

DISCURSO AFINADO COM DILMA

Adotando a nova linha de discurso inaugurada por Dilma semana passada, Wagner disse que o instrumento do impeachment não é “golpe”, sobretudo se aprovado pela Câmara e pelo Senado. Frisou, porém, que não pode ser banalizado. Na avaliação do ministro, o processo aberto pela Câmara no mês passado contra Dilma não evoluirá na volta do recesso parlamentar, em fevereiro.

— O impeachment, em si, não é golpismo. O que pode ser golpe é banalizá-lo, e o que o STF fez foi valorizá-lo para a democracia brasileira. Agora, pessoalmente acho que no caso da Dilma criou-se a bandeira para depois se buscar uma razão. Diga-se o que quiser da presidente, mas não se dirá que é dolosa no trato da coisa pública, não cola nela — disse.

OPOSIÇÃO ATACA MINISTRO

Quanto à relação do governo com a Câmara e o Senado, Wagner afirmou que, historicamente, a relação com os senadores é “mais tranquila”. Disse, porém, acreditar que está ocorrendo uma recomposição com os partidos aliados na Câmara. Ele evitou criticar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDBRJ), mas exaltou o estágio atual da relação de Dilma com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL):

— Ela tem uma relação com Renan, olhando a fotografia hoje, é muito boa. Mas as relações são instáveis, ele é presidente de um poder que tem autonomia.

A oposição criticou as declarações de Wagner. O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da Minoria na Câmara, ironizou a fala do ministro:

— O natural é que, no fim de ano, o governo estivesse comemorando algum número bom na economia, de programas sociais ou na Saúde e na Educação, mas esses são assuntos que não podem ser tratados pelo governo. Aliás, a presidente Dilma se protege constantemente nas as coletivas de seus ministros, ela não tem condições pessoais de fazer declarações públicas sobre seu governo — criticou o tucano.

Para Mendonça Filho (PE), líder do DEM na Câmara, o “renascimento” citado por Wagner não passa de “miragem”:

— Um governo para renascer precisa ter propostas para a sociedade, representar esperanças. E o que o governo Dilma representa hoje é justamento o desalento brasileiro — disse.