O globo, n. 30091, 26/12/2015. País, p. 3

Grandes centros assombram PT

SÉRGIO ROXO

Para cúpula petista, desgaste eleitoral devido aos casos de corrupção será maior nessas cidades.

As grandes cidades, onde a crise política e os casos de corrupção costumam influenciar mais o eleitor, assombram a cúpula do PT nas eleições de 2016. -SÃO PAULO- A cúpula do PT tem uma preocupação especial para a disputa eleitoral do ano que vem: as cidades grandes. A avaliação interna é que o impacto da crise que atinge o partido, causada pelo envolvimento de integrantes da sigla em escândalos de corrupção e pelo desgaste do governo Dilma Rousseff, influenciam mais os eleitores desses municípios do que os das pequenas cidades, onde prevalecem as questões locais. Para tentar atenuar esse cenário desfavorável, o partido pretende pôr as campanhas nas ruas o mais rapidamente possível.

O PT comanda 15 das 83 prefeituras do país onde as eleições são disputadas em dois turnos (cidades com mais de 200 mil eleitores). Vivem nesses municípios 15,1 milhões de eleitores.

A preocupação principal é com seis dos 15 municípios onde o prefeito já está no segundo mandato e não pode tentar nova reeleição. Decidir rapidamente um candidato é considerado fundamental para aumentar as chances de manter o comando dessas cidades.

Uma eventual perda de prefeituras em municípios grandes enfraqueceria o partido para a disputa presidencial de 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode tentar voltar ao Palácio do Planalto.

PROCESSO DE IMPEACHMENT PREJUDICOU PLANOS

Os planos petistas de antecipar o planejamento para as eleições municipais, porém, sofreram um revés coma decisão dop residente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de abrir o processo de impeachment contra Dilma.

— Estamos concentrando a nossa energia nessa luta contra o golpe — admite o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, um dos encarregados de monitorar as articulações das candidaturas pelo país.

A expectativa é que a batalha do impeachment se arraste, pelo menos, até março, mês que o Diretório Nacional do PT reservara para realizara conferência que definirá atática eleitoral e apolítica de alianças.

— Teremos que nos concentrar nas eleições também. Vai te releição independentemente de qualquer coisa — frisa Florisvaldo, ao ser questionado sobre o prolongamento do processo.

DEBANDADA DE PREFEITOS, OUTRA PREOCUPAÇÃO

Há dúvida ainda sobre como o eventual impeachment de Dilma pode influir no pleito:

— A questão do impeachment é um tema nacional e não vai intervir nas eleições municipais porque, nessas disputas, você faz o debate local — minimiza Cida de Jesus, presidente do PT de Minas Gerais, onde a sigla comanda só uma cidade com mais de 200 mil eleitores: Uberlândia.

O PT terá outro problema para administrar em março: o risco de saída de prefeitos. Com a aprovação da reforma política, o prazo para mudança de partido para quem quer disputar as eleições municipais passou a ser o começo de abril. A legenda já sofreu uma baixa em cidades grandes, em setembro, quando Luciano Cartaxo, de João Pessoa, trocou o PT pelo PSD. Ele alegou “escândalos políticos” como justificativa. A capital da Paraíba tem 460 mil eleitores.

Com Cartaxo, deixaram o PT de João Pessoa dois vereadores e o presidente municipal do partido, Lucélio Cartaxo, irmão do prefeito, o que desestruturou o partido na cidade.

— Vamos disputar a eleição contra ele (Luciano Cartaxo), com uma candidatura do PT ou com aliança — garante Florisvaldo.

A saída de Cartaxo enfraquece o partido no Nordeste. Agora, a o PT comanda só uma cidade com mais de 200 mil eleitores na região: Vitória da Conquista (BA) — onde o prefeito Guilherme Menezes não pode tentar a reeleição. A avaliação interna é que a disputa na cidade será acirrada.

O presidente do PT da Bahia, Everaldo Anunciação, aposta nos temas locais para manter o comando do município, mas reconhece:

— Nas cidades grandes, é claro que a conjuntura nacional tem um impacto maior.

O PT tem outro problema: a maioria das cidades grandes administradas pelo partido está no estado de São Paulo, onde o desgaste da sigla é considerado maior. São oito prefeituras paulistas com mais de 200 mil eleitores, incluindo a capital do estado, administrada por Fernando Haddad. Em cinco, o prefeito poderá tentar a reeleição.

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Cunha é alvo de investigação do BC por ocultar contas

GABRIELA VALENTE E LETÍCIA FERNANDES

Procurador diz que deputado escondeu dados por 14 anos e comete ‘deslealdade processual’.

-BRASÍLIA- O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDBRJ), e sua mulher, Cláudia Cruz, são alvos de investigação do Banco Central por esconderem contas na Suíça, segundo a revista “Época”. Em 10 de novembro, O GLOBO revelou que esse processo seria aberto após Cunha admitir que é beneficiário de ativos financeiros registrados em nome de “trusts”, empresas criadas em paraísos fiscais e oficialmente controladoras de recursos de Cunha na Suíça.

Segundo a reportagem publicada anteontem no site da revista, o BC verificou o que Cunha admitira publicamente: nenhuma declaração de capitais no exterior havia sido feita. Em 18 de novembro, diz “Época”, a autoridade monetária enviou notificação para Cunha e sua mulher com o pedido de esclarecimentos sobre bens fora do Brasil. Em 3 de dezembro, os advogados do deputado responderam que o objeto de investigação é o mesmo do inquérito em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual não tiveram acesso integral, o que inviabilizaria a resposta.

“ATITUDE REVELA MENOSPREZO AO BC”

No último dia 18, o procurador-geral do Banco Central, Isaac Sidney Menezes Ferreira, enviou relatório à ProcuradoriaGeral da República dizendo que Cunha se absteve “por 14 anos do dever de declarar ao BCB os valores de bens ou diretos existentes fora do território nacional”.

Ferreira diz que Cunha agiu com “deslealdade processual” ao se negar a responder a notificação do BC, porque teria tido acesso à cópia integral da investigação criminal no STF desde 21 de outubro.

“A atitude arredia do Sr. Eduardo Cosentino da Cunha revela desapreço e, até mesmo, singular menosprezo institucional ao BCB”, escreveu Ferreira.

Ao GLOBO, Cunha disse que o tema está protegido por sigilo fiscal e que seus advogados deram os esclarecimentos necessários. “Os advogados já responderam aos questionamentos na forma de petição, mas cabe ressaltar que se trata de matéria protegida por sigilo fiscal, e o fato de haver vazamentos de informações sobre o assunto pode ensejar ação judicial”.