O globo, n. 30091, 26/12/2015. Opinião, p. 12

Fluxo de refugiados sírios para UE é problema global

 

Dados da ONU revelam que o número de refugiados nunca foi tão alto desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2013, 51,2 milhões de pessoas se viram forçadas a deixar seus lares em busca de segurança, o maior número — num cálculo que considera refugiados pessoas deslocadas internamente e pessoas que pediram asilo — desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2014, ele saltou para 59,5 milhões de pessoas, das quais quase a metade são crianças, confirmando a tendência de alta.

O epicentro dessa crise humanitária é a guerra civil síria, associada ao avanço do Estado Islâmico (EI), a escaramuças entre xiitas e sunitas, e disputas no Oriente Médio entre potências regionais, como Arábia Saudita, Irã e Turquia. Com Rússia, EUA, Grã-Bretanha e França de coadjuvantes. Segundo a Acnur, agência da ONU para refugiados, os países vizinhos à Síria são os principais destinos do fluxo de pessoas, que arriscam tudo, inclusive suas vidas e a de seus familiares, em busca de segurança. A Turquia acolheu 2,2 milhões; o Líbano, 1,1 milhão; a Jordânia, 650 mil; o Iraque, 250 mil; e o Egito, 132 mil. Outras nações do Norte da África, especialmente Líbia e Argélia, receberam um total de 25 mil refugiados sírios, muitos deles à espera de uma oportunidade para cruzar o Mediterrâneo até a UE, por meio de rotas perigosas e em embarcações precárias. O Mediterrâneo se tornou a principal via de acesso à UE. Mas também existem rotas pelos Bálcãs.

Segundo a Frontex, a agência de fronteiras da UE, este ano mais de 200 mil imigrantes chegaram à UE pelos países da Europa Oriental; e mais de 500 mil pelo Mediterrâneo. O número de naufrágios com imigrantes clandestinos este ano bateu recorde, com mais de 3.400 mortes, como a do menino curdo Aylan Kurdi, de 3 anos, cuja imagem se tornou ícone do drama sírio. Segundo dados de julho de 2015 da Eurostat, a agência de estatísticas da UE, 715.795 refugiados sírios chegaram à UE. Considerandose outras regiões, o número ultrapassa um milhão, diz a Organização Internacional para a Imigração.

Este fluxo gerou uma crise humanitária que transbordou para a UE, alimentando o discurso xenófobo de alguns dirigentes de direita, sobretudo dos países da Europa Oriental. Em reunião de emergência, autoridades europeias aceitaram acolher 120 mil refugiados. Embora a decisão enfrente resistência de alguns países, como a Hungria, sobretudo após os atentados do EI em Paris, o número é insuficiente para equacionar o problema. A crise exige da comunidade internacional não apenas a pronta adoção de políticas compartilhadas de acolhimento, mas igualmente a busca de soluções que deem fim aos conflitos no Oriente Médio, em especial a guerra civil síria.