Após atingir cotação recorde de R$ 4,13, dólar acumula queda de 7%

 

Fabrício de Castro / Luiz Guilherme Gerbelli

O Estado de São Paulo, n. 44549, 07/10/2015. Economia, p. B1

 

Desde que atingiu a cotação de R$ 4,13, a mais alta da história do real, no dia 23 de setembro, o dólar começou a
inverter a trajetória e já acumula queda de 7%.

Ontem, registrou um recuo de 1,49%, o terceiro seguido, e fechou o dia cotado a R$3,8440,a cotação mais baixa desde 16 de setembro. Essa queda tem sido mais intensa desde sexta-feira, principalmente por dois motivos: a reforma ministerial anunciada pela presidente Dilma Rousseff, que, pelo menos até agora, foi bem recebida pelo mercado, e dados mais fracos da economia americana, indicando que a alta dos juros nos Estados Unidos não deve sair tão cedo. Ontem,ainda houve o reforço da agência de classificação de risco Moody’s,que afastou a possibilidade de a nota do Brasil ser rebaixada  este ano.

Mas o movimento de queda do dólar foi iniciado logo após o pico ter sido atingido.No dia 24 de setembro, quando a moeda
americana chegou perto dos R$ 4,25 durante o pregão, o presidente do Banco Central,Alexandre Tombini, resolveu dar um
recado ao mercado e disse que as reservas do País, de US$ 370 bilhões,poderiam ser usadas para conter o movimento de alta.
“As reservas são um seguro que pode e deve ser utilizado”, disse.

Foi o suficiente para que a cotação recuasse e fechasse em R$ 4,046. Mas o BC ainda não fez uso das reservas com esse
objetivo. O componente político, um dos mais fortes motivos para a alta do dólar, amenizou  um pouco depois de sexta-feira, com a reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff que deu mais espaçoa o PMDB no governo.
Há uma expectativa no mercado de que a reforma tenha melhorado a base governista, com possibilidades maiores de que
tem as favoráveis ao governo sejam aprovados. Essa trégua, porém, pode ir por água abaixo rapidamente,com o desenrolar
das votações no Congresso. Há muitas dúvidas se o governo realmente ganhou força.

De qualquer forma,a reforma administrativa, com a diminuição de ministérios, corte de secretarias e redução de salários
foi bem recebida.As ações do Executivo foram interpretadas como uma sinalização de apoio ao ajuste fiscal, considerado
fundamental para a retomada da confiança na economia. “As medidas diminuíram um pouco a sensação de impasse e caos
que havia até pouco tempo atrás”, disse Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada.

Ajuda. Ontem, durante uma parte do pregão, circularam no mercado rumores de que o governo já teria garantido apoio
suficiente para a aprovação da CPMF, ponto fundamental do pacote de ajuste fiscal. Esses rumores,que não foram confirmados,
também ajudaram na queda da cotação do dólar.

Também ajudou no fortalecimento do real a sinalização da agência Moody’s de que a economia brasileira não deve  perder o grau de investimento neste ano. Ontem, a diretora-gerente da Moody’s Latin America, Susan Knapp, afirmou que as “forças subjacentes”do Brasil ainda são suficientes para manter o grau de investimento, apesar de as dinâmicas atuais de crescimento serem piores do que a agência antecipava .

No cenário externo, o dólar vem perdendo força desde sexta-feira, quando o governo americano divulgou a criação
de 142 mil postos em setembro, abaixo da previsão do mercado,que era de 200 mil.O salário médio também recuou
0,04%, indicando que o risco inflacionário nos Estados Unidos é muito pequeno.

Ontem, as taxas implícitas nos FedFunds apontavam apenas 6%  de chances de o Fed subir juros em outubro, 31% de
possibilidade em dezembro e mais de 50% em março do ano que vem. “O dado de sexta-feira (da criação de empregos) foi
importante para o movimento de queda do dólar nos últimos três dias”, destacou o economista Alfredo Barbutti, economista
da BGC Liquidez Corretora.