Brasil deve encolher 3% neste ano

 

Rolf Kuntz

O Estado de São Paulo, n. 44549, 07/10/2015. Economia, p. B3

 

A economia brasileira deve encolher 3% este ano, diminuir mais 1% no próximo e continuar em marcha lenta nos quatro anos seguintes, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). A expansão será de apenas 2,5% em 2020, menos de metade do crescimento estimado para os países emergentes e em desenvolvimento (5,3%). Estimativas para um período tão longo são arriscadas, mas a mensagem vale como advertência: faltam motivos para apostar num desempenho muito melhor.

Muitos emergentes foram prejudicados pela queda de preços dos produtos básicos, mas os problemas brasileiros são causados principalmente no País, segundo os economistas do Fundo.

“No Brasil, a confiança de consumidores e empresários continua a diminuir em grande parte pelas condições políticas em deterioração”, de acordo com o Panorama Econômico Mundial publicado ontem. O investimento cai rapidamente e o necessário aperto na política macroeconômica pressiona para baixo a demanda interna, informa o relatório.

A crise política já havia sido mencionada em relatórios anteriores, mas nesses documentos havia referência também ao escândalo da Petrobrás. Há meses, o ex-economista-chefe do Fundo Olivier Blanchard usou a palavra corrupção ao falar do Brasil numa entrevista coletiva. Seu sucessor, Maurice Obstfeld, foi mais contido ao apresentar o Panorama Econômico Mundial, ontem, mas nem por isso o governo brasileiro foi poupado.

Ao explicar por que o Fundo prevê uma contração para a economia latino-americana em 2015, Obstfeld ofereceu uma resposta simples em termos estatísticos. Brasil e Venezuela puxam para baixo a média da região (para a economia venezuelana está prevista uma contração de 10% neste ano). Na mesma resposta, o economista chamou a atenção para países com “fortes esquemas de política econômica” e amortecedores fiscais construídos em anos anteriores.

Esses amortecedores – folgas orçamentárias criadas em tempos de prosperidade – garantem mais espaço para os gastos públicos em fases de aperto. Chile, Colômbia e Peru foram citados como exemplos de países beneficiados por políticas prudentes, em contraste com Brasil e Venezuela.

Particularidades. O choque de preços das commodities, em queda nos últimos anos, atingiu a maior parte dos países sul-americanos, mas os problemas econômicos foram determinados também pelas condições internas de cada um. Neste ano, Chile deve crescer 2,3%, Colômbia, 2,5%, Peru, 2,4%, Bolívia, 4,1%, e Paraguai, 3%.

A economia mundial deve crescer 3,1% neste ano e 3,6% no próximo, segundo as novas estimativas divulgadas no panorama. São taxas menores que as estimadas em julho (3,3% e 3,8%), mas indicam, de toda forma, a continuidade da recuperação. Os países avançados devem crescer 2% em 2015 e 2,2% em 2016, liderados por Estados Unidos (2,6% e 2,8%) e pelo Reino Unido (2,5% e 2,2%). A China continuará em ajuste, com maior ênfase em consumo e serviços e menor dependência de exportações e investimentos. As taxas previstas são 6,8% para este ano e 6,3% para o próximo.

A acomodação da China e os preços dos produtos básicos já afetam a economia mundial. Um terceiro fator, a normalização da política monetária dos Estados Unidos, com o esperado aumento dos juros, também é parte importante do cenário. Obstfeld evitou prever o momento da elevação dos juros americanos e de indicar sua preferência. Mas dirigentes do Fundo têm-se mostrado favoráveis a um aumento só a partir do próximo ano.