O globo, n. 30086, 21/12/2015. Economia, p. 20

CIRCENSE

GEORGE VIDOR

O risco cambial diminuiu para investidores estrangeiros, mas agências de classificação estão mirando é na crise política.

Do ponto de vista das contas externas, a economia brasileira hoje está mais segura do que um ano atrás. O déficit das chamadas transações correntes, que envolve todo o movimento de mercadorias (exportações x importações) e serviços (juros, transportes, turismo, remessa de lucros, etc.) chegou quase a bater em US$ 100 bilhões e na opinião de muitos especialistas no fim de 2016 terá encolhido para menos de US$ 20 bilhões.

O ajuste ocorreu pela taxa de câmbio, exatamente porque o déficit se agigantou e não era mais possível financiá-lo a um custo baixo. O real se depreciou fortemente, e assim ficou mais fácil exportar, enquanto as importações encareceram. Viajar para o exterior dói no bolso (não dá mais para fazer compras de supermercado em Miami...), e para os investidores remeterem a mesma quantidade de dólares lá para fora precisam ter agora mais lucros em reais, o que não está acontecendo.

Esse ajuste é um reflexo da recessão da economia, pode-se dizer. Mas o investidor tem mais garantia que o retorno do seu capital ocorrerá na mesma moeda que trouxe para o Brasil. Não por acaso continua a entrar no país considerável volume de capital, e suficiente para cobrir o declinante déficit em transações correntes, o que tem poupado o Banco Central de usar os US$ 380 bilhões de reservas cambiais acumuladas.

Então não deixa de ser contraditório o rebaixamento da economia brasileira por agências de classificação de risco. Se no plano doméstico o país continua às voltas com inflação alta, queda de atividade e dificuldade para pôr em ordem as finanças públicas, pelo câmbio — o que mais importa para o investidor estrangeiro — no curto prazo há menos riscos. Talvez as agências estejam avaliando a crise política. Se qualquer brasileiro está confuso em relação ao que vai acontecer, imaginem então quem está vendo de longe o espetáculo circense que tem Brasília como palco.

Naufrágio

A suspensão de investimentos da Petrobras não envolve apenas novos projetos, mas também alguns próximos de serem concluídos e que, em tese, já poderiam trazer retorno imediato ao grupo. Na Ponta D’Areia, em Niterói, junto ao cais do estaleiro Eisa PetroUm, uma sociedade de propósito específico, estão dois navios petroleiros semiprontos encomendados pela subsidiária Transpetro. A obra parou quando o cronograma físico já havia atingido 94% do primeiro e o do segundo, 87%. Outros dois petroleiros estão em fases menos adiantadas lá.

No total, presume-se que o patrimônio que a Petrobras deixou “encalhado” no estaleiro, sob risco de se deteriorar, é de aproximadamente R$ 1 bilhão.

Transpetro e estaleiros fizeram uma parceria para reativar a construção naval no país. Esse programa foi batizado de Promef e deveria envolver 48 embarcações. Desde o início já se sabia que os antigos estaleiros estavam com engrenagens enferrujadas. A margem de lucro dos contratos ficou em torno de 4% e nessa situação tudo teria de sair de acordo com o figurino. E não foi o que aconteceu. Olhando pelo retrovisor, a versão dos estaleiros é que conscientemente as empresas sabiam que teriam prejuízo nas primeiras embarcações, esperando lucrar posteriormente, quando a curva de aprendizado entrasse na fase de maturação. Mas o rombo acabou sendo maior que o esperado. Navios que deveriam ser construídos em um milhão de horas — padrões chineses e coreanos — o foram por dois milhões de horas ou mais. O capital de giro evaporou e no meio do caminho, com a Petrobras fazendo água, o desentendimento entre as partes prevaleceu.

O resultado tem sido demissões em massa nos estaleiros e adjacências. A construção naval, que foi uma das principais geradoras de bons empregos formais na economia brasileira nos últimos anos, já desempregou mais de 20 mil pessoas.

Bilhões de “milhas”

Os chamados cartões de fidelidade acumulam cerca de 358 bilhões de pontos por ano. Metade disso é usada no mesmo período de doze meses. Os bancos geram 80% — pela via dos cartões de crédito — desses pontos e as companhias aéreas os demais 20% aproximadamente.

Para se ter uma ideia de como essa atividade se remunera, enquanto os bancos pagariam R$ 0,03 por ponto às empresas de cartões de fidelidade, essas companhias adquirem passagens aéreas oferecendo R$ 0,01 por ponto. Os valores não são exatamente esses, mas é assim que funciona. Os cartões de fidelidade ainda se beneficiam com os 20% dos pontos não usados, porque expiram antes de atingirem um patamar que permite ao “fidelizado” adquirir uma passagem aérea ou algum outro bem.

De olho nesse nicho é que Henrique Pandolpho e outros especialistas no ramo criaram uma empresa que batizaram de BPF, ou Banco de Pontos de Fidelidade. Trata-se de uma start up, com 25 pessoas, sediada em São Paulo. O BPF se propõe a promover leilões virtuais de coisas que têm mais valor cultural ou afetivo. Com os leilões, o BPF espera também atrair clientes motivados por atividades lúdicas. Brasileiros adoram sorteios, jogos e afins. Um feliz Natal para todos!