Título: FMI exige mais audácia
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Fonte: Correio Braziliense, 10/09/2011, Economia, p. 17
Dirigente diz que a economia mundial atravessa uma fase perigosa e que governos devem agir com urgência para reativar a atividade
Londres ¿ A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, conclamou os países desenvolvidos a agir "agora e com audácia" para reativar suas economias. "A mensagem-chave que quero transmitir hoje é que os Estados devem agir agora e com audácia" no momento em que a economia mundial "passa por uma fase cheia de perigos", afirmou Lagarde em um discurso no instituto Chatham House, na capital britânica, pouco antes de embarcar para Marselha, no sul da França, onde iria participar da reunião do G-7, o grupo que reúne os países mais industrializados do mundo (Estados Unidos, Japão, Canadá, Alemanha, França, Itália e Grã-Bretanha).
Lagarde elogiou o plano econômico de US$ 447 bilhões anunciado na quinta-feira pelo presidente norte-americano, Barack Obama, em um discurso ao Congresso, e reafirmou sua posição favorável a um programa de capitalização dos bancos europeus mais expostos à dívida de países como Portugal, Irlanda e Grécia. "Diante do aumento das incertezas e da necessidade de convencer os mercados, alguns bancos precisam reforçar seu capital", afirmou, ao mencionar os riscos que as instituições europeias correm por conta da crise da dívida na Zona do Euro.
No início da semana, em entrevista à revista alemã Der Spiegel, Lagarde estimou em 200 bilhões de euros a necessidade de capital adicional dos bancos, mas o valor foi contestado por autoridades financeiras europeias.
Falta de recursos Não são apenas os bancos, porém, que enfrentam insuficiência de capital. Técnicos do próprio FMI estão preocupados com a escassez de recursos da instituição caso a situação financeira global piore e mais países precisem de ajuda. Segundo um documento interno obtido pela Agência Reuters, em Washington, o Fundo tem cerca de US$ 390 bilhões que poderia emprestar confortavelmente sem colocar em risco seu balanço financeiro.
Entretanto, no pior cenário possível, os técnicos alertam que o FMI poderia ter que emprestar US$ 840 bilhões, cerca de 30% a mais do que a estimativa de US$ 640 bilhões feita em junho. O novo dado reflete o aumento da preocupação com a economia global, provocado pela dificuldade que a Europa apresenta para conter a crise da dívida. O documento informa que os próximos relatórios do FMI vão salientar "o notável aumento dos riscos para a estabilidade financeira". Em um cenário menos preocupante, no qual as autoridades agem rapidamente para frear a escalada da crise da dívida, o FMI vê demanda por US$ 360 bilhões em empréstimos.
No pronunciamento feito em Londres, Christine Lagarde pediu também aos países desenvolvidos que atuem de forma coordenada para a alcançar a "consolidação orçamentária". E, diante do quadro de forte desaceleração das economias, recomendou que as autoridades procurem manter juros baixos e garantir liquidez para os mercados. "As políticas monetárias devem continuar sendo adaptáveis, pois o risco de recessão é maior que o de inflação", afirmou. "Os Bancos Centrais devem estar dispostos a adotar mais medidas para apoiar o crescimento, incluindo meios não convencionais", completou, referindo-se à eventualidade de emissão de moeda nas economias mais vacilantes.
Transações taxadas Os governos da França e da Alemanha querem que a taxa sobre transações financeiras que seria criada na União Europeia seja "a mais baixa possível". Em carta enviada a altos funcionários da Comissão Europeia, os ministros de Finanças dos dois países detalham a proposta para este imposto, sugerido no mês passado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pela chanceler alemã, Angela Merkel. A taxa seria cobrada "sobre todas as transações financeiras e de câmbio quando pelo menos uma das partes envolver a União Europeia". Segundo uma fonte, a taxa seria de 0,1% para ações e títulos e de 0,01% para produtos derivados.