O globo, n. 30070, 05/12/2015. País, p. 3

Operação desembarque

 

SIMONE IGLESIAS E JÚNIA GAMA

Padilha deixa Ministério por lealdade a Temer, e ala do PMDB pressiona Henrique Alves a sair.

Presidente convoca ministros para reunião de emergência com o objetivo de analisar comportamento do partido aliado; ministro Henrique Eduardo Alves é pressionado a deixar a pasta do Turismo

Joaquim Levy defende rapidez na discussão do impeachment, na página 25 Katia Abreu (AGRICULTURA) Assumiu a Agricultura no início do segundo mandato. Amiga da presidente Dilma Rousseff, a ponto de frequentar o Palácio da Alvorada em momentos de lazer, é hoje a mais leal integrante da frente anti-impeachment Marcelo Castro (SAÚDE) Assumiu a pasta na última reforma ministerial, em outubro, feita justamente para abrir mais espaço ao PMDB. É indicação da ala governista da bancada da Câmara. É contra o impeachment Celso Pansera (CIÊNCIA E TEC.) Também é novato no ministério, assumindo o cargo na última reforma. Foi indicado pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, mas com aval do presidente da Casa, Eduardo Cunha. É contra o impeachment Eduardo Braga (MINAS E ENERGIA) Representante formal da bancada do Senado, desde que era líder do governo na Casa, o ministro era visto como mais próximo do palácio do que do partido. Expectativa é que ele se posicione contra o impeachment Helder Barbalho (PORTOS) Filho do senador Jader Barbalho, ocupava a secretaria de Pesca e foi remanejado na última reforma. Passou a ser da cota de Michel Temer. Sinaliza contrariedade ao impeachment, mas sua fidelidade é incerta Henrique Alves (TURISMO) Ex-presidente da Câmara e um dos aliados mais próximos do vice Michel Temer, vem sendo pressionado a deixar o governo para, assim como Eliseu Padilha, aderir explicitamente ao grupo pró-impeachment Eliseu Padilha (AVIAÇÃO CIVIL) Primeiro a deixar o navio, assumiu a pasta no segundo mandato e recusou convite para assumir a articulação política, em abril. É aliado de Temer, e o Planalto avalia que será o articulador do movimento pró-impeachment

Após a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma, o ministro mais próximo do vice Michel Temer, Eliseu Padilha (Aviação Civil), pediu demissão depois de tentar, sem sucesso, audiência com a presidente e o ministro Jaques Wagner (Casa Civil). A aliados, Padilha disse que saiu por lealdade a Temer, cuja relação com Dilma se deteriorou. A presidente convocou ministros para reunião de emergência ontem à tarde. O Planalto considera que parte do PMDB age contra Dilma e teme que Padilha trabalhe pelo impeachment para favorecer Temer. -BRASÍLIA- A demissão do ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), o peemedebista mais próximo do vice-presidente Michel Temer, alarmou o Palácio do Planalto, que viu na decisão a disposição dele atuar como articulador do movimento pró-impeachment. No fim da tarde de quinta-feira, depois de tentar, sem sucesso, uma audiência com a presidente Dilma Rousseff e com o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), Padilha protocolou a carta com sua exoneração e viajou para Porto Alegre.

Em razão da demissão, Dilma reuniu ministros na tarde de ontem para analisar o cenário que se apresenta, com parte do PMDB passando a trabalhar pelo impeachment. Auxiliares presidenciais avaliam que a saída de Padilha aponta para um desembarque peemedebista e reduz as pontes com integrantes do partido, que já são consideradas frágeis. Integrantes do governo dizem que as opções para ajudar Dilma na Câmara são o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão.

Segundo pessoas próximas a Padilha, o ex-ministro dizia estar se sentindo “constrangido” por não poder criticar nem defender o processo de abertura de impeachment. Na noite de quarta-feira, em conversa com peemedebistas no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice, Padilha considerou a ideia da saída por convicção política e lealdade a Temer, já que teria, mais cedo ou mais tarde, que optar por um lado da guerra do impeachment. Somado a isso, acumulava motivos relacionados à sua pasta para deixar o cargo.

No dia seguinte, quando Dilma e o vice conversaram, e auxiliares da presidente fizeram um relato da reunião que foi desmentido por Temer, Padilha sacramentou a decisão pelo desembarque. Ainda assim, participou da reunião de coordenação política com a presidente e outros 22 ministros. Neste encontro, mais um motivo de incômodo: Wagner cobrou de todos os presentes uma posição pública em favor da garantia do mandato de Dilma. Horas mais tarde, Padilha indagou a um aliado:

— Como eu, que sou ministro, não vou falar nada? Não vou defendê-la?

— Foi um dia de muitos desmentidos. O Planalto decidiu a posição de Temer. O ambiente passou a ser de muitos imprevistos — disse ao GLOBO uma pessoa próxima a Padilha.

Seu último desgaste na Secretaria da Aviação Civil foi o fato de a presidente ter desautorizado uma indicação dele para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O ministro encaminhou o nome de Juliano Noman, atual secretário de navegação aérea do ministério, para uma diretoria da Anac com o aval de Dilma. No entanto, na última quarta-feira, quando a Comissão de Infraestrutura do Senado aprovaria Noman, a presidente retirou a indicação.

Um peemedebista da cúpula afirmou que outro ministro ligado a Temer, Henrique Eduardo Alves (Turismo), já está sendo pressionado para também desembarcar do governo. Na última reforma ministerial, em setembro, Alves trabalhou muito para emplacar seu nome na Esplanada, o que dificultaria sua saída. Na mesma reforma, outro ministro do PMDB, Hélder Barbalho, que era da Pesca e foi remanejado para Portos, passou a ser da “cota” de Temer. Barbalho estava de saída do governo, mas se aliou a Padilha e Alves.

GOVERNO VAI AVALIAR NOMES DA COMISSÃO

Barbalho decidiu não deixar o governo neste momento e espera ser acompanhado por Alves, “em prol da governabilidade”. Barbalho almoçou com Padilha na última quinta-feira, quando ele apresentou os argumentos para deixar o Ministério.

O governo quer avaliar os nomes de deputados que os partidos da base aliada indicarão para a comissão especial do impeachment. Dos 65 titulares, 39 são de partidos do núcleo governista. Os líderes aliados se comprometeram com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner a apresentar nomes confiáveis e menos suscetíveis à pressão, para evitar surpresas na votação.

Os líderes combinaram com o Planalto de voltar a Brasília no domingo à noite para evitar atrasos ou contratempos na reunião marcada para segunda-feira, às 10h, quando os nomes serão submetidos ao crivo dos ministros.

— Há uma preocupação imediata com os membros do conselho. É claro que queremos colocar pessoas que tenham capacidade de argumentação e de debate na comissão — disse Wagner na última quinta-feira, após reunião da coordenação política do governo, na qual a composição da comissão especial foi discutida.

Na bancada do PMDB, o grupo que faz oposição ao governo Dilma entregou ao líder do partido, Leonardo Picciani, um ofício com nomes de deputados que desejam integrar a comissão especial. A reivindicação é que o PMDB, por ter uma bancada “plural” em suas posições, tenha representantes das diversas alas. Segundo relataram esses deputados, Picciani limitou-se a dizer que exercerá sua “prerrogativa de líder” e não se mostrou inclinado a atender ao pleito dos rebeldes. (Colaboraram Danilo Fariello e Chico de Góis)