O globo, n. 30068, 03/12/2015. Rio, p. 15

Tropa reconhece ser malvista pela sociedade

 

GUILHERME RAMALHO

Em pesquisa, 967 oficiais e praças que ingressaram na PM em 2012 avaliam a imagem da corporação.

Em uma pesquisa do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), 85% dos policiais militares ouvidos reconheceram que sua corporação não tem uma boa imagem perante a sociedade. Dos 967 entrevistados — 235 oficiais e 732 praças que ingressaram no curso de formação em 2012 —, 48% disseram que o trabalho da PM está sendo considerado “regular” pela população, 30% acham que a avaliação geral é ruim e, para 7%, muito ruim.

 

UM NOVO PERFIL Segundo o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do estudo, 57% dos oficiais e 39% dos praças em formação chegaram ao ensino superior, mas nem todos concluíram o curso. Para ele, o percentual é alto e mostra uma mudança no perfil dos PMs.

— Eles acham que se esforçam e que a sociedade não reconhece o trabalho que fazem. É a percepção dominante. Oficiais e praças se sentem desvalorizados, injustiçados. Acham que a população realmente não tem uma boa impressão da polícia — destacou Cano.

Ao todo, 44,9% dos entrevistados disseram que a principal função da PM é proteger a população. Questionados sobre a segunda tarefa mais importante, 20,1% dos praças afirmaram que é “manter a ordem”, enquanto 20,9% dos oficiais responderam “garantir direitos” .

— Infelizmente, entre os praças, a ideia de garantir direitos não é tão forte quanto à de manter a ordem. Apenas 7,8% deles pensaram na opção mais humanitária quando responderam à questão — lamentou Cano. NECESSIDADE DE REFORMA Chefe do Estado-Maior da PM, o coronel Robson Rodrigues disse, ao conferir os resultados da pesquisa, que a corporação precisa passar por uma ampla reformulação.

— Na ditadura, o argumento de que a ordem pública precisava ser mantida justificou o combate às insurgências políticas. Agora, serve para tudo. Esse entendimento persiste, e reflete a dificuldade de os policiais entenderem qual é o seu verdadeiro papel. Na ausência de uma definição clara, apelam para o lema “servir e proteger” — diz o coronel, acrescentando que o PM precisa ser um gestor para aplicar a força letal de forma eficiente. — Quanto menos usar essa força, melhor cumprirá suas tarefas.

De acordo com Rodrigues, a PM poderá exigir curso superior completo na próxima seleção para oficiais, em vez de nível de ensino médio. Já os praças poderão fazer aulas à distância do curso de tecnólogo em segurança pública:

— Vamos investir numa qualificação melhor. Nossa estrutura hierárquica, às vezes, inibe motivações profissionais que garantiriam uma forma mais justa de crescimento na carreira policial.