O globo, n. 30067, 02/12/2015. País, p. 9

‘Meu nome não é amigo de Lula’

 

EDUARDO BRESCIANI

Bumlai se recusa a responder questionamentos na CPI do BNDES e reclama que não é mais chamado de José Carlos; pecuarista investigado na Lava-Jato diz que quer voltar à comissão para ‘mostrar a verdade’.

O pecuarista ouviu calado parlamentares repetirem as acusações contra ele surgidas na Lava-Jato

Depois de passar três horas se negando a responder perguntas da CPI do BNDES, o pecuarista José Carlos Bumlai fez um desabafo. Ele reclamou do fato de estar sendo chamado de “amigo de Lula”. Bumlai se recusou a responder aos questionamentos da comissão, mas na parte final prometeu voltar ao Congresso, no final do processo, para “mostrar os fatos”.

— Até meu nome trocaram. Meu nome é José Carlos, não é amigo de Lula. Quero ter o prazer de poder voltar aqui e mostrar o resultado dessas investigações. Muitas coisas aqui não são realmente a verdade, podem dizer que a verdade é relativa, não são os fatos. Vou mostrar. Quero voltar — disse Bumlai.

Durante as três horas de depoimento, o pecuarista ouviu calado parlamentares repetirem as acusações contra ele surgidas no âmbito da Operação Lava-Jato. Bumlai é acusado de ter recebido recursos do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Segundo o lobista, o dinheiro seria para pagar um imóvel para uma nora do ex-presidente Lula. Ele também é citado como tendo recebido um empréstimo de fachada junto ao banco Schahin, que serviria para pagar despesas do PT. Estão sob questionamento, ainda, financiamentos obtidos por empresas suas junto ao BNDES.

Bumlai foi preso na semana passada quando estava em Brasília se preparando justamente para depor na CPI.

— Ouvi uma série de incriminações à minha pessoa. As pessoas vão ter oportunidade de ver que não são verdades. Tenho princípios, normas. Jamais me deixei levar por amizade com A, B ou C. Minha vida foi construída por trabalho, muito suor, morando em porões, construindo parte desse Brasil que ninguém aqui sabe — afirmou o pecuarista.

Bumlai disse ter sido o responsável pela certificação de origem do primeiro animal do Brasil, afirmando que essa certificação transformou o país no maior exportador de carne do mundo. Disse ainda ter participado de obras como o metrô de São Paulo e ferrovias.

— Tenho consciência absolutamente tranquila, não privilegiei ninguém, não tenho cor partidária, não sou filiado a nenhum partido político — disse.

Bumlai alegou em seu desabafo que o silêncio diante das perguntas dos parlamentares é estratégia de defesa. Rebateu o ditado popular usado por alguns parlamentares de que seu silêncio significa culpa.

— O fato de eu me calar, de eu ter me calado não significa consentir. Quem cala consente não é uma verdade — afirmou.

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Temer confirma que Bumlai intermediou reunião com Cerveró

 

Vice contradiz pecuarista e diz que ouviu de ex-diretor pedido para que fosse mantido na Petrobras.

-BRASÍLIA- O vice-presidente Michel Temer confirmou ontem que o pecuarista José Carlos Bumlai telefonou para ele em 2007, para pedir que recebesse Nestor Cerveró, então diretor da Petrobras. Naquele ano, Temer era deputado federal e presidente nacional do PMDB. Na conversa com Bumlai, segundo a assessoria do vice, houve apenas o pedido de que recebesse Cerveró. A informação contradiz depoimento dado esta semana por Bumlai à Polícia Federal.

Temer ouviu de Cerveró um pedido de ajuda para que fosse mantido na direção da área Internacional da Petrobras. Temer nega, no entanto, que tenha havido uma reunião entre ele, Bumlai e Cerveró para tratar do assunto. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, em depoimento à PF, Bumlai afirmou que não se dedicou a ajudar na manutenção de Cerveró no cargo. O pecuarista citou Fernando Baiano, apontado como operador de propinas ao PMDB na Lava-Jato. “Gostaria de consignar que muito embora não se lembre se Fernando Soares lhe solicitou que intercedesse junto ao então presidente da República (Lula) na manutenção de Nestor Cerveró na diretoria da área Internacional, recorda-se de nunca ter envidado esforços para esta finalidade”, afirmou Bumlai, segundo depoimento obtido pelo jornal paulista.

Temer afirma ter dito a Cerveró, no encontro que ocorreu no escritório do PMDB, em São Paulo, que ‘não poderia fazer nada.’ Em conversa gravada por Bernando Cerveró, o senador Delcídio Amaral disse que Temer estava preocupado com a situação de outro ex-diretor da estatal, Jorge Zelada. Temer nega qualquer diálogo com Delcídio sobre o tema.