Título: Grécia arrasa mercados mundiais
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2011, Economia, p. 9

Iminência de calote no país europeu, mesmo depois de pacote para reduzir deficit fiscal, espalha temor entre os investidores e derruba bolsas. Bancos franceses e alemães são atingidosNotíciaGráfico

Os rumores de quebra da Grécia derrubaram ontem os mercados financeiros em todo o mundo e ampliaram as incertezas sobre a economia global, especialmente em relação à Zona do Euro. Numa semana decisiva para o país, a maioria das bolsas de valores fechou em forte baixa. As maiores vítimas foram as ações dos bancos europeus, sobretudo franceses e alemães, donos de mais da metade dos créditos gregos. Na Europa, o maior tombo foi registrado na Bolsa de Lisboa: 4,19%.

Além do temor do calote grego, a notícia de que a agência de risco norte-americana Moody"s estaria prestes a rebaixar a nota de bancos franceses derreteu os papéis dessas instituições. O Société Générale caiu 10,75% e o BNP Paribas, 12,35%. O Société já perdeu mais da metade do valor de mercado em razão da desconfiança de sua capacidade em resistir à crise. Mesmo com perfis melhores, os papéis dos dois maiores bancos alemães cotados em bolsa têm sofrido com a crise da dívida pública na Zona do Euro. As ações do Deutsche Bank e do Commerzbank caíram mais de 40% desde julho e ainda não deram sinais de recuperação. Só ontem, as ações do Deutsche recuaram 7,3% e as do Commerzbank, 8,3%.

Tiveram ainda quedas expressivas as bolsas de Frankfurt (-2,27%), Milão (-3,89%) e Madri (-3,41%). As asiáticas também abriram a semana com perdas: Tóquio caiu 2,31% e Hong Kong, 4,21%. O desempenho dos pregões dos Estados Unidos e do Brasil só não foi pior em função da expectativa de compra de títulos da dívida italiana por um fundo de investimento chinês. Mesmo assim, o Ibovespa, índice que reúne as principais ações negociadas em São Paulo, recuou 0,17%. O índice Dow Jones, de Nova York, foi o único que fechou em alta: uma elevação de 0,63%.

Desde sexta-feira, as negativas de Atenas foram insuficientes para conter os fortes boatos de um calote da dívida grega ainda no fim de semana. Para piorar, ontem, o secretário de Finanças do país, Filipos Sajinidis, admitiu que o país só tem dinheiro para pagar salários dos servidores e pensões até outubro, adiantando ser "extremamente" bem-vinda a liberação da sexta parcela do empréstimo de 110 bilhões de euros aprovado em maio de 2010. Apesar disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Alemanha e outros países condicionaram a liberação a um novo compromisso da Grécia de reduzir o rombo fiscal.

Sem efeito No domingo, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, anunciou a criação de um imposto para o setor imobiliário ¿ uma medida impopular para conter o deficit e tentar acalmar os mercados. O gesto, porém, não surtiu o efeito esperado. Amanhã, representantes do Fundo, do BCE e da União Europeia desembarcarão em Atenas para examinar as contas do país e os planos de ajuste fiscal. Se aprovados, a Grécia pode até ganhar tempo, apesar de não resolver o problema. No Brasil, durante reunião chefiada pela presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou a situação grega como "muito perigosa", já com contornos de uma crise de confiança.

Liquidez Para o economista-chefe do Saxo Bank, Steen Jakobsen, o calote grego custaria aos bancos europeus entre 2 bilhões e 3 bilhões de euros. "Nessas circunstâncias, a Grécia poderia sair do euro e, com ela, mais um ou dois países", avaliou. A seu ver, Espanha e Portugal estão conseguindo promover ajustes, mas a vulnerabilidade italiana cresce.

Pressionado por especulações que colocam a Itália como país mais sensível à inadimplência grega, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, avisou que o plano de austeridade de 54 bilhões de euros, sucessivamente adiado, será aprovado pelos deputados até amanhã.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse acreditar que a Grécia vai cumprir os compromissos de ajuste fiscal e de reformas estruturais. Após reunião na Basileia, Suíça, da qual participaram bancos centrais dos principais países ricos e emergentes do planeta, ele disse que os BCs estão preparados para dar "toda a liquidez" necessária às instituições financeiras. Agora, só resta convencer os mercados mundo afora.

Socorro a Portugal Em meio a discussões envolvendo a Grécia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou ontem a liberação de 3,98 bilhões de euros do empréstimo a Portugal. O Fundo informou ter feito uma análise do desempenho português sob o programa econômico aprovado em maio. O empréstimo é parte de um pacote de resgate com a União Europeia, que chegará a 78 bilhões de euros em três anos.

NOVO RESGATE É POSSÍVEL O vice-presidente da Comissão Europeia, Joaquín Almunia, afirmou ontem ser impossível descartar a necessidade de resgate de outro país endividado do bloco, além da Grécia. "Não é possível dizer nunca mais veremos isso", reconheceu. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e a chanceler alemã, Angela Merkel, asseguraram que até o fim de setembro terá fim o processo de aprovação do fundo de resgate da Eurozona pelos governos e parlamentos da União Europeia. Apenas a França aprovou a medida. A Alemanha, principal fiador do fundo, espera votar a proposta em 29 de setembro, mas a Eslováquia afirmou que não o fará antes de dezembro.