Título: Ofensiva palestina
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2011, Mundo, p. 16

Na reta final para a discussão sobre o reconhecimento de seu Estado, na ONU, palestinos reforçam a campanha por novas adesões. União Europeia não chega a consenso e os 27 governos do bloco decidirão individualmente

TATIANA SABADINI

Seis décadas de conflito entre palestinos e israelenses podem ganhar novas dimensões nos próximos seis dias. A decisão de pedir o reconhecimento como Estado soberano perante a Assembleia Geral das Nações Unidas foi tomada, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas, embora se diga aberto a retomar negociações com Israel, não dá sinais de que possa desistir. A próxima semana será um divisor de águas no mundo diplomático. Se Israel tem o apoio incondicional dos Estados Unidos, os palestinos esperam contar com o voto dos pesos pesados da Europa, e trabalham para isso. A União Europeia (UE) não deve se pronunciar como bloco, por falta de consenso, mas França e Reino Unido podem pender a favor da Palestina.

Abbas tem agenda intensa até o fim da semana. Na sexta-feira, deve discursar para os palestinos e explicar como será o pedido e o processo de votação na ONU. Seu governo estuda levar a questão também ao Conselho de Segurança, onde os EUA podem usar o veto. Porém, a jogada ainda não está definida. A ANP faz lobby há meses em busca de apoio na Assembleia Geral, que começa no próximo dia 20. Nova York deve ser palco para o debate entre os 194 países-membros da ONU sobre o reconhecimento da Palestina, que, embora tenha valor apenas político, tende a expor o isolamento diplomático de Israel e pode conduzir à retomada do diálogo.

O presidente palestino deve se encontrar com a Liga Árabe, que dá suporte à iniciativa diplomática, e ontem reuniu-se no Cairo com a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton. Os 27 países-membros do bloco discutiram a questão em Bruxelas, mas não chegaram a um consenso.

"Não existe ainda um projeto de resolução, então não existe posição. O que está claro, para a UE, é que a forma de avançar sempre será pelas negociações", resumiu Ashton depois do encontro com Abbas. A Alemanha foi reticente em relação ao reconhecimento palestino e teria sido a favor do suporte individual de cada país sobre a questão. Nos próximos dias, França e Reino Unido, que até o momento preferiram não se pronunciar, devem assumir uma posição ¿ ao que tudo indica, favorável à causa palestina.

A Rússia ratificou ontem seu apoio à ANP. "Vamos, é claro, votar a favor de qualquer proposta dos palestinos, mas devo ressaltar que nós não os empurramos para isso. Queremos dizer: apoiamos o que decidirem, trata-se de uma decisão estratégica e diplomática de vocês", afirmou o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitali Churkin. Espanha, Suécia, Portugal, Noruega e Bélgica já declararam voto pela soberania palestina. Israel conta com o apoio de Alemanha, Itália , República Tcheca e Bulgária.

Passo à frente A divisão no bloco europeu pode favorecer os palestinos. "Foi melhor assim, porque, como bloco, a maioria pode ser influenciada pelos EUA, enquanto cada país, individualmente, tem margem de manobra", comentou o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al-Zeben. Para o diplomata, o reconhecimento na ONU é um passo adiante nas negociações com Israel.

"O mundo está dividido em uma grande maioria e uma minoria dominante. Porém, a comunidade está a favor da Palestina e de um direito postergado por seis décadas. É preciso entender que esse posicionamento não é contra Israel, mas contra a negativa deles (a reconhecer a Palestina)", completa.

A discussão sobre o conflito deve aumentar até a próxima semana, e os aliados devem aparecer diante do cenário. Se alguns governos europeus ainda estão em dúvida, a população parece ter uma tendência pronunciada, segundo pesquisa divulgada ontem pela organização não governamental Avaaz. Na Alemanha, 84% apoiam a soberania palestina e 76% acreditam que o governo deve votar pelo reconhecimento. No Reino Unido, os números são, respectivamente, 71% e 59%. Na França, 82% e 69%.