O duro ajuste da Petrobrás

 

O Estado de São Paulo, n. 44554, 12/10/2015. Opinião, p. A3

 

O novo corte de investimentos anunciado pela Petrobrás mostra que, fragilizada financeiramente pelo escândalo de corrupção em que foi envolvida e pelo mirabolante e eleitoreiro programa de exploração do pré-sal que o governo do PT lhe impôs, a empresa tornou-se mais vulnerável às oscilações do câmbio e da cotação do petróleo. A decisão deixa claro que nem mesmo o severo ajuste previsto no Plano de Gestão e Negócios para o período 2015-2019, anunciado no fim de junho, com previsão de corte de 37% nos investimentos em relação ao total previsto no plano anterior, está sendo suficiente para colocar suas finanças em ordem.

Sobre os valores já reduzidos no plano, a empresa anunciou corte de 11% nos investimentos programados para este ano e de 30% nas aplicações previstas para 2016, quando, pela primeira vez desde 2008, ficarão abaixo de US$ 20 bilhões. É como se, do ponto de vista financeiro, a empresa tivesse recuado pelo menos oito anos. Quanto à sua imagem e à sua confiabilidade perante os investidores e o público, a perda provocada pela administração petista é muito mais grave.

Há, reconheça-se, algo de positivo na decisão. Com o corte, a diretoria da empresa presidida por Aldemir Bendine procurou mostrar mais uma vez ao mercado que tem autonomia para tomar decisões em áreas cruciais para suas operações e para seus resultados. Já havia feito isso na semana passada, ao anunciar o aumento de 6% da gasolina e de 4% do diesel na refinaria. Embora considerado insuficiente para recompor os principais indicadores financeiros da empresa, o aumento foi interpretado como o sinal de que a estatal não mais continuará sendo utilizada pelo governo para conter a inflação por meio do represamento do preço dos combustíveis, prática que lhe causou pesados prejuízos.

A redução do programa de investimentos, que já era bem mais modesto do que o do ano anterior, de sua parte, mostra que a gestão da Petrobrás não está mais a serviço da política econômica do governo. Para reanimar a economia, o governo Dilma Rousseff tem feito todos os esforços - sem resultados notáveis - para convencer o setor privado a investir. No passado recente, o governo forçou a Petrobrás a investir mesmo à custa do aumento da dívida. Agora, ao anunciar a redução de gastos, a Petrobrás mostra que não será mais utilizada para aumentar os investimentos no País a qualquer custo.

O que sua administração pretende é alcançar os objetivos fundamentais que havia resumido no Plano de Negócios e Gestão, ou seja, “a desalavancagem da companhia e a geração de valor para os acionistas”. Em outras palavras, o que se busca é reduzir o nível de endividamento da empresa e aumentar os lucros. Esses objetivos foram reafirmados na nota em que a Petrobrás anunciou os novos cortes de despesas. Além dos investimentos, serão reduzidos também os custos administrativos e as despesas operacionais, o que deverá resultar em economia de US$ 18 bilhões nos dois anos.

A estatal não alterou suas metas de produção média diária para 2015 (2,125 milhões de barris) e 2016 (2,185 milhões de barris) nem sua projeção de arrecadação com o plano de venda de ativos no biênio. Ela espera obter US$ 15,1 bilhões nos dois anos, mas reduziu para US$ 700 milhões sua previsão de receita neste ano.

A atual direção da empresa demonstra disposição de buscar a disciplina financeira, por meio da redução da dívida - ainda que à custa de corte de programas nas áreas de exploração, produção, refino e distribuição e da venda de ativos -, e a geração de ganhos para seus acionistas. Só com a apresentação de resultados concretos e contínuos nas áreas financeira e operacional a empresa conseguirá, aos poucos, reconstruir sua imagem e sua respeitabilidade, fortemente corroídas pelo esquema lulopetista que dela se apossou e dela extraiu recursos bilionários para distribuir a partidos e políticos governistas. Essa reconstrução é indispensável também para evitar que a empresa seja novamente rebaixada pelas agências de classificação de risco.