O globo, n. 30069, 04/12/2015. País, p. 5

Temer recebeu PSDB e DEM, que falam em governo de união nacional

 

MARIA LIMA, SIMONE IGLESIAS E CATARINA ALENCASTRO

Vice também conversou com Dilma e sugeriu postura ‘institucional’.

Em 48 horas, o vice-presidente Michel Temer recebeu em sua residência oficial integrantes do DEM e do PSDB, que pediram um novo governo de união nacional, relata -BRASÍLIA- No dia do anúncio da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rouseff e nas horas que sucederam a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o vice-presidente Michel Temer conversou com o PSDB, recebeu em sua casa um grupo de políticos do DEM, se reuniu com a cúpula do PMDB, e esteve por cerca de 30 minutos com a presidente Dilma.

Entre os tucanos começa a ganhar força uma discussão sobre como o partido deve participar de um eventual governo de transição comandado por Temer, se a presidente Dilma for afastada. No almoço que tiveram com o vice, no Jaburu, horas antes de Cunha anunciar a abertura do processo, tucanos relatam terem entendido que ele, num eventual governo de transição com caráter de união nacional, descartaria um projeto político e não se candidataria em 2018.

Ao grupo, segundo relatos de participantes, Temer disse que não faria nenhum movimento para assumir no lugar da presidente. Os oposicionistas avaliaram que se essa for a saída constitucional, ele estaria pronto para comandar um governo de unidade nacional, nos moldes do que foi Itamar Franco para Fernando Collor.

— Nós dissemos a ele: se a solução for essa, dentro do processo legal, o senhor não estará sozinho, terá apoio para além do que tem. Isso considerando uma proposta de governo e trabalho para um governo de transição, de unidade nacional. Mas se for um governo com projeto político para 2018 não vai dar certo — contou um dos senadores ao GLOBO.

Uma ala do PSDB defende apoio ao governo de transição para tirar o país da crise. Outra, comandada pelo presidente do partido, Aécio Neves (MG), mais cautelosa, diz que é preciso avaliar bem o embarque, olhando para além da crise. O temor é que o PSDB passe a ser atacado pelo PT do ex-presidente Lula como sócio das dificuldades, em 2018.

Presente à reunião, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) contou que Temer foi muito sóbrio, mas disse concordar com os argumentos do grupo:

— Ele ouviu tudo com muita reserva, mas deixando claro que, para tocar o projeto de unidade nacional, “esse cara soy jo”.

Horas depois, ao ser avisado por Cunha que ele abriria o processo contra Dilma, Temer foi para o Jaburu com os ministros peemedebistas mais próximos: Eliseu Padilha (Aviação Civil), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Helder Barbalho (Portos). A conversa com os tucanos e a avaliação do quadro com a decisão de Cunha foram os principais assuntos. Em seguida, o vice recebeu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador Romero Jucá (PMDBRR). Renan falou que é momento de sobriedade e serenidade. ENCONTRO COM DILMA Por volta das 21h de quarta-feira, chegaram integrantes do DEM: os deputados Mendonça Filho (PE) e Rodrigo Maia (RJ) e o prefeito de Salvador, ACM Neto. O vice ouviu as preocupações com a agudização da crise política e com uma necessidade, na visão deles, de Dilma ser afastada. Afirmou que não se movimentará para que isso ocorra.

Na manhã de ontem, Temer estava na base aérea, embarcando para São Paulo para consulta médica, quando recebeu um telefonema avisando que Dilma o convocara para uma reunião à tarde. Ele respondeu que não tinha condições de ficar em Brasília e foi chamado para conversar com Dilma no Planalto. Numa conversa, da qual participou o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), o vice recomentou que ela mantivesse postura “institucional”. Segundo pessoas próximas, o recado que quis passar foi no sentido de que ela não mantenha briga verbal com Cunha, porque isso tende a agravar o quadro.

____________________________________________________________________________________________________________________________________

Vice e governador desmentem Planalto

JORGE BASTOS MORENO

Temer nega ter dito que ‘não vê nenhum lastro para processo de impeachment’.

-BRASÍLIA- O vice-presidente Michel Temer desmentiu ao Blog do Moreno versões dadas por ministros sobre sua reunião ontem de manhã com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Temer, por meio de sua assessoria, negou ter dito a frase atribuída a ele pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, durante uma coletiva. Mais cedo, Wagner disse:

— O vice Michel Temer tem longa trajetória de democrata e constitucionalista. Assim como nós, Temer não vê nenhum lastro para esse processo de impeachment. O vice desmentiu: — Eu não disse isso em momento algum da minha conversa com a presidente.

Antes, Temer já havia negado a frase dita pelo ministro Edinho Silva (Comunicação), que informara que o vice daria assessoria jurídica para Dilma na defesa do processo de impeachment. Temer negou:

— Essa não é função do vicepresidente da República.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB-PE), também desmentiu ontem que que tivesse assinado um documento repudiando a abertura do processo de impeachment. Em nota, Câmara disse: “Não houve tempo, de minha parte, de conversar sobre esta nota que está circulando como sendo a posição dos governadores do Nordeste. A nota divulgada, a qual respeito, não teve minha participação. E, por isso, gostaria de externar minha posição”.

A nota diz ainda: “Entendo que não existe, até aqui, as condições para o impedimento da presidente da República. Mas há agora um fato consumado: foi aberto o processo de impeachment, para o qual, no meu entender, o presidente Eduardo Cunha tem sua legitimidade comprometida na condução da Câmara. Ele precisa deixar a presidência da Casa”. PAULO CÂMARA: UNIÃO NACIONAL Câmara diz que é preciso ter união nacional para que o momento seja superado. “É necessária uma união nacional para a superação dos atuais obstáculos. Temos que trabalhar duro para que em 2016 esta crise política seja ultrapassada e que os problemas econômicos sejam efetivamente enfrentados. Isso só será possível com estabilidade política para resgatar a confiança e a credibilidade na nossa economia”.

Durante uma coletiva, o ministro Jaques Wagner reafirmou o apoio de Paulo Câmara.

A nota começou a circular ontem e o governo a replicou no Blog do Planalto. Nove governadores do Nordeste — Ceará, Maranhão, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e Piauí — diziam repudiar a abertura do processo de impeachment.