O globo, n. 30069, 04/12/2015. Opinião, p. 21

Investir para curar

LUIS EDUARDO CAROLI 

Há uma mudança no ambiente acadêmico, agora mais disposto a atuar com ciência aplicada à indústria.

Certa ou não, a recente decisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no último dia 11, de investir R$ 10 milhões na fosfoetanolamina sintética — composto estudado no Instituto de Química da USP de São Carlos e tido como esperança para centenas de pacientes com câncer — serve para provocar um caloroso debate sobre a importância de investimento em pesquisas de novos fármacos no país. Afinal, onde estão os recursos para investir em drogas promissoras? Como comprovar segurança e eficácia, seguir os protocolos e padrões de pesquisa, uma vez que é um processo longo, arriscado e dispendioso?

Se, por um lado, os ajustes fiscais, provocados pela crise econômica impulsionaram uma redução no orçamento do MCTI em 25%, e do Ministério da Educação (MEC) em 9%— o que vem gerando atraso no pagamento de milhares de projetos já aprovados no passado e o cancelamento de editais por agências de fomento federais —, por outro, a solução pode estar no fortalecimento do sistema de inovação brasileiro, aproximando cada vez mais investidores privados dos centros de pesquisas nacionais.

Não é de hoje que se sabe que inovação é a estratégia certa para uma política econômica robusta, capaz de tornar um país fortalecido e competitivo. No âmbito da indústria farmacêutica, se o fármaco é capaz de curar uma doença, não há crise que pare o seu desenvolvimento. Até porque a demanda por medicamentos que atendem às necessidades médicas reais não tem fronteira, é global.

Outro ponto positivo é que já há uma mudança no ambiente acadêmico, agora mais disposto a atuar com ciência aplicada à indústria. Essa postura é extremamente importante para reduzir o gargalo entre o conhecimento gerado na universidade e a real necessidade médica mundial.

O Brasil, inclusive, tem um grande potencial no desenvolvimento de novos medicamentos a partir de pesquisas de universidades e instituições brasileiras. Entretanto, faltam parceiros para promover o desenvolvimento além dos estágios iniciais e fazer delas um produto real.

A aplicação da Lei de Inovação seria uma boa forma de transferir essa tecnologia da bancada até a indústria, pois permite, por exemplo, o licenciamento exclusivo para empresas privadas, capazes de realizar os testes necessários até produto final. Um caminho que vem gerando excelentes resultados são os acordos realizados através dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), presentes em instituições nacionais.

Nesses acordos, os NITs garantem, através da Lei de Inovação, o compartilhamento de royalties com a instituição e o pesquisador. Nessa análise, o importante é perceber que todos ganham, principalmente a população, que, no fim, pode se beneficiar de algo que antes poderia ficar restrito a um tubo de ensaio.