O globo, n. 30075, 10/12/2015. País, p. 4

‘Vão acabar decretando a prisão dele’, afirma Renan sobre Cunha

 

MARIA LIMA

Previsão foi feita a interlocutor em conversa presenciada pelo GLOBO.

“A influência dele (Cunha) na comissão vem desde lá de trás. Mas, se ele continuar destituindo relator, trocando líder, manobrando com minorias, vão acabar decretando a prisão dele”
Renan Calheiros (PMDB-AL) Presidente do Senado, em conversa ouvida pelo GLOBO

O presidente do Senado, Renan Calheiros, fez ontem prognóstico sobre o destino do aliado Eduardo Cunha, em conversa ouvida por MARIA LIMA .Caso continue com manobras, “vão acabar decretando a prisão dele”, disse. -BRASÍLIA- O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDBAL), afirmou ontem que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pode acabar sendo preso em função das seguidas manobras que adotou para protelar o processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara. Cunha responde a uma denúncia por quebra de decoro parlamentar, que pode levar à cassação de seu mandato.

— A influência dele (Cunha) na comissão vem desde lá de trás. Mas, se ele continuar destituindo relator, trocando líder, manobrando com minorias, vão acabar decretando a prisão dele — disse Renan, ontem à noite, a um interlocutor por telefone.

O GLOBO presenciou a conversa de Renan. A frase foi ouvida por volta das 22h, quando o presidente do Senado chegava a um jantar na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira, no Lago Sul, em Brasília.

Renan entrou no jardim da residência já falando ao telefone. O GLOBO acompanhava a movimentação do lado de fora. Os integrantes do grupo que acompanhava o presidente do Senado entraram na casa, mas Renan voltou para a escada do lado de fora, no jardim, e continuou o telefonema falando em tom elevado.

SAÍDAS PARA O PAÍS

Ao interlocutor, o presidente do Senado explicava pelo telefone que apresentou a Agenda Brasil (um conjunto de propostas entregues pelo Senado ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para retomada do crescimento econômico), e que ela foi alvo de uma série de reclamações, inclusive da oposição. Destacou, no entanto, que esse precisa ser o papel do PMDB agora: propor saídas para o Brasil.

Renan seguiu falando que teve uma reunião com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para fazer uma avaliação geral do quadro político do país. Foi neste momento que o presidente do Senado passou a abordar a situação de Cunha, sem citá-lo nominalmente. Ele encerrou a conversa com o interlocutor combinando um encontro na próxima semana, e entrou na casa de Eunício.

O jantar reuniu senadores de vários partidos e o vice-presidente Michel Temer, que chegou à casa de Eunício por volta das 23h. Entre os presentes estavam os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Marta Suplicy (PMDB-SP), Edison Lobão (PMDB-MA), João Capiberibe (PSB-AP), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), José Medeiros (PPS-MT), Fátima Bezerra (PT-RN), Lídice da Mata (PSBBA), Ronaldo Caiado (DEMGO), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e o ex-ministro Moreira Franco também estiveram presentes.

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Rogério votou com aliados de Cunha

 

‘Eu não tenho lado nessa história, não tenho posição de prejulgamento’.

-BRASÍLIA- O deputado Marcos Rogério (PDT-RO), novo relator do processo contra Cunha (PMDBRJ) no Conselho de Ética, já declarou que votará pela abertura das investigações. Ontem, no entanto, ele cerrou fileiras ao lado dos aliados de Cunha, votando a favor do adiamento da votação do relatório de Fausto Pinato (PRB-SP). Marcos Rogério, que é advogado, recorreu a argumentos jurídicos para sustentar que a votação poderia provocar, mais adiante, a anulação do processo.

Foi também Rogério um dos que convenceu presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo, a desistir da indicação do deputado petista Zé Geraldo (PA) como novo relator e a fazer novo sorteio de relatores. Indagado, ele disse que não integra o círculo de amigos de Cunha.

— Eu não tenho lado nessa história, não tenho posição de prejulgamento. Não parto de uma premissa de que quem vai para o Conselho tem que ser condenado ou absolvido — avisou Rogério, elogiando a cautela de Araújo ao refazer o sorteio de relatores:

— Ninguém consegue fazer manobras regimentais se não houver questionamentos (possíveis). O que foi feito hoje eliminou a única via de questionamento que eles tinham. Podem recorrer de tudo do ponto de vista formal, mas cabe ao presidente e ao relator a cautela de fazer as coisas sem o calor da emoção.