O Estado de São Paulo, n. 44558, 06/10/2015. Economia, p. B9

Petrobrás anuncia corte de 11% no investimento este ano e de 30% em 2016

A Petrobrás anunciou ontem novo corte de investimentos e gastos administrativos até 2016, em resposta ao agravamento de sua fragilidade financeira com a forte depreciação cambial dos últimos dois meses. No caso dos investimentos, a redução é de 11% este ano (da previsão inicial de US$ 28 bilhões para US$ 25 bilhões) e de 30% no ano que vem (de US$ 27 bilhões para US$ 19 bilhões). Será a primeira vez, desde 2008, que os investimentos ficarão abaixo de US$ 20 bilhões.

O volume total dos cortes, incluindo redução de gastos gerenciáveis (custos administrativos e despesas operacionais), é de US$ 18 bilhões nos dois anos, e deverá atingir todas as áreas da estatal, até mesmo o segmento operacional, de exploração e produção.

É a segunda vez em três meses que a Petrobrás revê seu plano de negócios, no esforço da atual diretoria para mostrar ao mercado maior disciplina de capital e preocupação em reduzir o alto endividamento da companhia. Além de investimentos, a estatal também revisou a estratégia de venda de ativos.

“De modo a preservar seus objetivos fundamentais de redução do endividamento e geração de valor para os acionistas, a companhia está ajustando suas previsões de investimento e gastos operacionais gerenciáveis”, informou o comunicado encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A estatal justificou os novos cortes com as mudanças nas premissas econômicas de seu plano de negócios, como o patamar da cotação internacional de óleo e o câmbio, mas não apresentou as projeções atualizadas. Na divulgação do Plano de Negócios e Gestão 2015-2019, em junho, a estatal previa a estabilização do dólar em R$ 3,10 neste ano, mas ontem a moeda americana foi negociada a R$ 3,90. Já o preço internacional do petróleo era estimado em US$ 60, mas diante da alta nas reservas americanas e de países do Oriente Médio, está sendo negociado abaixo de US$ 50.

Os novos cortes foram definidos na noite de ontem em reunião da diretoria, segundo fontes próximas à empresa. A decisão é vista como um novo recado aos investidores sobre a prioridade dada para a disciplina de capital e redução do endividamento da empresa. O diagnóstico ganhou força após a sinalização de agências de risco e investidores de que o reajuste de combustíveis, anunciado na semana passada, não era suficiente face à deterioração dos indicadores financeiros da estatal.

Desinvestimentos. Mesmo com cortes na área operacional, a meta de produção da petroleira não foi revista. No comunicado, a companhia detalhou o plano de venda de ativos para o biênio, com a previsão de arrecadar US$ 15,1 bilhões. Em 2015, a companhia planeja levantar apenas US$ 700 milhões – o que reforça a dificuldade da estatal em negociar seus ativos diante do cenário adverso.

Até o momento, a Petrobrás vendeu participação em duas concessões na Bacia de Campos, por US$ 25 milhões. A receita adicional com desinvestimentos deve ser alcançada com a confirmação da venda de 49% em ações da Gaspetro para a Mitsui, negociação que está em fase final pela estatal.

O anúncio também confirma o adiamento da oferta pública de ações da BR Distribuidora, principal aposta da companhia para aliviar seu caixa. A venda da subsidiária deve contribuir para a geração de US$ 14,4 bilhões em 2016. A empresa negocia a venda de 28 ativos.