O Estado de São Paulo, n. 44553, 11/10/2015. Opinião, p. A6

 

Impeachment é 'tábua de salvação' de Eduardo Cunha

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem o cronograma do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff como sua ‘tábua de salvação’ contra a ameaça de cassação do mandato diante das denúncias envolvendo contas na Suíça em nome dele e de parentes. Por isso, Cunha dá sinais de que não vai ceder à pressão da oposição, que quer ver o processo de impedimento instaurado até o fim do mês, diante do enfraquecimento do presidente. 

Cunha pretende decidir sobre sete requerimentos apresentados, entre os quais o dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, até esta terça-feira, mas a abertura do processo ainda pode demorar a ocorrer.

Na semana passada, após a rejeição das contas do primeiro mandato de Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a oposição começou a pressionar o peemedebista para que ele acate o pedido de impeachment. Caso isso não ocorra, entra em curso o roteiro desenhado por Cunha e opositores: ele rejeita o requerimento, a oposição apresenta recurso a ser votado pelo plenário, que pode aprová-lo com metade dos votos mais um. Dessa maneira, ele se isenta da responsabilidade por eventual saída de Dilma do cargo.

O problema dessa alternativa, avaliam deputados interessados no impedimento, é que a marcação da data de apreciação do recurso depende da vontade de Cunha e o mais provável é que ele faça uma movimentação nesse sentido quando as denúncias se agravarem, fazendo uma cortina de fumaça para tirá-lo do centro das atenções.

Cunha não se alonga sobre o assunto. "Estou decidindo o mais rápido que posso e eventual recurso será apreciado em tempo ainda não definido", disse ele ao Estado na sexta-feira, antes da revelação de que, segundo o Ministério Público da Suíça, uma conta em nome da jornalista Cláudia Cruz, mulher do parlamentar, foi usada para pagar academia e cursos no exterior

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou esta semana que Cunha e parentes dele têm contas bancárias na Suíça, que foram bloqueadas por autoridades do país europeu. Com base nessas informações, o PSOL vai representar contra Cunha nesta terça-feira no Conselho de Ética da Câmara. Na quarta feira, um grupo de 29 parlamentares de sete partidos (PT, PSOL, PPS, Rede, PROS, PSB e PMDB) entregaram um pedido na Corregedoria da Casa para que as denúncias contra Cunha sejam investigadas.

Dependência

A oposição também faz ameaças veladas de desembarcar do núcleo de apoio a Cunha. Aliados do peemedebista e deputados governistas, porém, acreditam que a oposição não vai retirar o apoio a Cunha pois dependem dele para levar adiante o impeachment. Parlamentares ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato entendem que os opositores querem apenas dar uma resposta a suas bases por causa do apoio ao deputado acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Para um peemedebista aliado de Cunha, o presidente da Câmara ainda tem uma ampla rede de apoio. Além da maioria dos integrantes de PSDB, DEM e PPS, interessados no impeachment, ele tem a simpatia das bancadas suprapartidárias da bala, do agronegócio e evangélica, que, na gestão de Cunha, viram itens de sua pauta, como a redução da maioridade penal e a exclusão de homossexuais do Estatuto da Família, ganharem espaço na Casa.

Outro ponto que ainda garante força a Cunha, segundo aliados, é o fato de ele ser um "arquivo vivo que sabe de tudo", com "enorme capacidade de constranger".

O principal objetivo do Planalto agora é ganhar força pela recomposição da base. Nesta semana, deve começar a distribuir cargos dos segundo e terceiro escalões para os partidos insatisfeitos com a reforma ministerial.