Título: Escola integral em estudo
Autor: Filizola, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2011, Brasil, p. 8

MEC quer aumentar o tempo diário dos alunos nas unidades de ensino ou estender o ano letivo. Segundo especialistas, a falta de professores é um dos obstáculos à medida.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, defendeu, ontem, na abertura do congresso internacional Educação: uma Agenda Urgente, realizado pelo movimento Todos pela Educação, a criação de um regime integral nas escolas públicas do país. Durante seu discurso, ele reconheceu que a medida exigirá mais recursos da pasta e reafirmou o compromisso assumido pela presidente Dilma Rousseff de investir mais no setor. Segundo ele, uma das 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), em discussão no Congresso, é elevar para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) os investimentos na área até 2020.

Ainda em fase de avaliação, o estudo para aumentar a carga horária está sendo feito em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). O ministro informou que as possibilidades em análise são elevar a carga horária diária, que hoje é de quatro horas; ou ampliar o número de dias letivos, atualmente definido em 200 dias. "Há um consenso no Brasil de que a criança tem pouca exposição ao conhecimento. Seja porque a carga horária diária é baixa, seja porque o número de dias letivos é inferior ao de demais países", avaliou o ministro.

Segundo a presidente do Consed e secretária de Educação de Mato Grosso do Sul, Maria Nilene Badeca, a entidade precisa avaliar os impactos dessa medida. "Apesar de a proposta do ministro ser uma transição gradativa, é uma mudança que desencadearia uma série de desdobramentos. Teríamos que reavaliar as férias dos professores, a ampliação do transporte, bem como a merenda, entre outros custos", ponderou. De acordo com o ex-presidente executivo e integrante do Conselho de Governança do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, é preciso investir em melhorias na gestão antes de discutir a escola em tempo integral. "Não teremos como atingir essas metas caso não haja uma maior valorização da carreira do magistério. Precisamos transformar essa carreira em um atrativo para os jovens. (...) Recursos, nós temos. Precisamos é de eficiência na máquina."

A declaração do ministro renovou a discussão em torno do PNE, segundo a opinião do conselheiro do Todos pela Educação. "Eu acredito que o cenário das metas para serem cumpridas até 2020 está bem posto, mas o desafio ainda é operacionalizar isso e colocar a educação como prioridade número um." De acordo com ele, as medidas para expandir universidades federais no país, bem como os cursos profissionalizantes, são relevantes, mas de nada adiantarão se o governo federal não levar adiante as melhorias na educação fundamental. "Sem ensino de qualidade na educação de base, não teremos estudantes qualificados para ocupar essas vagas oferecidas", defende o educador.

POUCOS GRADUADOS O índice de adultos brasileiros (com idade entre 25 e 34 anos) com nível superior de ensino ainda é baixo comparado ao de países ricos, segundo informações do relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O estudo, que abrange os indicadores educacionais de 42 países, foi divulgado ontem pela entidade. De acordo com os dados apresentados, o Brasil tem hoje apenas 12% da população com escolaridade superior, o menor percentual da lista com 42 países. Entre 55 e 64 anos, a proporção cai para 9%, o que indica que, entre gerações brasileiras, o avanço é de apenas três pontos percentuais. Na Coreia do Sul, país que mais avançou, essa diferença é de 50 pontos. Na média, o avanço foi de 15.