Título: Dúvidas continuam
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2011, Economia, p. 9
A trégua das principais bolsas de valores do mundo ontem, um dia depois de fortes quedas na Europa diante do temor de quebradeira de bancos franceses e alemães, não eliminou o nervosismo em torno de um inevitável calote da Grécia. Segundo especialistas, o que se viu foi uma torcida pela saída rápida da atual crise, que acarreta prejuízos há mais de um ano. A situação é tão dramática que os investidores já torcem até pela insolvência da dívida grega, pois se porá um ponto final a um transtorno cujo fim todos já sabem. Os principais pregões europeus fecharam em alta, após grande oscilação, com destaque para Madri (2,53%), Milão (2,19%), Paris (1,41%) e Frankfurt (1,85%).
Também ajudou na reação a expectativa de que os países que integram os Brics ¿ Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul ¿ comprem títulos dos países em maior dificuldade, em especial os da Itália e da Espanha. Sem essa informação, as bolsas asiáticas fecharam de formas diversas, temendo nova crise bancária na Europa. Enquanto Tóquio avançou 0,95%, Taiwan e Xangai retrocederam, respectivamente, 2,88% e 1,06%. O principal índice da Bolsa de Nova York avançou 0,4%. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), no fim de um pregão nervoso, cravou queda de 0,25%, nos 55.543 pontos. Na confusão, o dólar computou mais um dia de alta, cotado a R$ 1,712 para venda ¿ mais 0,16%.
Bancos Na tentativa de afastar a onda de desconfiança que engolfou o francês Société Générale, o executivo-chefe do banco, Frederic Oudea, afirmou que a saúde da instituição está muito boa e que o mau humor dos investidores refletia "medos irracionais". As ações do Société, que haviam caído 11% no dia anterior, subiram 15%. Mas o valor de mercado da instituição continua 50% abaixo do verificado há três meses. A recuperação no dia também atingiu os papéis do BNP Paribas, que subiram 7,2%. As ações do alemão Deutsche Bank, por sua vez, avançaram 8,2%.
A terça-feira foi marcado ainda pela disparada dos juros dos bônus da Itália. O país vendeu US$ 8,84 bilhões em títulos, incluindo um novo de cinco anos, com taxa de 5,6%, a maior para esse vencimento desde o lançamento do euro, em 1999. Manifestantes voltaram a tomar as ruas de Roma em protesto contra os cortes de gastos anunciados pelo governo de Silvio Berlusconi. Eles alegaram que o arrocho empurrará a já frágil economia italiana para a recessão.
Exemplo argentino Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central do Argentina, aconselhou o governo da Grécia a seguir o exemplo do calote da dívida argentina, decretado em 2001. "A Grécia deveria dar um calote grande", disse. Blejer, que assumiu o comando do BC portenho após o país declarar moratória de US$ 95 bilhões, sugeriu que os planos de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE) levarão à recessão e deixarão a Grécia em situação ainda pior. "É ridículo o que está ocorrendo", disse.