O globo, n. 30074, 09/12/2015. País, p. 4

Alinhado ao Planalto, Picciani deve perder liderança do PMDB

 

EDUARDO BRESCIANI, EVANDRO ÉBOLI E ISABEL BRAGA

Comissão apenas com aliados motivou grupo ligado à oposição a reunir assinaturas.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), em quem o governo apostou todas as suas fichas na negociação com o partido, deverá ser destituído hoje da função. Ontem à noite, deputados tinham na mão assinaturas de, pelo menos, 35 peemedebistas favoráveis à substituição de Picciani por Leonardo Quintão (MG). Eles pretendem protocolar o documento ao meiodia. A negociação teve a participação do vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

Segundo os peemedebistas, o apoio para a destituição pode chegar a 40 deputados. A bancada possui 66 deputados. Já prevendo a ameaça ao cargo, mais cedo Picciani articulou com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, a volta de dois deputados que eram secretários: Marco Antônio Cabral e Pedro Paulo. Mesmo assim, os adversários de Picciani asseguram já ter as assinaturas suficientes para concretizar a troca.

COMISSÃO DO IMPEACHMENT

A gota d’água para a queda do líder foi a condução na escolha da chapa para a comissão do impeachment. Alinhado com o Planalto, Picciani não abriu nenhum espaço para parlamentares favoráveis ao impeachment. Todos os seus 16 indicados tinham postura pró-Dilma, segundo os peemedebistas.

A chapa acabou derrotada em plenário e os dissidentes peemedebistas que embarcaram na chapa alternativa serão os representantes do partido na comissão.

— Ele poderia ter feito um cinco a três. Era razoável. Estaríamos satisfeitos — disse um dos articuladores do documento que impõe a troca.

O vice-presidente participou de forma tímida, de acordo com os peemedebistas. Ele foi comunicado ontem da movimentação dos insatisfeitos. Respondeu apenas que desejava a unidade da bancada, o que foi entendido como um sinal verde para os que queriam derrubar Picciani. Na última quinta-feira, segundo interlocutores, o próprio Temer tinha alertado Picciani da necessidade de contemplar toda a bancada na distribuição das vagas da comissão, para garantir a unidade.

A escolha de Quintão para sucedê-lo é o cumprimento de um acordo que havia com o próprio Picciani. Quando foi eleito líder, o deputado fluminense teve o apoio da bancada mineira para derrotar Lúcio Vieira Lima (BA) em troca de apoiar Quintão para o cargo em 2016. No mês passado, porém, Picciani avisou Quintão que desejava continuar na liderança no próximo ano.

DEBATE SOBRE MINISTROS

A saída de Picciani não significará necessariamente uma debandada de ministros indicados por ele, como Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde). Mas, os peemedebistas que constroem a destituição do líder, pretendem debater agora na bancada como será a participação no governo.

— Não vai haver rompimento, mas não tem ampliação de conversa — disse um dos articuladores do grupo.

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Urnas quebradas, empurrões e até cabeçada

 

(Leticia Fernandes e Evandro Éboli)

Votação secreta determinada por Cunha gerou revolta.

Governistas tentaram impedir o acesso às cabines. O resultado da confusão foi derrota do governo e cinco urnas danificadas.

Além de determinar votação secreta para a disputa pela comissão que analisará o pedido de impeachment, o presidente da Casa, Eduardo Cunha, também cortou o áudio da sessão da Câmara e da transmissão pela TV Câmara, provocando críticas de censura. Foi um dia de fúria no plenário da Câmara dos Deputados. Em um ambiente de socos, empurrões, xingamentos e até uma cabeçada de Laerte Bessa (PRDF) em um colega, a Casa elegeu a chapa alternativa para a Comissão do Impeachment. Revoltados com a decisão do presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela votação secreta, deputados do PT e de partidos aliados partiram para o ataque.

A estratégia adotada foi obstruir fisicamente a votação. Para isso, se postaram em frente às cabines de votação, instaladas por Cunha, e tentaram impedir que deputados votassem. O bloqueio gerou reações violentas, como a de José Carlos Aleluia (DEM-BA), que empurrou Jorge Solla (PT-BA) em cima de uma das urnas eletrônicas, fazendo com que ela se quebrasse.

— O deputado veio para cima de mim, bufando, e me empurrou. Além de tudo, são agressores — disse Solla.

Em reação, deputados próCunha tentavam tirar parlamentares do PT das cabines. Laerte Bessa (PR-DF), que é delegado da Polícia Civil, tentou arrancar Valmir Assunção (PT-BA) à força de dentro de uma delas.

— Tira a mão de mim! O lugar é meu. Sai daí, rapaz — disse Bessa. Valmir Assunção respondeu: — Eu tenho meu direito parlamentar. Me respeita, filho da puta. Eu estou na minha vez.

Afonso Florence (PT-BA) também tentou obstruir e jogou no chão computadores usados para a votação. Paulinho da Força (SD-SP) e Paulo Pimenta (PT-RS) bateram boca e quase se engalfinharam. Muito exaltada, Maria do Rosário (PTRS) apontou o dedo para Cunha e o chamou de “lixo da política”.

Líder do governo na Câmara, José Guimarães disse que, hoje, o clima na Casa foi de “baixaria”:

— Nessa Casa, infelizmente pode tudo, não tem mais glamour. Quantas saudades de Ulysses Guimarães!

O resultado da confusão na votação foi a derrota do governo e cinco urnas quebradas.