CRISTIANE JUNGBLUT, DANILO FARIELLO SIMONE IGLESIAS
Reunião pode ser hoje; parte da cúpula do PMDB critica teor do texto; governo evita comentar.
Afastados, a presidente Dilma e o vice Michel Temer devem se encontrar hoje, depois da carta em que faz duras críticas à forma como ele e o PMDB vêm sendo tratados. Ministros e peemedebistas governistas criticaram a atitude de Temer. Já a oposição viu a carta como um rompimento sem volta. -BRASÍLIA- A carta enviada à presidente Dilma Rousseff pelo vice Michel Temer causou reações negativas entre senadores do PMDB governista, em ministros do partido, enquanto aliados do peemedebista silenciaram. O Palácio do Planalto evitou comentários, apesar de ter interpretado a iniciativa como um passo do vice rumo ao rompimento. No final da tarde, Dilma determinou ao ministro Jaques Wagner (Casa Civil) que intermediasse um encontro dela com o vice, o que deverá ocorrer hoje.
Temer passou o dia recolhido no Palácio do Jaburu (residência oficial da vice-presidência), em conversas com seus aliados próximos.
Correligionários do vice receberam a iniciativa com perplexidade e disseram que Temer se “apequenou” com o conteúdo da carta. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse “lamentar muito” que seu partido esteja no centro da crise política que envolve o governo e que o PMDB não tem “perfil de golpe”:
— Lamento porque o PMDB é um partido que tem história no Brasil e com a democracia. O PMDB não tem histórico nem perfil de golpe. Não creio que o PMDB apoie nenhum movimento que venha a fazer uma ruptura à nossa democracia — afirmou.
Cinco dos seis ministros do partido — Braga, Kátia Abreu (Agricultura), Helder Barbalho (Portos), Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) — estavam em reunião na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), quando receberam o documento. Em vez de agregar, a carta mostrou uma “fratura exposta” do PMDB, disse um dos participantes da reunião, que afirmou ainda que todos ficaram perplexos. A avaliação foi que o vice errou ao “fulanizar” as queixas.
— Lemos estarrecidos o conteúdo. A carta é miúda, mostra um vice frustrado. Apequenou, diminuiu Michel — disse um integrante da cúpula peemedebista, ligado a Dilma.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ter sido surpreendido pela carta e também fez críticas indiretas ao tom usado. Alertou que a aliança do PMDB com o governo deve ser programática. Ele passou os dois últimos dias reunido com a cúpula do PMDB, inclusive em conversas na residência do ex-senador José Sarney (PMDB-AP).
— Ela (carta) só tem sentido como desabafo, não é ação político-partidária. O PMDB tem que participar do governo em torno de uma coalizão, que tenha fundamento programático. Porque, se não, essa discussão vai voltar para ser essa coisa de cargo, de prestigiou não prestigiou, de confia ou não confia. Isso não qualifica nem o partido nem a política brasileira — alfinetou.
TEMER PASSA O DIA COM ALIADOS Anteontem, horas após o envio da carta, o núcleo político de Temer se reuniu no Jaburu, de onde só saiu após 3h de terça-feira. Entre os presentes estavam os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e o deputado Lúcio Vieira Lima, da ala mais oposicionista do partido.
Perto da meia-noite, o ministro da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, telefonou ao vice para perguntar sobre a carta e dizer que Dilma teria sabido da existência do texto pela imprensa — informação negada por um assessor de Temer, que comunicou a Adams que às 17h34m de segunda-feira a carta estava no gabinete presidencial.
Após o telefonema, Adams foi ao Jaburu conversar com os peemedebistas e tentar “medir a temperatura”, segundo relato de um participante da conversa.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que o vice expressou “o juízo” dos que defendem o afastamento do PMDB do governo:
— Essa carta marca um posicionamento de distanciamento do PMDB com o governo. Não tem nada a ver com o processo de impeachment, mas essa carta é uma largada para a saída do PMDB do governo — disse Cunha.
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Integrantes da oposição se disseram incrédulos com o agravamento da crise que envolve a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer, que em carta enviada a sua companheira de chapa revelou a disposição de se manter distante, no momento em que ela enfrenta um processo de impeachment. Senadores tucanos avaliaram que a carta significa uma ruptura profunda e irreversível entre os dois e criticaram a preocupação de Temer por cargos no governo.
— Vejo que é uma carta de rompimento, na qual o vicepresidente demonstra sua contrariedade, a sua amargura em relação à presidente da República. Acho, entretanto, que ele poderia ter se detido na questão republicana, na questão maior do mal que este governo e o PT fizeram ao país nestes últimos 13 anos. Acho que houve um destaque excessivo para nomeação ou ausência de nomeação — criticou o presidente do PSB, senador Aécio Neves (MG).
Presidente da Comissão de Relações Exteriores, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), avalia que a carta foi uma “ruptura grave”, sinal verde para o PMDB aprovar o impeachment da presidente:
— Acho que esse é um movimento sem volta. A presidente Dilma cometeu a imprudência de tentar dividir o PMDB e isso não está certo. Penso que essa carta é sinal de uma ruptura irreversível, sinal de consequências muito graves para a presidente.