O globo, n. 30073, 08/12/2015. País, p. 6

Decisão do Conselho de Ética sobre Cunha pode ser adiada

 

JÚNIA GAMA E ISABEL BRAGA

(Colaborou Evandro Éboli)

Presidente da Câmara marca outra reunião para o mesmo horário.

-BRASÍLIA- A votação marcada para hoje que decidirá se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), continuará a ser investigado pelo Conselho de Ética da Casa, em um processo que pode terminar com a cassação do seu mandato, deve ser mais uma vez adiada. A decisão que pode levar a esse adiamento foi tomada pelo próprio Cunha, com o aval da oposição, ao marcar para o início da tarde de hoje a instalação da comissão especial que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Prevista para ocorrer ontem às 18h, a instalação da comissão especial foi remarcada para as 14h, mesmo horário em que a sessão do Conselho de Ética votaria o relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato de Cunha. Ele, porém, negou que o movimento seja mais uma manobra para impedir o trabalho do colegiado.

— Sobre Conselho de Ética, vamos deixar claro: não tem intuito meu, não (de inviabilizar a votação). Não estou marcando sessão na hora do Conselho de Ética, ele é que marcou para esse horário. Se não tivesse Conselho de Ética, eu tinha chamado sessão extraordinária para amanhã (hoje) de manhã — disse Cunha, em entrevista coletiva.

Procurado pelo GLOBO, o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse que não pretende adiar a sessão, mas admitiu que a votação pode ficar somente para amanhã. Araújo demonstrou irritação ao ser informado do choque de horários, uma vez que marcou primeiro a sessão.

— É brincadeira! Mais uma vez? Tenho o direito de reclamar — disse. MANOBRA PODE LEVAR A PUNIÇÃO LEVE Em outra frente, aliados de Cunha planejam apresentar um novo relatório pedindo que o presidente da Câmara seja investigado apenas por ter omitido à CPI da Petrobras ser dono de “trusts” com milhões de dólares no exterior. Caso esse relatório seja aprovado, em detrimento ao do deputado Fausto Pinato (PRB-SP), Cunha pode receber punição mais leve do que a cassação do mandato, como a suspensão temporária.

Em repúdio à decisão de adiamento anunciada por Cunha, o líder do PT, Sibá Machado (AC) deixou a reunião de líderes. Segundo Sibá, o processo começa contaminado. Indagados se o adiamento da eleição da comissão do impeachment ajudaria Cunha, pois dificultaria a votação no Conselho de Ética, os líderes da oposição negaram.

— A sessão começa com discursos, votação é só mais tarde — afirmou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP).

Há pelo menos três semanas, aliados do presidente da Câmara conseguem, com manobras, protelar a análise do relatório contra Cunha no Conselho de Ética. Ontem, defensores do impeachment da presidente Dilma se posicionaram favoravelmente ao adiamento que beneficia Cunha para ganhar tempo nas negociações políticas que alterem a correlação de forças na comissão do impeachment.

Os oposicionistas creem que conseguirão construir um consenso sobre a presidência e a relatoria na comissão do impeachment para que sejam eleitos representantes com posicionamento mais “independente”, e não deputados automaticamente alinhados ao Palácio do Planalto. 

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Edifício Comodoro contra peemedebista

 

ALINE MACEDO*

(*Estagiária sob supervisão de Carter Anderson)

Faixa de protesto foi colocada por moradores.

Uma faixa preta de 28 metros de altura com dois riscos em verde e amarelo, na qual se lê “Fora Cunha”, cobre desde o mês passado parte da fachada do Edifício Comodoro, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ao lado da Praça do Lido.

O protesto contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pode ser visto da praia, foi idealizado por um morador, analista de sistemas, que prefere não se identificar. Ele disse que nunca participou de manifestações políticas, mas julgou que as acusações contra Cunha exigem uma tomada de posição:

— Ele está mentindo, dizendo que não tem conta na Suíça. Isso é um erro muito grande, e a população ficar calada seria um erro ainda maior.

O analista recolheu assinaturas dos vizinhos, que aprovaram a faixa. Com a ajuda de amigos, comprou o tecido e pintou a mensagem, exposta desde 15 de novembro, data da proclamação da República.