O globo, n. 30073, 08/12/2015. Economia, p. 20

Analistas já veem inflação de 6,7% e recessão de 2,31% em 2016

 
GABRIELA VALENTE

Juros só devem recuar em 2017, segundo previsões do Boletim Focus.

Essa é a média das previsões para o PIB brasileiro em 2016, segundo o Boletim Focus, do BC. Até semana passada, a estimativa era de uma queda de 2,04% -BRASÍLIA- Apesar de o país enfrentar uma recessão econômica e de o Banco Central ter endurecido o discurso contra a alta de preços, sinalizando que deverá aumentar os juros novamente, os analistas do mercado financeiro vislumbram que a inflação vai estourar o teto da meta do ano que vem. A previsão dos economistas subiu de 6,64% para 6,7%, segundo o levantamento semanal Focus, feito pelo BC.

E, pela nona semana seguida, o mercado piorou também sua estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) em 2016. Agora, a previsão é que a economia sofra uma retração de 2,31%. Até semana passada, a projeção era de uma queda de 2,04%. No último dia 1º, o IBGE divulgou que o PIB brasileiro caiu 4,5% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado.

ESTE ANO, INFLAÇÃO DE 10,44% O BC deve apertar a política monetária para tentar conter as expectativas de inflação. A meta do governo era manter o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,5% neste ano e no ano que vem, com margem de tolerância de dois pontos percentuais — ou seja, no máximo, o IPCA poderia chegar a 6,5%. Mas as previsões para a inflação no ano que vem já ultrapassaram o teto da meta e não param de subir.

Serão dois anos ruins seguidos para o BC. Afinal, a expectativa do Focus é que o IPCA chegue a nada menos que 10,44% neste ano: mais que o dobro da meta que a autoridade monetária deveria perseguir.

Para a taxa básica de juros, agora a expectativa do Focus é de que a Selic só caia a partir de janeiro de 2017, de 14,25% para 13,75% ao ano e chegando ao meio do ano em 13%. Até a semana passada, esperava-se uma queda nos juros básicos ainda no ano que vem. Essa mudança nas previsões sobre juros reflete a sinalização, feita pelo BC na ata da última reunião do Copom, semana passada, de que poderá voltar a subir os juros.

Consequentemente, a aposta para a inflação em 2017 melhorou levemente. Passou de 5,12% para 5,10%. Até lá, a crise deve ser um pouco mais forte do que o esperado antes. Neste ano, a economia deverá sofrer uma recessão de 3,5%, segundo o Focus. Há economistas que são ainda mais pessimistas e apostam em uma contração de até 4% no PIB em 2015.

— A situação da crise não será resolvida com o impeachment da presidente, ou seja, de uma hora para outra. Vamos ver o prolongamento da crise — diz o economistachefe da corretora INVX Global, Eduardo Velho.

“A crise econômica que envolve o Brasil ainda tem muito a evoluir negativamente, pois encerramos 2015 sem vislumbrar perspectiva que sugira a solução do complexo caos em que foi envolvida toda atividade do país, e mais, com a forte convicção de que em 2016 o PIB será negativo novamente, na mesma linha de perda de dinamismo da atividade industrial, e com agravantes consequentes como aumento do desemprego, perda de renda e capacidade de consumo”, afirmou Sidney Nehme, economista-chefe da NGO corretora, em relatório.