Deputado fez pressão sobre empresas, diz delator

 

MATEUS COUTINHO, ANDREZA MATAIS E RICARDO BRANDT

O Estado de São Paulo, n. 44685, 23/10/2015. Política, p. A6

 

O lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como um dos operadores de propinas na Petrobrás, revelou em sua delação premiada que partiu do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a iniciativa de pressionar multinacionais a pagar propina referente a contratos de navios-sonda da estatal por meio de requerimentos apresentados na Câmara.

De acordo com Baiano, ele se reuniu, em 2011, com o deputado e, segundo o delator "nesta reunião Eduardo Cunha disse que havia tomado a decisão de fazer um requerimento na Comissão de Fiscalização da Câmara pedindo explicação sobre os negócios de Julio Camargo". A informação foi antecipada pelo estadao.com.br.

De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o pagamento de propina de US$ 40 milhões relativa aos contratos de construção de dois navios-sonda - Petrobrás 10.000 (contratado em 2006) e Vitória 10.000 (contratado em 2007) - pelas multinacionais Samsung e Mitsui foi acertado entre Baiano e o lobista Júlio Camargo, que representava as empresas e atualmente também é delator na Lava Jato.

A propina seria dividida entre o então diretor da Petrobrás Nestor Cerveró e seus subordinados na Diretoria, Fernando Baiano e Eduardo Cunha - este último teria ficado com US$ 5 milhões

A partir de 2010, contudo, Camargo deixa de realizar os pagamentos e, de acordo com Baiano, ainda faltava quitar R$ 16 milhões. Em sua versão, a propina era de US$ 35 milhões.

Ainda segundo Baiano, diante do atraso, foram realizadas reuniões entre ele e o peemedebista na casa e no escritório de Cunha, no Rio, entre 2010 e 2011. Nesses encontros foi definida a estratégia para pressionar o lobista. O uso do requerimento na Câmara pedindo explicações sobre os contratos das empresas representadas por Camargo com a Petrobrás é um dos elementos que embasou a denúncia contra o presidente da Câmara no Supremo Tribunal Federal. A Corte ainda vai decidir se aceita a ação.

Visitas. A primeira reunião descrita por Baiano na residência de Cunha teria ocorrido no segundo semestre de 2010, quando o presidente da Câmara era candidato a deputado federal pelo PMDB do Rio. Baiano disse ter revelado o acerto com Camargo e pediu ajuda do parlamentar para pressioná-lo a quitar a dívida em troca de dividir sua porcentagem da propina com ele.

Como estava envolvido com a eleição, na época, o peemedebista teria lhe dito que não teria condições de "gastar tempo" com aquilo, mas que pensaria em uma solução. Apresentou, no segundo encontro, em 2011, a ideia dos requerimentos na Câmara. O Estado não conseguiu contato com os citados ou suas defesas.