Título: Talibã exibe força
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2011, Mundo, p. 16

Homens-bomba e atiradores atacam a sede da Otan, a Embaixada dos EUA e prédios do governo, em Cabul. Treze pessoas morrem

A milícia fundamentalista islâmica Talibã realizou ontem o mais organizado atentado simultâneo e coordenado contra Cabul desde o início da ofensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em outubro de 2001. Primeiro, homens fortemente armados usaram bombas e fuzis no ataque ao quartel-general da aliança militar ocidental e à Embaixada dos Estados Unidos. Pelo menos 13 pessoas morreram ¿ seis rebeldes, três policiais e quatro civis ¿ e 23 ficaram feridas. Horas depois, a capital do Afeganistão foi palco de uma troca de tiros entre os dois lados que continuou até a madrugada de hoje. Os ataques se intensificaram desde o anúncio de transição das forças de segurança internacionais para o governo local e podem atrapalhar os planos de retirada dos Estados Unidos.

Localizadas no centro de Cabul, a Embaixada dos EUA e a sede da Otan são prédios conhecidos pelo rígido esquema de segurança. Os militares, funcionários e cidadãos comuns foram surpreendidos por homens-bombas e por atiradores posicionados no alto de um prédio, que dispararam inclusive contra um ônibus escolar. Cinco horas depois do ataque, a capital foi invadida pelo barulho dos tiros disparados pelas tropas internacionais e pelos rebeldes. Segundo a polícia afegã, os extremistas tinham armas pesadas e escondiam munição, comida e bebidas energéticas em um refúgio com vista privilegiada da rua que concentra as principais representações diplomáticas. O Talibã chegou a mandar mensagens de texto para a imprensa para anunciar e explicar a ação.

A violência em Cabul aumentou a partir de junho e coincide com o processo de transferência da responsabilidade da segurança para o governo local. O primeiro ataque teve como alvo o Hotel Intercontinental, que abrigava dezenas de estrangeiros, e causou a morte de 19 pessoas, em 28 de junho passado. O mais recente, 52 dias depois, deixou nove mortos. Os atentados de ontem foram mais um exemplo da ofensiva dos rebeldes, que tentam enfraquecer as autoridades locais. "É difícil derrubar uma força dedicada, que tem apoio de boa parte da população. Claramente, existem problemas com as forças afegãs, mas não está claro que o ataque poderia ter sido prevenido, caso os EUA se apoiassem mais nas suas próprias tropas", disse ao Correio o norte-americano Bob Jervis, professor de Relações Internacionais da Columbia University.

Calendário mantido O presidente afegão, Hamid Karzai, condenou os ataques e declarou que a onda de violência não deve alterar a transição das forças de segurança. "Os atentados não podem impedir que o processo aconteça, mas sim moldar a determinação do povo de tomar a responsabilidade da situação do seu país", disse o chefe do governo em um comunicado. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, também afirmou ontem que as tropas dos EUA não devem alterar sua missão por ações deste tipo. "Os funcionários da embaixada não serão intimidados por este tipo de ataque covarde. Permaneceremos vigilantes, mas vamos continuar trabalhando neste país, com um compromisso ainda mais forte", apontou a chefe da diplomacia americana.

No fim de maio, o presidente americano, Barack Obama, anunciou a retirada gradual das tropas. A previsão é de que, por ano, 20 mil soldados retornem aos EUA, a partir de 2012. Apesar da pressão externa para a permanência no país e da falta de uma forte estrutura dentro do governo afegão, o chefe de Estado deve continuar seu plano de retirada. O custo anual do conflito para os cofres americanos é de US$ 113 bilhões. Com uma crise financeira nas mãos e com a maioria da população a favor do retorno dos soldados, é difícil para Obama retroceder, às vésperas das eleições presidenciais.

Para garantir uma sólida transição, os Estados Unidos e as tropas da Otan treinam as forças de segurança afegãs para assumirem a defesa do país e tentam organizar uma estrutura policial e militar, a fim de combater possíveis ações terroristas. Mas, além disso, o governo americano pode ter que começar uma negociação com o Talibã para manter certa estabilidade. "Tanto os Estados Unidos quanto o governo do Afeganistão têm buscado um diálogo com a milícia, mas ao que parece existe um espaço muito grande entre as posições, e as expectativas para o futuro são muito discrepantes para permitir qualquer acordo", comentou Bob Jervis.

Curiosos observam helicóptero durante cerco aos militantes talibãs, que têm semeado o pânico em Cabul e afrontado as autoridades locais

OFENSIVA PARA "BARRAR" A PALESTINA NA ONU Os Estados Unidos enviaram dois representantes ao Oriente Médio para negociar com os palestinos e israelenses o bloqueio do pedido de reconhecimento do Estado da Palestina diante da Organização das Nações Unidas (ONU), na próxima semana. A secretária de Estado, Hillary Clinton, anunciou que os americanos David Hale, enviado para o Oriente Médio, e Dennis Ross, conselheiro especial do presidente Barack Obama, devem ir até a região para discutir o assunto. Os dois devem se reunir, até o fim de semana, com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e com o presidente palestino, Mahmud Abbas. A intenção é promover um novo diálogo entre os dois lados, sem levar a questão à Assembleia Geral. "As negociações diretas entre as partes são o único meio de chegar a uma solução duradoura. É uma via que passa por Jerusalém e Ramallah, não por Nova York", disse Hillary.