O globo, n. 30071, 06/12/2015. País, p. 8

Vaga na Comissão Especial gera disputa nos partidos

 

EVANDRO ÉBOLI

Concorrência afasta até líderes, candidatos naturais das legendas.

Em vários partidos — da oposição e do governo — está em curso uma briga de foice para ver quem fará parte da Comissão Especial de Impeachment da presidente Dilma Rousseff, que será instalada amanhã. São muitos pretendentes para poucas vagas. As legendas têm até as 14h de amanhã para indicar seus nomes.

Pouco mais da metade da bancada de 21 deputados dos DEM luta por uma das duas vagas de titular da comissão a que a sigla tem direito. Na impossibilidade, buscam as duas suplências. Estão nessa disputa Rodrigo Maia (RJ), Ônyx Lorenzoni (RS), Cláudio Cajado (BA), Alexandre Leite (SP), Mandetta (MS) e Elmar Nascimento (BA), entre outros. Com tantos aspirantes, o líder do partido, Mendonça Filho (PE), decidiu ficar fora da disputa.

— Evidentemente que gostaria de estar na comissão, pelo meu histórico e protagonismo que adquiri no partido, mas, como líder, nessa hora é preciso ser magnânimo. Vamos decidir quem serão os integrantes com muita conversa e anunciaremos na segunda (amanhã) — disse Mendonça Filho.

CONCORRÊNCIA EM GRUPO DE WHATSAPP

No PSDB, a situação é idêntica. Entre 15 e 20 dos 54 deputados da bancada pleiteiam uma das seis vagas de titular destinadas ao partido. Até a natural indicação dos líderes Carlos Sampaio (SP) e Bruno Araújo (PE), da minoria, corre risco. Não será uma composição fácil.

— Inicialmente, foram anunciadas as duas presenças, minha e do Sampaio. Está confirmado? Está. Mas há muita demanda. Há o protagonismos dos líderes, mas... Tem duas correntes no partido: uma que defende indicação dos mais experientes, e outra que pretende que seja uma composição mais mesclada, com novatos também. Tem a questão da representação feminina e o tamanho da bancada por estados. Enfim, muitas vertentes para analisar — disse Araújo.

Nos gigantes PMDB e PT, cada um com oito vagas titulares na comissão, o enfrentamento também existe. Mais no PMDB — em que há parlamentar a favor e contra Dilma — do que no PT, partido fechado contra o impeachment. Entre os petistas, a disputa é só de nomes, não de posição, caso do PMDB. Entre os 65 peemedebistas, pelo menos 30 manifestaram desejo de participar da comissão.

No PSD, a disputa recorre à tecnologia. É no grupo de WhatsApp da legenda que cada um da bancada anuncia o desejo de ser indicado. O partido tem 36 deputados e quatro vagas de titular. Sóstenes Cavalcante (RJ), contrário a Dilma e a favor do impeachment, postou no grupo que a escolha deve ser equilibrada, e não apenas de governistas. A decisão deve passar pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades).

— Fui o primeiro a me manifestar no grupo. Mas acho difícil ser escolhido dado o meu perfil antigoverno — disse Ricardo Izar Júnior (SP).

Todos os 29 partidos com deputados na Câmara estarão representados na Comissão Especial do Impeachment. Vários partidos já definiram seus nomes; alguns deles escolheram seus líderes. Mesmo sem fechar toda a relação, o PT já escolheu o líder do governo, José Guimarães (CE), e o líder do partido, Sibá Machado (AC). O PCdoB, que tem apenas uma vaga, vai com a líder Jandira Feghali (RJ). O Solidariedade escolheu para seus dois assentos na comissão o presidente da legenda, Paulinho da Força (SP), e o líder do partido, Arthur Maia (BA). Para sua única vaga, o PV indicou o líder Sarney Filho (MA). O PSOL também escolheu o líder Ivan Valente (SP).

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PT e CUT se reúnem para criar frente contra impedimento

RENATO ONOFRE

Encontro está previsto para amanhã, em São Paulo, com participação de Lula.

O diretório paulista do PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocaram para amanhã reunião com sindicatos, movimentos sociais e partidos da base aliada para definir quais serão os passos em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff. O principal nome do encontro será o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, para dirigentes petistas, é quem tem a capacidade de mobilizar e, novamente, unificar o país.

— O papel do presidente Lula será fundamental. A capacidade de mobilizar e unificar dele é inegável. Vamos para a luta — afirmou o presidente estadual do PT, Emídio de Souza.

Os petistas vão propor a formação de um núcleo duro e de uma ampla frente “contra o golpe”. A ideia é reunir representantes de todos as legendas e entidades aliadas e até de grupos opositores contrários ao impeachment para a criação de uma agenda conjunta de atos pelo país.

— É a hora de se formar uma frente ampla, multipartidária, contra esse ataque direto à democracia — afirmou Emídio de Souza.

Nem dos partidos de oposição, os dirigentes petistas vão abrir mão. Souza afirmou que o PT deve procurar representantes da Rede Sustentabilidade, comandada pela ex-senadora Marina Silva, e do PSOL para, juntos, formarem no Congresso um bloco contrário à derrubada da presidente Dilma.

De acordo com o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, a hora é de mobilização:

— Vamos reunir todos os atores em defesa da democracia. Vamos sentar e definir um estratégia comum em defesa da democracia.

Ontem, dirigentes petistas passaram a manhã em reuniões discutindo a crise política. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, se encontrou com lideranças locais para azeitar o discurso do partido. À tarde, ele compareceria a um ato de filiação do PT no bairro da Liberdade, região central da capital paulista, ao lado do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Os dois cancelaram a agenda marcada por dirigentes municipais.

O ato de filiação ficou abaixo das expectativas dos dirigentes municipais petistas. Estavam previstas 500 novas filiações, mas menos de 50 pessoas compareceram. O secretário de Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha, passou pelo local e fez um discurso em defesa do legado de Dilma. Padilha foi ministro da Saúde durante o primeiro mandato da presidente.

MANIFESTAÇÃO NO RIO

Apesar de ter convocado a reunião com aliados para discutir estratégias conjuntas em defesa do mandato da presidente, a CUT já marcou atos pelo país contra o impeachment. Em reunião na última quinta-feira, a CUT convocou um ato para terça-feira, no Rio, às 16h, na Candelária. Em seguida, os manifestantes seguirão a pé até a sede da Petrobras, no Centro. Também estão previstas manifestações em Salvador (7/12), Belém (9/ 12) e Porto Alegre (11/12).