O globo, n. 30071, 06/12/2015. Opinião, p. 18

Opção nuclear cresce de importância com a COP-21

 

À medida que os líderes de 196 nações discutem na COP-21, em Paris, um compromisso formal para conter o aquecimento e evitar seus efeitos catastróficos, não há praticamente mais dúvida na comunidade científica de que o extraordinário aumento da temperatura na Terra, a partir da expansão da era industrial, se deve à ação humana. Outro consenso, quando se examinam as discussões em andamento, é que, consideradas em seu conjunto, as propostas já apresentadas pelos governos são insuficientes para garantir a meta de conter no patamar máximo de 2ºC a elevação da temperatura média do planeta ao longo do século.

Na luta para conter o aquecimento global, por meio da redução dos gases do efeito estufa (GEE), o uso da energia nuclear, como fonte limpa, é uma opção incontornável. A energia atômica é hoje a única fonte capaz de garantir o atendimento da demanda por energia global, levando-se em conta o nível atual de industrialização e desenvolvimento de nossas sociedades, e, ao mesmo tempo, evitar a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. As louvadas fontes solar e eólica, que devem ser estimuladas, produzem hoje 2% da energia do mundo, e suas estruturas de produção não estão crescendo num ritmo acelerado o suficiente para substituir as fontes intensas em GEE. E ainda há questões técnicas a resolver.

O acidente de Fukushima, em 2011, reforçou a retórica do medo, exagerando os riscos inerentes às usinas nucleares. Alguns países, como o Reino Unido, anunciaram a substituição de suas matrizes energéticas. Mas, à medida que o tempo passou, verificou-se a extraordinária conjunção de eventos que provocaram o acidente: um terremoto de alta intensidade, seguido por tsunami. Fukushima provocou uma revisão completa da política de energia atômica não só no Japão, que tornou hoje os reatores mais seguros.

Ao mesmo tempo, os países que optaram por fechar usinas se viram em dificuldades para atender à demanda de energia. Muitos deles agora estão revendo posições, entre eles os EUA. A França é exemplar. O país ocupa hoje o 20º lugar no ranking mundial de renda per capita, e, no entanto, é apenas o 50º país em emissões de GEE. Esta relação só é possível porque sua matriz energética é majoritariamente nuclear.

O Brasil optou por adiar seus projetos. A produção das usinas de Angra 1 e 2 representam apenas 2% do volume total. A fonte hidrelétrica vem declinando, quando se comparam dados dos planos decenais de energia: era 67%, em 2011, e passou para 62%, em 2014. Novas usinas, no Norte, são a fio d’água, sem grandes reservatórios, e por isso produzem menos no período de seca. Já a produção de termelétricas, fonte suja, cresceu, na mesma comparação, de 14% para 15%.

Se os delegados presentes na COP-21 estão de fato comprometidos ao máximo para conter o aquecimento global, o uso de energia nuclear não pode mais ser ignorado.