Título: No DF, redação é o forte dos alunos
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2011, Cidades, p. 26

Entre as 20 escolas do Distrito Federal que conquistaram as maiores médias gerais no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o sucesso dos alunos na prova não foi o único fator comum. Em 18 delas, o teste de redação garantiu aos estudantes as notas mais altas. Dessas, 13 tiveram matemática como a segunda melhor pontuação, enquanto a área de ciências humanas foi a segunda mais relevantes para as outras cinco. O padrão também aparece quando são observadas as médias mais baixas: em 19 escolas analisadas, os alunos tiveram o pior desempenho em ciências da natureza.

Para especialistas em educação, alguns fatores podem explicar essa tendência a partir de uma análise mais ampla. Inicialmente, qualquer hipótese seria especulação, já que o Enem não tem como objetivo avaliar as escolas e os resultados, à primeira vista, parecem contraditórios. Mas, a partir das médias alcançadas pelas 20 escolas com as maiores notas, é possível perceber que a pontuação das redações elevou a média geral dos estudantes. No Colégio Galois, por exemplo, 95 pontos separam a nota dos alunos em redação ¿ a maior ¿ da conquistada na prova de ciências da natureza, a menor. O Galois teve a segunda maior média geral das escolas do DF. A diferença mais ampla entre as áreas avaliadas foi constatada no Colégio Batista de Brasília: 165 pontos de distância entre as notas da redação e as obtidas na prova de ciências da natureza. A escola ocupa o terceiro lugar no ranking local.

Especialistas em políticas públicas, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Remi Castioni supõe que o curto espaço de tempo entre a realização dos testes do Enem e o vestibular promovido pela instituição pode ter influenciado esse resultado. "As duas provas aconteceram próximas uma da outra. É bem provável que esse estímulo dado aos alunos tenha contribuído para isso, já que aí havia um contexto em valorizar a redação e o senso crítico do aluno", afirma o professor, lembrando que essa prova tem peso maior na avaliação da UnB. Para ele, como a maioria dessas 20 escolas são privadas e têm foco no vestibular das universidades públicas, a preparação do aluno pode ter influenciado o desempenho no Enem.

Contradição

Na opinião do professor da UnB e ex-subsecretário de Educação do D,Erasto Fortes, não há como traçar um diagnóstico preciso a partir dos números divulgados pelo MEC. "Para fazer uma boa redação, o estudante precisa ter domínio de linguagens e códigos. Não tem lógica ele ir bem em uma área e mal na outra. Para fazer uma inferência, é preciso uma análise de qualidade", defende. Para o pesquisador, as médias obtidas pelas instituições no exame não devem servir de base para os pais na hora de escolher onde matricular os filhos. "O Enem é um exame feito para avaliar o estudante individualmente. Não serve para medir a qualidade das escolas e nem dos sistemas de ensino".

A contradição entre os bons resultados conquistados no teste d redação e o rendimento mais baixo na avaliação da área de linguagens e códigos também foi notada pela especialista em educação e coordenadora do curso de pedagogia da Unieuro, Ivanna Torres. "Deveria haver uma vinculação entre as duas provas, assim como para ciências da natureza e matemática", analisa.

A pesquisadora salienta que a melhor escola em determinado ranking pode não ser boa para um perfil específico de aluno. "Se eu tenho uma determinada religião e a opção da escola é totalmente oposta, esse é um fator importante. Se eu priorizo que o meu filho passe em um vestibular ou tenha outro tipo de formação, isso precisa ser levado em consideração. É necessário conhecer as possibilidades que o filho tem para se desenvolver dentro daquele ambiente, mais do que esses números", avalia.

Para saber mais

Sistema de pontuação

O Enem é composto por testes em quatro áreas de conhecimento: linguagens e códigos ¿ que inclui a redação ¿ ciências humanas, ciências da natureza e matemática. Cada prova é composta por 45 itens de múltipla escolha.

O exame tem cinco médias diferentes, uma para cada área do conhecimento avaliada e uma para a redação, mas não há diferenciação de peso entre elas. O Enem é baseado na Teoria de Respostas ao Item (TRI). Quem elabora as questões precisa se preocupar em medir níveis de conhecimentos diferentes por meio das perguntas. Em uma mesma prova, é importante que elas variem entre três níveis: fácil, mediando a difícil. Dessa forma, esse itens têm que conseguir separar quem sabe o conteúdo dos que apenas tentam acertar no chute. A teoria começou a ser aplicada no Exame Nacional do Ensino Médio em 2009, para garantir a possibilidade de comparação das notas de diversos anos, mas já é usada pelo MEC desde 1995. O que pode ocorrer é que, nos processos seletivos, as instituições utilizem pesos diferenciados entre as áreas para classificar os candidatos, de acordo com os cursos pleiteados.