O globo, n. 30071, 06/12/2015. Economia, p. 36

Bancos abrem disputa por clientes do BTG

 

ANA PAULA RIBEIRO

RENNAN SETTI 

Segundo fontes do mercado, áreas de gestão de recursos e de fusões e aquisições são as mais assediadas.

O esforço para reorganizar a casa após a prisão de André Esteves pode fazer com que o BTG Pactual perca o posto de maior banco de investimento do país. Enquanto precisa reforçar o caixa para lidar com a crise de credibilidade, os demais concorrentes encontram espaço para crescer entre os clientes. A disputa maior nesse “rouba monte” deve ocorrer nas operações de fusões e aquisições, justamente o segmento em que o BTG lidera não só no Brasil, mas também na América Latina.

Dados da consultoria Dealogic, compilados a pedido do GLOBO, mostram que a receita de todos os bancos de investimento no Brasil soma US$ 381 milhões no ano, um recuo de 48,5% em relação a 2014. A liderança é do BTG, que passou a ocupar a posição que era do Itaú BBA com uma receita de US$ 50 milhões, proveniente, principalmente, das operações de fusões e aquisições.

BANCO SUSPENDE EMPRÉSTIMOS

Além de estruturar essas operações, muitas vezes os bancos precisam entrar com suporte financeiro ao cliente. Isso ocorre, por exemplo, quando o banco faz um empréstimo a uma empresa enquanto a emissão de títulos da dívida (debêntures, notas promissórias) não é concluída. Em outros casos, a instituição financeira compra esses papéis caso não encontre investidores no mercado, chamado de garantia firme. Nos dois casos, é preciso capital, que no caso do BTG está sendo utilizado para outros fins: reforçar o caixa para mostrar aos clientes que tem como honrar todos os compromissos.

— Claro que temos esse capital, mas neste momento não estamos fazendo novas operações de garantia firme e empréstimo ponte para as empresas — afirmou uma fonte do banco.

Sem esse benefício, ficará mais fácil para os bancos de investimento e assessorias financeiras conquistarem os clientes que hoje estão com o BTG. A disputa maior, hoje, se dá na área de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês). No início de 2016, no entanto, essa competição deve envolver também as operações de emissão de dívida, uma vez que as empresas, já com os orçamentos de 2016 fechados, buscarão recursos para investimentos e rolagem de dívida.

— A agressividade maior vai ocorrer nas operações de M&A. Isso já começou. A partir de 2016, os bancos estão se preparando para buscar clientes que pretendem fazer emissões de dívida para cumprir as necessidades do orçamento — disse o diretor de um banco de investimento.

Segundo o sócio de um escritório de advocacia especializado em consultoria jurídica de fusões e aquisições, a redução da atividade do BTG nesse segmento abre oportunidades para outros:

— Na nossa visão, quem tem uma chave de ouro para atuar é o Bradesco. Ele é pouco expressivo nesse segmento, não aparece muito nas transações. Com o BTG menor nesse mercado, o Bradesco pode se aproveitar inclusive de profissionais especializados em fusões e aquisições, que deixarão de ver o BTG como o melhor lugar para atuar.

DISPUTA POR OPERAÇÃO DE FUSÃO

Profissionais do mercado financeiro avaliam que a atuação do BTG por meio dos fundos de private equity, que compram participação em outras empresas, será praticamente nula enquanto a crise persistir, o que abre espaço para instituições de menor porte.

Daniel Damiani, sócio da JK Capital, assessoria especializada em venda e compra de empresas com faturamento entre R$ 70 milhões e R$ 400 milhões, explica que, este ano, os bancos de investimento locais passaram a procurar também mandatos de fusões e aquisições envolvendo companhias de médio porte. Agora, com um grande competidor voltado para sua reorganização interna, ele acredita que poderá conquistar novos clientes.

— Essa situação do BTG abre espaço para uma maior competição. Como o mercado estava ruim, alguns grandes bancos estavam batendo na porta das mesmas empresas que nós. A saída de um competidor acaba sendo positiva para as assessorias mais voltadas para esse nicho — afirmou Damiani.

O executivo de uma instituição estrangeira lembra, no entanto, que os bancos de investimento vão observar alguns fatores antes de conquistar um cliente que esteja insatisfeito com a situação do BTG. Caso o mandato para a compra ou a venda de uma empresa já esteja em andamento, será necessário observar a cláusula de rescisão do contrato, que em geral tem prazo de um ano.

— É tudo caso a caso. Há uma questão de prazos e cláusulas que devem ser observadas e discutidas, porque ninguém vai querer arcar com uma demanda judicial — explicou.

‘BILHÕES JÁ SAÍRAM’

Além das operações no mercado de capitais, o BTG também vem sofrendo concorrência na área da gestão e administração de fundos. Desde o dia 25, têm sido grandes os pedidos de resgate dos clientes que possuem cotas nas carteiras da instituição. E, como ninguém vai deixar dinheiro parado, esses recursos estão indo para as mãos de outros gestores.

— Já foram bilhões que saíram, e esse dinheiro vai para algum lugar. Todas as grandes gestoras de recursos estão de olho nesses clientes — afirmou um profissional da unidade de asset de um grande banco.

Segundo profissionais do mercado financeiro, como é um evento que envolve perda de confiança, é natural que instituições mais tradicionais, e vistas como mais conservadoras, ganhem espaço, como é o caso de G3, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil. Em segundo plano, aparecem as gestoras independentes que têm produtos semelhantes aos do BTG, como JGP e SPX. Já no caso da administração de fundos, em que gestoras contratam esse serviço de instituições maiores, o processo já não é tão simples, já que é necessário fazer uma assembleia de cotistas para aprovar a mudança.

 

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Sete Brasil pode ir à Justiça contra Petrobras e BNDES

RAMONA ORDOÑEZ

Segundo fontes, empresa também estuda pedir recuperação judicial.

A Sete Brasil, empresa criada para viabilizar a construção no país de sondas para o pré-sal, estuda a possibilidade de entrar com um processo na Justiça contra a Petrobras e o próprio BNDES, além de apresentar um pedido de recuperação judicial. De acordo com uma fonte próxima, essas três medidas drásticas serão colocadas na mesa na próxima reunião do Conselho de Administração, prevista para ocorrer dentro de duas semanas.

O desespero dos sócios controladores é que há três meses a companhia tenta, sem sucesso, fechar um novo contrato de encomenda de sondas com a Petrobras. Pelo novo acordo, a Petrobras fecharia a contratação do afretamento (aluguel) de 15 sondas à Sete, contra as 28 anteriores.

A Petrobras, que teria chegado a um acordo com a Sete em agosto último, vem, contudo, fazendo uma série de exigências que dificultam a conclusão do acerto. Entre elas está a apresentação de um plano de reestruturação da Sete, como ficará a composição das companhias que vão operar as sondas e os prazos de entrega.

DÍVIDAS EM TORNO DE R$ 14 BI

O problema é que, sem receber o empréstimo de R$ 10 bilhões já aprovado pelo BNDES — cujas parcelas deveriam ter começado a ser liberadas em 2013 —, a Sete passou a ter sérios problemas de caixa. A empresa está com dívidas de cerca de R$ 14 bilhões com bancos credores e, em outubro de 2014, deixou de fazer os repasses aos cinco estaleiros que tinham recebido as encomendas das sondas.

Os problemas da Sete Brasil começaram com a divulgação do esquema de corrupção entre a Petrobras e seus fornecedores, revelado pela Operação LavaJato, da Polícia Federal. A petrolífera, com dificuldades de caixa, decidiu reduzir as encomendas de sondas. Ao mesmo tempo, a Sete teve seu nome citado nas investigações, e alguns de seus ex-executivos estão envolvidos no escândalo. Controladores de alguns dos estaleiros contratados também foram citados nas investigações.

A situação se agrava pelo fato de as primeiras sondas já estarem em fase adiantada de construção. A sonda Urca, que está sendo feita no Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, por exemplo, já está cerca de 90% pronta, enquanto a segunda está com cerca de 60% de suas obras concluídas, e a terceira, com 30%. Já no Estaleiro Jurong, a sonda Arpoador está praticamente pronta.

Procurada, a Sete Brasil não quis comentar o assunto.