O globo, n. 30082, 17/12/2015. País, p. 7

Protestos a favor de Dilma ocorrem em 25 estados

 

FERNANDA KRAKOVICS, SÉRGIO ROXO, LETÍCIA FERNANDES RENATA MARIZ

Manifestantes tomaram Avenida Paulista; no Rio, houve pedido de ‘Fora, Cunha’.

-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- Centrais sindicais, entidades civis e representantes de partidos políticos da base do governo foram às ruas, ontem, em pelo menos 25 estados e no Distrito Federal, num ato a favor do mandato da presidente Dilma Rousseff e contra o processo de impeachment. Segundo números da Polícia Militar, 51 mil pessoas participaram de protestos em todo o país. Já os organizadores estimam que o total de manifestantes foi de 287 mil.

No último domingo, numa manifestação a favor do impeachment de Dilma, 83 mil pessoas foram às ruas de pelo menos 87 cidades do país, segundo a PM. Já os organizadores falavam em 190 mil.

Além do apoio ao governo Dilma, manifestantes também pediram ontem o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e criticaram a política econômica. No Centro do Rio, grupos se concentraram na Cinelândia. De acordo com os organizadores, 6 mil pessoas participaram do ato. A Polícia Militar não divulgou a estimativa. Os manifestantes cantaram “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, hino de resistência à ditadura militar, e levantaram cartazes onde se liam “Eu não vou deixar ter golpe” e “Golpe, só de ar”. Houve queima de fogos.

— Quem vai decidir esse debate não é o Supremo, é o povo na rua — disse Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, da Frente Brasil Popular. MILITANTES DA CUT EM SP

Em São Paulo, o protesto era formado, na maioria, por militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com o mote “Não vai ter golpe”, os manifestantes chegaram a ocupar as duas vias da Avenida Paulista e usavam, em sua maior parte, camisetas vermelhas e coletes da central sindical.

A Secretaria de Segurança de São Paulo informou que 3 mil pessoas participaram do ato. O número destoa do divulgado pelo Instituto Datafolha, que calculou o público em 55 mil. A organização estimou entre de 70 mil a 100 mil.

O cozinheiro Ediel Brito, de 49 anos, carregava uma grande bandeira com as cores do movimento LGBT:

— Estou aqui para manifestar apoio à nossa presidente e pedir “Fora, Cunha!”. A postura autoritária dele é uma ameaça para nós, do movimento LGBT.

Dezenas de ônibus foram usados para levar as pessoas à região do Masp, onde aconteceu a concentração. O PT levou militantes de cidades do interior do estado. A deputada estadual Márcia Lia disse que havia veículos de Araraquara, Franca e Ribeirão Preto.

— Aqui está o povo. Domingo era só coxinha — disse Paulo Landim, de 56 anos, de Araraquara, referindo-se aos tucanos.

Presa no congestionamento por causa da manifestação, a química industrial Elvira Brito, de 54 anos, reclamou duplamente: por demorar para chegar em casa e por ver milhares de pessoas nas ruas defendendo a presidente.

— Com certeza, essas pessoas ganharam para estar aqui e foram trazidas. Elas não têm cara de que moram por aqui — afirmou Elvira, que esteve na Paulista no último domingo para protestar a favor do impeachment.

Organizada por vários movimentos sociais e com diversos carros de som, a manifestação não conseguia unificar um grito de guerra. Enquanto o grupo Mulheres pela Democracia tentava emplacar um grito “Não vai ter golpe. Fora, Cunha!”, um sindicalista discursava, ao mesmo tempo, no carro da Central dos Trabalhadores do Brasil. Eles comemoraram com entusiasmo, porém, quando foi anunciado que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia pedido o afastamento de Cunha.

— É excelente, e a minha expectativa é que o Supremo acolha. Vinha cobrando o afastamento do Eduardo Cunha — disse o ex-ministro Paulo Vannuchi, diretor do Instituto Lula.

Vannuchi disse ainda que em nenhum momento o ex-presidente Lula cogitou ir ao ato.

— Não teria a menor sensatez o Lula vir neste evento. A força desse evento está na amplitude dele. O Lula é hoje alvo de ataques. Ninguém está defendendo o Lula aqui. Estão fazendo a defesa da democracia. Aqui tem muita gente que é contra a Dilma, mas também é contra o impeachment.

Em Brasília, manifestantes se reuniram em frente ao estádio Mané Garrincha e caminharam até o Congresso Nacional. A marcha reuniu cerca de 2,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar do DF. Nas contas da organização, a soma ultrapassou os 10 mil. PT NÃO DEIXA PODER

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, presente no protesto de Brasília, disse ao GLOBO que os 13 anos de governos petistas não serão interrompidos por um “bando de golpistas”. Segundo ele, os atos organizados pela oposição a favor do impeachment de Dilma não vingaram porque as pessoas “se envergonham” de estar ao lado de nomes como o de Eduardo Cunha:

— O PT e movimentos sociais se mobilizaram contra o golpe, em defesa de um projeto de país. Não vai ter golpe.

Rui Falcão comentou também sobre o movimento de aliados do vice-presidente Michel Temer dentro do PMDB, de iniciar conversas sobre um eventual governo Temer. Ele evitou criticar o vice, mas afirmou que o papel dele é governar junto com a presidente. Falcão afirmou ainda que tem esperanças de que o ano de 2016 comece sem impeachment e com melhorias na economia.