Título: Último ato longe dos holofotes
Autor: Rothenburg, Denise; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2011, Política, p. 2

Novais passou o dia trancado no gabinete até a demissão, no fim da tarde. Procurador-geral da República estuda processar ex-ministro por improbidade administrativa

Constrangido, Pedro Novais evitou a entrada principal do Ministério do Turismo no último dia à frente do cargo de ministro. Usou a garagem, o elevador e a entrada privativos do prédio para chegar ao gabinete. Assessores insistiam que Novais tinha uma agenda extensa, até as 21h, um dia de trabalho como os anteriores. A pauta oficial, porém, não trazia nenhum compromisso. O ex-ministro passou as últimas horas no cargo enfurnado em sua sala, com uma pausa apenas para o almoço. O cardápio do dia foram as conversas travadas com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), principal responsável por sua indicação ao ministério. Os dois se falaram por telefone e, por volta de meio-dia, se encontraram no gabinete da pasta.

Às 17h, Novais seguiu para a Vice-Presidência, no Palácio do Planalto, onde selou seu destino com Michel Temer. Num breve encontro com a presidente Dilma, no início da noite, entregou uma carta de demissão de um parágrafo. "Cumpro o dever de pedir-lhe minha exoneração do cargo", escreveu.

No primeiro telefonema, Novais disse a Henrique Alves que não era o responsável por sua própria nomeação ao cargo de ministro do Turismo. "Eu não pedi para vir para cá. Então, vocês que terão de decidir por me tirar daqui." Enquanto o líder do PMDB estava reunido com a bancada do partido para discutir a substituição de Novais, o ex-ministro, por telefone, disse que não havia razão para deixar o cargo. Henrique Alves, então, foi até o ministério, na hora do almoço, para se encontrar com Novais. "Só há três motivos para eu sair: saúde, demissão pela presidente ou o líder do meu partido dizer que não dá." O líder do PMDB deixou claro: não existiam mais condições de permanência no governo.

Agora, o deputado federal Pedro Novais deverá ser investigado pelo Ministério Público Federal. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que deverá abrir um inquérito para investigar se há indícios de envolvimento do peemedebista com os desvios no Ministério do Turismo constatados durante a Operação Voucher. Gurgel destacou que Novais também poderá responder por ato de improbidade administrativa porque pagava uma governanta com dinheiro público e usava um motorista da Câmara para a prestação de serviços particulares.