Título: Gastão Vieira assume no lugar de Novais
Autor: Rothenburg, Denise; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2011, Política, p. 2

Deputado maranhense vence a disputa interna no partido depois de ter o currículo avalizado pelo titular da Agricultura, Mendes Ribeiro, o peemedebista mais próximo de Dilma

O deputado federal Gastão Vieira (PMDB-MA), 65 anos, assumirá o Ministério do Turismo no lugar de Pedro Novais, que deixou o cargo ontem. O nome foi decidido por volta das 22h30, após um longo dia de negociações entre o partido e o Palácio do Planalto. Pesou a favor do parlamentar maranhense a campanha feita pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, considerado o peemedebista mais próximo da presidente Dilma Rousseff, com uma amizade que remete aos tempos de luta contra a ditadura nos pampas gaúchos. Às 23h10, o Planalto confirmou a indicação, mas não informou detalhes sobre a posse.

A pressa do partido em escolher o sucessor foi estratégica: o receio era que a demora estragasse o fórum do partido marcado para hoje com o objetivo de enaltecer "a grandeza, a força e a unidade do PMDB". Gastão tem pouca afinidade com o setor de turismo, tendo tido sua carreira profissional e política ligada à área de educação. Com bom trânsito na família Sarney, ele é considerado mais próximo da governadora Roseana Sarney do que do presidente do Senado, José Sarney.

Ele venceu a disputa com o deputado Manoel Júnior (PB), outro nome apresentado pela bancada a Dilma. O parlamentar paraibano tinha dois problemas. Envolveu-se no escândalo das passagens aéreas da Câmara ao emitir um bilhete para uma viagem particular de São Paulo a Buenos Aires utilizando a cota de quarto suplente da Mesa da Câmara. Também teve as contas rejeitadas na época em que foi prefeito do município de Pedras de Fogo (PB) por convênios irregulares firmados com entidades federais.

Durante encontro com o vice-presidente da República, Michel Temer, Dilma foi explícita: não aceitaria um nome que realimentasse a crise no Ministério do Turismo. "Para ser ministro, tem que ter condições de explicar toda e qualquer denúncia envolvendo o próprio nome", avisou a presidente. A exemplo das pendências de Manoel, Novais também teve todas as denúncias envolvendo seu nome ligadas ao uso de verba da Câmara para custear despesas pessoais, como visitas a motel, motoristas para a mulher ou pagamento de salário para governanta.

A saída de Novais ocorreu após 36 dias sob fogo cerrado. No início da noite de ontem, ele entregou a carta de demissão, o que deflagrou a primeira crise interna no partido. O líder Henrique Eduardo Alves defendia o nome do deputado Marcelo Castro (PI) ¿ que já havia sido vetado pelo Planalto para o cargo de líder do governo no Congresso. Temer, contudo, tentou emplacar um nome de fora da bancada de deputados, como Moreira Franco (ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos), Paulo Hartung (ex-governador do Espírito Santo) e Geddel Vieira Lima (vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal).

Henrique bateu o pé. A partir de então, ele e o fiel aliado Eduardo Cunha começaram a trabalhar, internamente, por apoio ao nome de Marcelo Castro (PI). Como abriu-se uma disputa interna acirrada, a saída encontrada para evitar o vexame de um veto presidencial foi deixar a presidente livre para pinçar um nome da bancada.

A disputa pelo Turismo começou cedo entre os peemedebistas. Pela manhã, Alves se reuniu com os vice-líderes e pediu uma manifestação de solidariedade a Novais, que iria deixar o ministério. Eliseu Padilha (PMDB-RS) logo interveio: "Não, ele tem que ficar. A queda dele é a queda do PMDB".

Do Ceará, Mauro Benevides retrucou: "Não, a queda do PMDB é ele ficar". Danilo Forte, outro cearense, logo reclamou: "Quando foi indicado, eu fui contra a nomeação de Pedro assim como grande parte da bancada e...".

Foi prontamente interrompido pelo líder: "Isso não está em discussão", reagiu Alves, tentando chegar a um sucessor para levar a presidente Dilma. Sem um consenso sobre nomes, Henrique saiu da sala com a missão de dizer a Novais que a maioria do partido não garantiria a sua permanência no cargo. Somente naquele início de tarde o ministro percebeu que não tinha mais apoio.

Colaborou Diego Abreu

Perfil Deputado federal no quinto mandato e natural de São Luís (MA), Gastão Vieira, 65 anos, tem uma atuação destacada no Congresso na área de educação. Bacharel em direito pela Universidade Federal do Maranhão e mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), exerceu cargos de secretário no governo do Maranhão em duas ocasiões, com passagens pelas pastas de Planejamento e Educação. Até ontem, Vieira era titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Nas eleições de 2010, declarou um patrimônio R$ 421 mil.