Desemprego atinge 230 mil

Thiago Soares e Isa Stacciarini

26/11/2015

“Está cada dia mais difícil conseguir um emprego”, desabafa Renildo Brito, 30 anos. Há quase um ano, o morador de Ceilândia foi demitido da empresa para a qual trabalhou durante dois anos, como pedreiro nas obras do Expresso DF Sul. “As obras foram finalizadas e boa parte dos empregados foram desligados”, lembra. A situação dele é a mesma que a de muitos na capital do país. A taxa de desemprego total no Distrito Federal aumentou pela terceira vez consecutiva. Os últimos dados apontam que o índice passou de 14,6%, em setembro, para 15,1%, em outubro, atingindo 230 mil pessoas sem carteira assinada na localidade. O número representa 5 mil brasilienses a mais sem ocupação, em relação ao mês anterior.

O índice é o maior para o mês desde 2008, quando chegou a 16% na capital do país. Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego (PED) divulgados ontem pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O relatório também registra que, ao todo, 20 mil postos de trabalho foram fechados nos últimos três meses. O resultado é decorrente da saída 15 mil pessoas da População Economicamente Ativa (PEA), que representa aqueles que estão há 10 anos ou mais incorporados ao mercado de trabalho.
O aumento do desemprego nesse período é visto como preocupante, uma vez que é nessa temporada que há contratações temporárias no comércio. “Esperávamos a criação de vagas no comércio, mas a sinalização é de retração por parte dos empresários, em virtude da crise econômica, que começa a também apresentar o fechamento de vagas no DF”, disse o presidente da Codeplan, Lúcio Rennó. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF) estima que a contratação de trabalhadores temporários para atuar no comércio brasiliense durante o Natal será menor, em comparação com 2014. De acordo com levantamento feito pela entidade, 23,5% dos empresários farão contratações temporárias, enquanto no ano passado, na mesma época do ano, o índice era de 34,3%. “Os empresários estão desconfiados em relação à economia. Não sabem se contratam ou melhoram o estoque”, explicou o presidente da Fecomércio, Aldemir Santana.

O setor de serviços foi o que mais apresentou queda no número de postos de trabalhos, com a demissão de 13 mil pessoas. A indústria de transformação que abrange gráficas, bebidas e alimentação demitiu 6 mil trabalhadores e a administração pública exonerou 3 mil comissionados tanto no governo local, como o federal. “As pessoas estão dispensando alguns serviços e também deixando de consumir por medo de se endividarem no futuro em razão da crise econômica. No setor público, as reestruturações no governo também contribuíram para o índice de desemprego no DF”, justificou Rennó.

Para o secretário adjunto do Trabalho, Thiago Jarjour, a situação é preocupante devido ao momento de retração entre os empresários. “Temos tentado implementar um ambiente de empreendedorismo para que o desemprego não cresça muito por aqui. Esperamos que, no próximo mês, o desemprego caia um pouco com as contratações temporárias. Mas sabemos que não será como nos outros anos em que houve muitas vagas temporárias”, explicou.

Carteira assinada
Desempregados há um ano, Gidenaldo Pereira Lacerda Santos, 33 anos, e a mulher dele, Lucinete Lira de Sousa, 35, compareceram ontem à unidade da agência do Trabalhador, na Asa Sul, em busca de um novo emprego. Ele trabalha como pintor informal e ela, como empregada doméstica. Desde que foi demitida, não conseguiu assinar a carteira. “As coisas pioraram muito, pois fazemos um orçamento de pintura, mas ninguém quer pagar à vista e choram por desconto. Estou tentando procurar um emprego fixo, mas está muito difícil”, reclamou o pintor. “Temos três filhos e a situação está apertada”, desabafou Lucinete.

Correio braziliense, n. 19176 , 26/11/2015. Cidade, p. 27