Tucanos cobram a renúncia

Hédio Ferreira Júnior 

24/10/2015

A cúpula tucana do PSDB resolveu engrossar o tom do discurso pró-renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara dos Deputados. Enquanto partidos de oposição se mobilizam para tentar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) defenda a saída do peemedebista junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso disparou que Cunha não tem mais condições morais e políticas de continuar exercendo o cargo.
 
"Se ele tivesse um pouco mais de visão de Brasil, renunciaria. Não tendo, vai ter que ser renunciado", afirmou durante evento do partido em São Paulo. Eduardo Cunha é acusado pelo Ministério Público de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato e suspeito de manter contas não declaradas na Suíça.
 
Em seguida foi a vez do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), defender a destituição de Cunha - os tucanos avaliam, em conjunto com outras legendas, quais medidas serão adotadas para afastá-lo do poder. "O presidente não tem mais condições de conduzir a Câmara dos Deputados", afirmou.
 
Em prol do movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, a bancada do PSDB na Câmara apoiava Eduardo Cunha. No início de outubro, decidiu se afastar do peemedebista por considerar que a situação estava ficando insustentável. Na semana passada, tucanos e dezenas de deputados de outras legendas viraram de costas para o plenário e saíram em conjunto do plenário, obstruindo a sessão - encerrada logo depois.
 
Dia de pressão
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que hoje deve ser um dia ação dentro e fora da Câmara para forçar a saída de Eduardo Cunha. Ele cobrou do PSDB e do DEM que repitam o protesto de obstrução da pauta - a fim de demonstrar a inviabilidade de sua liderança -e, junto com os petistas, não cedam às pressões de "chantagem" feitas para a instauração do processo de impeachment no Congresso. "É preciso que o governo e o PT entendam que a desmoralização do Congresso nacional é a desmoralização deles também."
 
Hoje à tarde, a deputada Eliziane Gama (Rede-MA) entregará ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma representação de pedido de afastamento de Cunha. O conteúdo do documento deve ser corroborado por outras legendas, como o PSol e PPS.
 
Durante seminário sobre meio ambiente organizado pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em São Paulo, Fernando Henrique criticou a falta de uma agenda política que tire o país do atual cenário de crise. Sem citar nominalmente a presidente Dilma Rousseff, ele cobrou foco do governo. "Se o chefe do Executivo não se empenha, as coisas não andam, se não há agenda, as coisas não funcionam." Sentado ao lado de Aécio Neves na mesa principal do evento, o ex-presidente ainda completou: "Quem tem que resolver tudo isso é o Aécio", numa referência à sucessão presidencial.
 
O evento, cujo tema eram os caminhos para o Brasil na área da sustentabilidade e do meio ambiente, contou também com a participação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Por questões de agenda, Alckmin participou rapidamente da abertura do seminário e deixou o local antes do afago feito por Fernando Henrique a Aécio.
 
Correio braziliense, n. 19174 , 24/11/2015. Política, p. 3