O globo, n. 30080, 15/12/2015. País, p. 4

Fiesp consulta industriais e diz apoiar o impedimento de Dilma

 

MARIANA SANCHES

Dos empresários ouvidos em pesquisa, 91% são a favor da saída da presidente.

“Pela situação a que chegamos na economia, com esta crise política causada pela falta de credibilidade do governo, o país à deriva”
Paulo Skaf
Presidente da Fiesp

-SÃO PAULO- O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que é filiado ao PMDB, anunciou ontem que tanto a federação quanto o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) são a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. É a primeira vez que duas das principais entidades de classe do empresariado no Brasil se posicionam em bloco e oficialmente sobre o processo de impedimento de um presidente.

Paulo Skaf afirmou que a posição foi adotada com base em uma pesquisa de opinião feita pela Fiesp junto a 1.113 donos ou gestores de indústrias de São Paulo, ouvidos entre os dias 9 e 11 de dezembro. O levantamento mostrou que 91% dos entrevistados são a favor do impedimento de Dilma, 5,9% são contrários e 3,1% não responderam.

AMPLA MAIORIA

Quando perguntados sobre o posicionamento oficial da sua empresa, 85,4% disseram que a companhia é favorável ao impeachment e 4,9% são contrárias. O entrevistado não soube informar o posicionamento da empresa em 9,7% dos casos. Em relação à Fiesp, 91,9% disseram que a entidade tem que se posicionar sobre a questão, enquanto 8,1% opinaram que não.

— Por esta situação a que chegamos na economia, e com esta crise política causada pela total falta de credibilidade do governo, de investimentos parados, o país à deriva, o que nós observamos por parte da senhora presidente não é uma atitude no sentido de solucionar, no sentido de reduzir gastos, de reduzir desperdício. Pelo contrário. É a vontade de aumentar os impostos, penalizando mais ainda a sociedade, as empresas, a competitividade, as pessoas. Então somos a favor do andamento do processo de impeachment — justificou Skaf, pouco depois da tomada de decisão unânime dos conselheiros das duas entidades.

A sondagem foi feita pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp e da Ciesp, que distribuiu cerca de 8.395 questionários para empresas cadastradas e contabilizou as respostas. A amostra da pesquisa é composta por 73% de empresas pequenas, 22% de médias e 5% de grandes, e não expressa exatamente a distribuição pelo porte das empresas de São Paulo.

A federação, que representa 153 mil indústrias paulistas, já vinha criticando abertamente a política econômica da gestão Dilma, inclusive com a veiculação de anúncios em jornais com os nomes e contatos de deputados federais que se posicionaram a favor da recriação da CPMF, defendida pela gestão petista.

RELACIONAMENTO COM TEMER

Skaf mantém um relacionamento próximo com o vicepresidente Michel Temer, também do PMDB, que herdará a cadeira presidencial caso Dilma seja impedida.

A decisão foi considerada “histórica” por Skaf e contrasta com o posicionamento da entidade em 1992, durante o processo de impeachment de Collor. Naquela ocasião, a Fiesp não tomou partido. Na antevéspera da votação na Câmara que abriu procedimento contra o então presidente, o recém-empossado presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, disse que apoiava pessoalmente a cassação de Collor, mas que não falava oficialmente pela entidade.

Agora a decisão é tomada com antecedência em relação ao desfecho do processo contra a petista. Essa, no entanto, não é a primeira vez em que a Fiesp adota um posicionamento político. Na eleição de 1989, o então presidente da instituição, Mário Amato, disse que, se o candidato a presidente Lula vencesse o pleito, haveria um êxodo de 800 mil empresários do país.

Embora tenha anunciado a decisão de dar força ao impeachment, Skaf não explicou como a entidade pretende agir. Tampouco esclareceu se a Fiesp pedirá a saída do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, alvo de denúncias de corrupção.