O globo, n. 30080, 15/12/2015. País, p. 8

‘Bumlai é operador do PT’, diz procurador

 

RENATO ONOFRE

Pecuarista amigo do ex-presidente Lula, Vaccari e outros nove foram indiciados; Moro condena sócio da Engevix a 19 anos.

O Ministério Público Federal denunciou o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e mais nove pessoas por corrupção. Segundo a Lava-Jato, Bumlai participou de desvio de R$ 18 milhões da Petrobras, envolvendo o Banco Schahim, para favorecer o PT. -CURITIBA- No mesmo dia em que foi denunciado pelo Ministério Público, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, foi apontado ontem pelos procuradores como mais um operador do PT no esquema de corrupção da Petrobras. Na fase em que se investiga o esquema envolvendo o Banco Schahim, além de Bumlai, também foi denunciado ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e mais nove pessoas. De acordo com as investigações, a corrupção no esquema foi de R$ 18 milhões e serviu para abastecer os cofres do PT através de empréstimos fraudulentos. O MPF pede a reparação mínima de R$ 53,5 milhões aos cofres da Petrobras.

O pecuarista foi preso no dia 28 de novembro durante a 21ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Passe Livre, em alusão ao livre acesso que ele tinha ao Palácio do Planalto durante os dois mandatos do ex-presidente Lula.

— Bumlai nada mais é do que operador de um partido político. Ele é operador do Partido dos Trabalhadores — afirmou o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato.

É a primeira denúncia contra Bumlai na Operação Lava-Jato. Além de intermediar empréstimos ao PT, o pecuarista teria pedido ao lobista Fernando Baiano o pagamento de R$ 2 milhões para quitar uma dívida relacionada a uma nora do ex-presidente Lula. A informação consta da delação premiada de Baiano, mas não faz parte da denúncia apresentada pelo MPF.

Na sexta, a PF havia indiciado o pecuarista. Além de Bumlai e Vaccari, foram indiciados o filho do pecuarista Mauricio de Barros Bumlai, sua nora, Cristiane Barbosa Dodero Bumlai, Nestor Cerveró e Jorge Zelada, ex-diretores da área Internacional da Petrobras, o ex-gerente da estatal Eduardo Musa, e os executivos do Banco Schahin: Salim Schahin, Milton Schahin e Fernando Schahin. O lobista Fernando Baiano também foi denunciado.

De acordo com o MPF, o esquema de corrupção ocorreu em três momentos. O primeiro foi em outubro de 2004. Bumlai avalizou, junto ao Banco Schahin, um empréstimo de R$ 12 milhões para o PT. Os investigadores afirmam que a operação financeira não tinha lastro e garantia real. Depois, o empréstimo foi renovado diversas vezes para tentar dar caráter legal à transação. Por último ocorreu um falso pagamento através de supostas transações envolvendo embriões bovinos. Em troca, o Grupo Schahin conseguiu contratos com a Petrobras.

Em nota, os advogados de Bumlai dizem que é “temerária a apresentação de acusação formal contra quem não foi ouvido, especialmente, quando novos esclarecimentos poderiam contribuir para o esclarecimento da verdade”.

Ontem, o juiz Sérgio Moro condenou Gerson de Mello Almada, sócio e ex-vicepresidente da Engevix, a 19 anos de prisão por corrupção ativa, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Almada havia sido preso em novembro de 2014, e cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica desde abril passado. Com a condenação de Almada, chega a 17 número de dirigentes de empreiteiras condenados na Lava-Jato — seis da OAS, três da Camargo Corrêa, três da Mendes Junior e três da Galvão Engenharia — todos presos na 7ª Fase —, além de Augusto Mendonça Neto, dono do grupo Setal.

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OAB e juízes federais saem em defesa de ministro do STJ

 
ANDRÉ DE SOUZA

Relator dos processos da Lava-Jato, Ribeiro Dantas tem votado a favor da liberdade de presos.

-BRASÍLIA- A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e juízes federais de seis estados do Nordeste saíram em defesa do ministro Ribeiro Dantas, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Relator de processos da Operação Lava-Jato no STJ, ele foi criticado por ter votado a favor da liberdade de vários presos que estão sendo investigados, entre eles executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez. Em troca, propôs a adoção de medidas restritivas, como o uso de tornozeleiras eletrônicas e a entrega dos passaportes. Até agora, Ribeiro Dantas tem sido voto vencido, com os demais ministros da Quinta Turma do STJ preferindo manter a prisão.

A nota da OAB destaca que o Estado de Direito precisa de juízes independentes e que Ribeiro Dantas tem uma trajetória na magistratura marcada pela competência e pela dignidade. “O juiz não é melhor ou pior quando julga a matéria em determinada direção. Ele cumpre a sua missão ao julgá-la de acordo com a sua livre convicção”, diz trecho da nota assinada pelo presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho. “Não é saudável para a democracia que um juiz sofra atentado a sua honra, de modo injusto, em decorrência de um julgamento proferido, seja em que sentido for. A OAB possui entre suas missões a defesa do Estado de Direito, alicerçada em julgamentos imparciais e sem pressões. Não é tolerável, neste sentido, que um juiz seja agredido pelo defeito de ter julgado por suas convicções”, diz outro trecho da nota. AJUFE: INDEPENDÊNCIA A nota da Ajufe, assinada pelo presidente Antônio César Bochenek, subscreve notas de solidariedade de juízes federais da 5ª Região da Justiça Federal (que abrange os estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará), de onde Ribeiro Dantas é egresso. Na nota, a Ajufe “refuta qualquer tentativa de redução da independência dos juízes brasileiros, bem como de valores democráticos e da liberdade”.