O globo, n. 30080, 15/12/2015. Opinião, p. 18

Aumenta consciência do aquecimento global

 

COP-21 representa passo importante na luta contra as emissões de CO2, ao obter o reconhecimento de 195 países sobre a gravidade do problema.

Despida do pessimismo exagerado de grupos ambientalistas e do otimismo apressado de alguns líderes, quando se examina a conferência do clima de Paris à luz de resultados concretos, fica claro que a COP-21 trouxe avanços substanciais na luta contra o aquecimento global. O mais importante deles certamente foi a conscientização acerca dos riscos que o aumento da temperatura na Terra representa ao futuro da Humanidade, e o papel do homem neste processo.

Sem esse reconhecimento, qualquer iniciativa para conter o aumento da temperatura a 2ºC neste século — meta da conferência — correria o risco de não obter o compromisso dos países ou não ter a abrangência necessária para efetivamente funcionar.

Mas, além desse importante passo, houve igualmente avanços concretos. Os representantes das 195 nações que articularam o acordo do clima, após 14 dias de reuniões e tensas negociações, decidiram, por exemplo, que todos os países deverão estabelecer um teto para suas emissões de monóxido de carbono (CO2) “o mais rapidamente possível”.

As nações desenvolvidas terão que fazer isso primeiro, concedendo aos países pobres e em desenvolvimento mais tempo para se adaptarem ao complexo e caro processo de substituição de matrizes energéticas e industriais. Os países com menos recursos e em piores condições econômicas poderão ainda receber uma ajuda internacional das nações desenvolvidas. O compromisso prevê que até 2025 sejam mobilizados US$ 100 bilhões anuais, embora não esteja descartada uma revisão para cima antes deste ano.

A injeção de recursos é necessária sobretudo para as nações pobres que terão que fazer uma transição de fontes sujas de energia, como combustíveis fósseis, para outras mais limpas. Este desafio é especialmente grande numa conjuntura de queda de preços do petróleo, o que torna seu consumo mais atraente.

Outro importante instrumento de controle do acordo é a criação de relatórios de acompanhamento de programas nacionais de redução de emissões. Estes foram divididos em três categorias: países desenvolvidos, emergentes e pobres, com o nível de exigência decrescendo dos primeiros aos últimos.

Merece destaque a boa participação do Brasil na COP-21, especialmente o papel de facilitadora desempenhado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira, a pedido da presidência francesa da cúpula.

As negociações vararam a madrugada e quase fracassaram, em alguns momentos. Mas o esforço valeu a pena, sobretudo quando se examinam fracassos anteriores, como a conferência de Copenhague, em 2009, na qual vários países sequer reconheciam a gravidade do aquecimento global. Essa dúvida foi definitivamente enterrada em Paris.