Para Fazenda, problema de crédito é 'pontual'

 

Lorenna Rodrigues

O Estado de São Paulo, n. 44590, 17/11/2015. Economia, p. B4

 

O Ministério da Fazenda avalia adotar novas medidas para facilitar e estimular a concessão de crédito no Brasil em segmentos em que foram detectados problemas. Estão em estudo ações para melhorar a oferta de linhas de financiamento de curto prazo, como para capital de giro, e para ampliar o financiamento privado para a infraestrutura. Além disso, estão sendo discutidas medidas para ajudar a indústria em 2016, principalmente a de base.

A avaliação do ministro Joaquim Levy é que não há um problema de crédito na economia brasileira, mas sim gargalos e questões pontuais que poderão ser melhorados, como essa questão do capital de giro para as empresas. Domingo, na Turquia - onde participou de reunião do G-20 -, Levy enfatizou esse pensamento e afirmou que o problema não é falta de financiamentos, mas de demanda retraída. "A situação de hoje é distinta de 2008. Não há problema de oferta de crédito. O problema é a normalização da economia. É preciso estabelecer as condições de demanda", disse.

O ministro vem sendo pressionado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e por setores do governo a mostrar um caminho para o aumento do crédito, que podería estimular a economia. Mas, de acordo com fontes do ministério, ele entende que já vinham sendo tomadas medidas para estimular os financiamentos, como, por exemplo, a liberação de R$ 22,5 bilhões em depósitos compulsórios para financiamento imobiliário, em maio, a facilitação para bancos pequenos e médios captarem recursos, em setembro, e o alongamento dos prazos para pedidos de financiamento dentro do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, na semana passada.

O entendimento é que essa é uma área que está sendo sempre monitorada e novas medidas poderão ser adotadas. "Fizemos vários movimentos já e estamos estudando outros", afirmou a fonte. "Essa é uma área que o ministro acha que tem de estar avaliando o tempo todo e ir tomando medidas."

Medidas. Uma das maiores preocupações na pasta é o fato de os bancos não estarem renovando linhas de curto prazo, próprias para capital de giro. Mas o diagnóstico é que isso se deve às incertezas da economia, não à falta de recursos.

A Fazenda também acompanha a liberação de recursos dento do Finame,do BNDES, incluindo os gastos com cartão corporativo, que desaceleraram."Sempre há a possibilidade de adotar medidas com impacto no crédito."

Levy também está conversando com a indústria, principalmente a de máquinas pesadas o ministro recebeu na semana passada o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza. De acordo com a fonte, a preocupação é "preparar 2016".

Em outra frente, as conversas sobre o Plano Safra serão abertas assim que forem resolvidos os R$ 10 bilhões em subsídios atrasados para o programa.

O desafio agora é adotar medidas com impacto na concessão do crédito, mas que tenham "coerência" com a política monetária e a questão fiscal atual.

O Ministério da Fazenda e Banco Central discutem mudanças pontuais, mas conversas estão sendo feitas com cuidado, para que as ações não pressionem a taxa de juros e a dívida pública. No fim de outubro, reportagem do Estado mostrou que o governo estava estudando, com cautela, medidas para facilitar o crédito e aquecer a demanda.

Segundo a fonte, o ministério acha fundamental a ampliação de crédito privado e uma das medidas adotadas nesse sentido foi a flexibilização de regras de investimentos para previdência complementar aberta, anunciada na sexta-feira passada. Uma das medidas foi a criação de um limite adicional de aporte em projetos ligados ainfraestrutura. O objetivo da medida é aumentar a destinação desses recursos para a área, o que aumentará o crédito disponível para o setor.

 

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Cenário

"A situação de hoje é distinta de 2008. Não há problema de oferta de crédito. O problema é a normalização da economia."

Joaquim Levy

MINISTRO DA FAZENDA