Resistir ao medo é a melhor resposta ao terrorismo

 

Paul Krugman / NYT

O Estado de São Paulo, n. 44590, 17/11/2015. Internacional, p. A13

 

Como milhões de pessoas, acompanhei obsessivamente as notícias de Paris, deixando de lado outros assuntos para me concentrar no horror. É uma reação humana natural. Mas sejamos claros: é a reação desejada pelos terroristas, o que nem todos parecem entender. Por exemplo, a declaração de Jeb Bush, de que “essa é uma tentativa de destruir a civilização ocidental”. Não é. Trata-se de uma tentativa de disseminar o pânico, o que não é a mesma coisa. Observações como a dele fazem com que os terroristas pareçam mais poderosos do que são e contribuem para a causa jihadista.

Reflita sobre o que a França é e o que ela representa. O país tem seus problemas – e que nação não tem? Mas é democracia robusta, com uma legitimidade sem limites. Seu orçamento para a defesa é pequeno comparado ao americano, mas o país possuí um Exército poderoso e tem recursos para torná-lo muito mais forte se o desejar.

O país não vai ser conquistado pelo Estado Islâmico, nem agora e nem nunca. Destruir a civilização ocidental? Sem chances.

Então, para que serviram os atentados de sexta-feira? Matar pessoas aleatoriamente em bares e shows e urna estratégia que reflete a fraqueza daqueles que perpetraram os ataques. Eles não estabelecerão um califado em Paris, mas conseguirão espalhar o medo. Por isso, chamamos de terrorismo e não deve ser enobrecido com o nome de “guerra”. Meu argumento não é para diminuir a importância do horror, mas enfatizar que o perigo não decorre dos danos diretos que ocasiona, mas das respostas equivocadas que inspira. E é crucial entender que existem múltiplas maneiras de a resposta dar errado.

Certamente seria péssimo se a França e outras democracias respondessem ao terrorismo tentando apaziguar a situação. Se, por exemplo, os franceses se retirassem da campanha contra 0 EI na esperança de os jihadistas os deixarem em paz. E não diria que não existem apaziguadores neste caso. Na verdade, há pessoas que acreditam que o imperialismo ocidental seja a raiz de todo o mal e tudo seria solucionado se deixássemos de nos intrometer. Mas exemplos de políticos tradicionais e governos que cedem as demandas terroristas são difíceis de encontrar. Na política, um risco muito maior é de que os alvos do terrorismo tentam estabelecer urna segurança perfeita, eliminando todas as ameaças concebíveis.

Essa resposta, inevitavelmente, só vai piorar as coisas. Vivemos em um mundo complicado e mesmo as superpotências não conseguem solucionar tudo. Em 11 de setembro de 2001, Donald Rumsfeld disse a seus assessores: “Vasculhem tudo. Relacionado ou não” e imediatamente sugeriu que o atentado fosse usado como desculpa para invadir o Iraque. O resultado foi urna guerra desastrosa que fortaleceu os terroristas e abriu caminho para a ascensão do EI. Sejamos claros: não foi apenas um erro. As pessoas, de fato, exploram o terrorismo para obter ganhos políticos. Independentemente do que Ted Cruz pensa, acabar com nossa relutância em matar civis inocentes não eliminaria os limites impostos ao poder americano. Mas seria ótimo para o recrutamento terrorista.

Finalmente, o terrorismo é apenas um dos muitos perigos enfrentados pelo mundo e não deve desviar nossa atenção de outros. Quando Obama descreve a mudança climática como a maior ameaça que enfrentamos, ele esta corretíssimo. O terrorismo não pode e não destruiu nossa civilização, mas o aquecimento global sim.

Assim, como responder ao terrorismo? Antes das atrocidades em Paris, a resposta do Ocidente era uma combinação de ações policiais, precaução e ação militar. Tudo isso na tentativa de encontrar uma solução intermediária entre vigilância e privacidade, proteção e liberdade de movimento, negar refugio a terroristas frente aos custos e riscos de travar uma guerra no exterior. E sempre esteve claro que, em algum momento, um ataque terrorista poderia ocorrer.

Paris pode ter mudado essa avaliação, especialmente no que se refere ao tratamento dos refugiados pela Europa, problema que agora ficou ainda mais tenso. Será preciso descobrir porque um complô planejado não foi detectado. Mas isso lembra todos os pronunciamentos de que o 11 de Setembro mudaria tudo. Pois bem, não mudou – e tampouco essa atrocidade mudara. Insisto: o objetivo dos terroristas é inspirar o terror porque é só disto que são capazes. O mais importante é que nossas sociedades se recusem a ceder ao medo! TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO