O globo, n. 30041, 06/11/2015. País, p. 10

‘Não temo ser preso’, diz Lula sobre investigações

 
SERGIO ROXO

Ex-presidente afirma que nunca soube de corrupção na Petrobras.

Em entrevista, o expresidente Lula negou ter tido conversas sobre ilícitos com empresários e disse não temer ser preso. -SÃO PAULO E BRASÍLIA- Ao negar relações ilícitas com empresários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não teme ser preso. Ele declarou que, quando governou o país, nunca foi avisado que havia corruptos na Petrobras:

— Não temo ser preso porque eu duvido que tenha alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande, que diga que um dia teve conversa ilícita comigo — disse o ex-presidente, em entrevista ao “SBT Brasil”.

O ex-presidente acrescentou que tem a “consciência tranquila” e que as acusações contra ele e pessoas próximas são um “problema político”. E criticou as informações divulgadas sobre as investigações:

— Todas as instituições, que são fortes e poderosas, têm que ter muita responsabilidade. É preciso cuidar para não criar uma imagem negativa de uma pessoa. Estamos vivendo a República da suspeição.

“EU NÃO FUI ALERTADO” Ao ser indagado se não sabia do escândalo de corrupção na Petrobras, como fez em relação ao mensalão, respondeu:

— Eu não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, não fui alertado pela Polícia Federal, não fui alertado pela Receita Federal ou pelo Ministério Público. Sou o presidente que mais visitou a Petrobras. Nunca ninguém me disse que tinha algum corrupto. Essa coisa você só descobre quando a quadrilha cai ou quando alguém denuncia. Quantas coisas acontecem dentro da sua casa com seus filhos que você não sabe? — disse o ex-presidente.

Ao ser questionado se o pecuarista José Carlos Bumlai pode ter usado o seu nome para facilitar negócios, disse:

— Se ele teve situação indevida, vai ficar provado.

O petista também se queixou de informações na internet sobre o enriquecimento de seu filho Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha.

— Na internet, ele tem avião, a Torre Eiffel, a Casa Branca, todos os bois da Friboi.

Também criticou os delatores da Operação Lava-Jato:

— Nem tudo que o delator fala tem veracidade. É preciso que a gente não dê voto de confiança a um bandido e um voto de desconfiança a um inocente.

Lula ainda foi perguntado sobre os ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o acusou de apelar ao “toma lá, dá cá” quando estava no poder.

— O Fernando Henrique Cardoso, toda vez que ele tiver que falar de corrupção, tem que lembrar da (aprovação da emenda da) reeleição de 1997.

LULA DISCORDA DE CRIAÇÃO DE IMPOSTO

O ex-presidente também disse que, se estivesse no governo, seguiria um caminho diferente do escolhido pela presidente Dilma Rousseff, que optou pela criação de imposto, com a volta da CPMF, para tirar o país da crise. — Eu faria crédito. Para o petista, o governo de Dilma errou ao exagerar na desoneração de setores da economia.

Lula também participou ontem da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional em Brasília, onde afirmou que poderá voltar a concorrer em 2018, se os adversários quiserem acabar com conquistas dos governos do PT.

— Estão dando de barato que a Dilma acabou, e agora vamos acabar com Lula porque esse tal de Lula não pode voltar em 2018. Já tenho 70 anos, estou na terceira idade, mas com aparência de 35 anos. (Colaborou Simone Iglesias)

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Acareação pode anular delação, diz delegado

 
CLEIDE CARVALHO*

Um dos delatores mente, diz PF; benefício de Costa ou de Baiano pode ser anulado.

-CURITIBA- O delegado Igor Romário de Paula, da Polícia Federal, disse que um dos delatores da Lava-Jato — Fernando Soares, o Fernando Baiano, ou Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras — poderá perder os benefícios obtidos com a cooperação, caso se comprove que está mentindo.

Baiano e Costa foram postos frente à frente, ontem, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, em acareação feita por Igor de Paula.

— Não sei se será possível blindar as duas colaborações premiadas — disse o delegado, para quem “um dos dois está errado”.

Uma das principais divergências seria uma suposta liberação de R$ 2 milhões à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, feita a pedido do ex-ministro Antonio Palloci. O delegado disse que as contradições põem em xeque os depoimentos dos dois.

Segundo o delegado, após a acareação, a Polícia Federal fará um relatório a ser anexado às investigações. Ele explicou que é comum delatores ocultarem uma ou outra informação, mas, nesse caso, as versões são “gritantes”. Um desses casos seria o pedido de Palocci para a campanha de Dilma. Costa disse que autorizou o doleiro Alberto Youssef a fazer o pagamento, tirando o valor da cota do PP. Youssef, na CPI da Petrobras, disse que quem fez a transação foi Baiano.

Até o fechamento desta edição, a acareação, que começou às 15h, não havia terminado. A expectativa é que os dois delatores mantenham suas versões. Além da suposta doação, há dúvidas sobre os pagamentos feitos a políticos, o suposto pagamento de propina pela empreiteira Odebrecht e o papel de Baiano como lobista como operador do PMDB.

O advogado de Baiano, Sérgio Riera, disse que o delator é punido caso se comprove uma mentira. (*Enviada especial)