O globo, n. 30040, 05/11/2015. País, p. 4

Ligado ao PDT, médico comandará os Correios

 
SIMONE IGLESIAS 

Com troca, governo quer assegurar apoio no Congresso.

-BRASÍLIA- O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, será exonerado nos próximos dias para dar lugar ao ex-deputado paraense Giovanni Queiroz, escolhido pelo PDT. Pinheiro foi comunicado ontem de manhã da demissão pelo ministro das Comunicações, o pedetista André Figueiredo. Sua saída e a nomeação de Queiroz estão na Casa Civil e serão efetivadas até o fim desta semana.

Médico de formação, Giovanni Queiroz foi deputado por cinco mandatos pelo PDT do Pará e teve ação voltada à agropecuária e ao agronegócio. Hoje, é secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, que era comandado pelo PDT até a reforma ministerial do mês passado.

Queiroz assumirá o posto de Pinheiro, que preside os Correios desde 2011. No governo Lula, comandou por oito anos o Fundo de Pensão da Petrobras (Petros). Ligado ao PT de São Paulo, à Central Única dos Trabalhadores e ao Sindicato dos Bancários e amigo do expresidente, Pinheiro foi um dos coordenadores da equipe de transição dos governo FH e Lula em 2002.

PIVÔ DO MENSALÃO

Quando o PDT negociou com Dilma a troca do Ministério do Trabalho pelas Comunicações, na reforma ministerial, exigiu os principais cargos ligados à pasta. No Ministério do Trabalho desde o governo Lula, os pedetistas reclamavam da perda de poder e do esvaziamento da pasta para ministérios chefiados por petistas.

O PDT esteve no comando dos Correios no primeiro ano do governo Lula, em 2003, quando o deputado Miro Teixeira, ainda filiado ao partido, foi ministro das Comunicações. Airton Dipp presidiu a estatal até 2004, quando a empresa passou ao controle do PMDB. Em 2005, uma denúncia de pedido de propina na estatal deflagrou a crise do mensalão.

O então funcionário da empresa Maurício Marinho foi gravado negociando propina com um empresário interessado numa licitação. Marinho seria ligado ao então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson. A partir das denúncias, Jefferson partiu para o ataque e denunciou a existência do mensalão, o que levou à criação da CPI dos Correios no Congresso Nacional.

Avessa às pressões partidárias, a presidente Dilma Rousseff mudou de postura na última reforma ministerial, cedendo a exigências dos aliados, em troca de apoio aos projetos de interesse do governo no Congresso e de votos contra um eventual pedido de impeachment. Além de dar ministérios de “porteira fechada”, fez trocas difíceis em seu ministério: tirou seu braçodireito, Aloizio Mercadante, da Casa Civil, para que Jaques Wagner a assumisse; e entregou a dois deputados peemedebistas, Marcelo Castro e Celso Pansera os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia.

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Adiada votação de projeto que repatria recursos

 

Temendo derrota, governo pede à base que tema seja apreciado na terça.

-BRASÍLIA- Inseguro em relação ao apoio da base aliada para aprovar o projeto que permite a repatriação de recursos não declarados mantidos por brasileiros no exterior, o governo pediu adiamento da votação para a próxima terça-feira. As bancadas governistas estão divididas quanto ao apoio.

Embora o relator, deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), tenha retirado do relatório final do projeto a anistia aos crimes de caixa dois e associação criminosa, o crime de descaminho foi mantido. Apesar de originalmente a proposta ter sido formulada pelo governo, com o argumento que só recursos fruto de atividades legais poderiam ser repatriados, a anistia à sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro é polêmica.

— Não é simples votar um projeto desses. Num momento como o que o país vive, é muito ruim — resumiu o deputado Arthur Lira (PP-AL).

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), disse que há resistências nas bancadas. Ele espera que até a semana que vem as discussões avancem e se vote a repatriação. A sessão foi tumultuada pelas manifestações da oposição contrárias à proposta. Para o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), aprovar a repatriação é um “tapa na cara” das pessoas.

— É um deboche, um desacato a quem enfrentou a burocracia brasileira, garantiu emprego, quebrou e manteve seu dinheiro no país — disse.

A Procuradoria-Geral da República se manifestou ontem contra o projeto de repatriação. Em nota técnica, a Secretaria de Relações Institucionais da PGR diz que a adoção do programa voluntário de regularização fiscal, neste momento, “não é oportuna” e sugere “aos nobres parlamentares a rejeição da matéria”. O PSOL tinha pedido uma análise do projeto à PGR.